Alisher Usmanov, Petr Aven e Viktor Rashnikov. Quando esta quarta-feira se reunirem, os embaixadores dos 27 vão necessariamente ter de se debruçar sobre estes três oligarcas russos, que a Hungria solicitou que fossem excluídos da lista de sanções aprovada há cerca de seis meses — e que até 15 de setembro tem de ser revalidada, por uma questão formal.

Apesar de a extensão das sanções à Rússia não estar sequer na agenda, diz o Politico, a discussão do assunto será inevitável, tal é a “indignação” que as exigências por parte do governo de Viktor Órban têm provocado.

De acordo com o site, que cita quatro diplomatas da União Europeia, sob anonimato, o primeiro-ministro Viktor Órban, conhecido aliado de Vladimir Putin, ameaçou inviabilizar a renovação das sanções (que tem de ser decidida por unanimidade, já que todos os países têm direito de veto) caso estes três oligarcas russos não sejam retirados da lista.

Esta terça-feira, como que a confirmar a exigência, que não foi assumida de forma oficial, Zoltán Kovács, o porta-voz do primeiro-ministro húngaro, escreveu no Twitter que as listas de sanções “estão constantemente sob revisão, e por diversas ocasiões surge a preocupação de que a inclusão de determinadas pessoas ou entidades não esteja suficientemente justificada”.

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Logo a seguir, noutro tweet, Kovács contrabalançou o discurso e assumiu: “Contudo, a decisão será tomada em conjunto e é muito provável que o âmbito das listas de sanções seja revalidado”.

De acordo com o Politico, este pedido por parte da Hungria “enfureceu” os restantes países da UE, sobretudo porque, além da retirada dos três nomes, Órban terá solicitado pelo menos mais uma exceção às sanções — o levantamento em casos de ajuda humanitária —, mas também porque as memórias dos bloqueios impostos pelo país nos últimos meses à tomada de medidas contra a Rússia estão ainda demasiado frescas.

“Já sabíamos que eles eram traidores”, disse um dos diplomatas ouvidos pelo Politico, avisando que, caso a Hungria inviabilize sanções já previamente acordadas, dará mais um passo rumo ao seu “isolamento” na Europa.

Outros dois representantes na UE revelaram que Órban estará a associar a exigência relativamente à retirada dos três nomes a outras reivindicações, com um deles a avançar que um dos objetivos do primeiro-ministro húngaro será o de fazer concessões ao limite de preços das exportações de gás russo.

O de Alisher Burhanovich Usmanov será provavelmente o nome mais conhecido de entre os três que, diz a Hungria, não deveriam ter lugar na lista de sanções. Aos 68 anos, o magnata da indústria metalúrgica ocupa o 167.º lugar da lista de bilionários da Forbes, com um património de 14,7 mil milhões de dólares, e é sobretudo reconhecido pelo seu passado como acionista do Arsenal, clube de futebol de que chegou a deter 30% e de que se desvinculou em 2018.

Em março, pouco depois de ser impedido de entrar no Reino Unido e de ver todo o seu património naquele país congelado, Usmanov, “um dos oligarcas favoritos de Vladimir Putin”, revelou que, antes de as sanções entrarem em vigor, tinha alienado praticamente todos os bens. Através de um porta-voz, fez saber que grande parte das suas propriedades “foram há muito transferidas para trusts irrevogáveis”. “A partir dessa altura, Usmanov já não as possuía, nem podia geri-las ou negociar a sua venda, só podia utilizá-las para fins de aluguer. Ele retirou-se como beneficiário e doou os direitos do beneficiário à sua família”, explicou o colaborador deste que é um dos homens mais ricos da Rússia, em declarações à agência Efe.

Petr Aven, de acordo com o Finacial Times um dos oligarcas russos mais bem integrados no Ocidente (a par de Mikhail Fridman, que também foi incluído nas sanções), foi fotografado com Vladimir Putin no Kremlin no dia em que começou a invasão da Ucrânia mas recusa qualquer ligação ao Presidente russo. Presidente do Conselho de Administração do Alfa Banking Group, o maior banco privado da Rússia, tem nacionalidade letã mas vive maioritariamente em Londres. Desde a primeira hora, contestou as sanções de que foi alvo, chegando mesmo a dar entrevistas em que se lamentava por não ter dinheiro para manter empegados. “Será que vou ser autorizado a ter uma empregada doméstica ou um motorista? Não conduzo… Pode ser que a minha enteada passe a conduzir”, queixou-se o bilionário, número 665.º da lista da Forbes, com uma fortuna avaliada em 4,8 mil milhões de dólares. “Não sei como vamos sobreviver.”

O outro oligarca russo que Viktor Órban quer ver fora da lista de sanções é Viktor Rashnikov, 375.º na lista da Forbes, com uma fortuna de 10,4 mil milhões de dólares. Depois de lá ter começado como serralheiro, hoje é acionista maioritário e presidente da siderúgica MKK, uma das maiores produtoras de aço da Rússia e do mundo. Também faz parte do círculo íntimo de Vladimir Putin.