O líder socialista esteve em Leiria onde o PS venceu legislativas pela primeira vez desde o 25 de abril, a dramatizar os seus anos de governação contra “o diabo”, a pandemia e a guerra. E a atacar a oposição que passou a última semana a combater o seu pacote anti-inflação, sobretudo as medidas para os pensionistas. Sobre essas, Costa diz que Governo até podia “ter ficado calado” mas quis ser “transparente” e garante que “por muita pancada” que a oposição lhe dê, não tomará “qualquer medida que ponha em causa a sustentabilidade futura da Segurança Social”.
O comício no mercado de Sant’ Ana aqueceu com Miguel Ângelo, Tim e Fernando Cunha, parte da banda “Resistência” para uma rentreée que o PS pretendeu que passasse com esse mesmo lema. E, nem de propósito, para a resistência socialista, António Costa convocou todos e o comando do partido respondeu em força. Entre a assistência contava-se não só o socialista que preside à Assembleia da República, Augusto Santos Silva, como também seis ministros: Educação, Segurança Social, Administração Interna, Ambiente, Finanças, Assuntos Parlamentares.
Eram também inúmeros os secretários de Estado e até o mais recente ex-secretário de Estado. António Lacerda Sales saiu da Saúde e recebeu um elogio de Costa que, logo no arranque do discurso, disse que nem consigo mesmo a cabeça de lista o PS tinha conseguido vencer em Leiria: “Só com o António Sales”.
A sala aplaudiu quase tanto como quando o socialista começou a comparar cada uma das suas medidas às que foram apresentadas pela oposição “a duas voltas. Na primeira volta eram mil milhões de apoio, na segundo eram 1.500 milhões”, disse Costa para concluir: “Não é só menos do que já fizemos, como é muitíssimo menos do que aprovámos para fazer até ao final do ano esta semana. São também menos as pessoas a quem se dirige.”
E isto para concluir — entre a promessa e essa picardia com o PSD — que o seu Governo “não vai ter de ter de congelar salários, de cortar pensões, nem parar investimento no SNS”. E sobre as pensões em concreto, rejeitou as acusações de “truque”: “Se tivéssemos truques podíamos ter estado calados” e ter anunciado medidas só mais para a frente”.
[Ouça aqui a reportagem da Rádio Observador]
Costa faz juras à sustentabilidade da segurança social “por mais pancada que leve”
“Temos de falar sempre com seriedade, sem cartas escondidas na manga e com total transparência, desdobrou mesmo direto para a oposição. Além de voltar a justificar agora de forma mais vincada, que a medida também teve como preocupação o futuro.
Por muita pancada que a oposição me dê, não tomarei qualquer medida que ponha em causa sustentabilidade futura da Segurança Social”
Para o PS, garantiu, “era muito fácil fazer um aumento maior, mas depois não sabemos o que poderia acontecer”, ainda sobre as garantias sobre o futuro da Segurança Social que diz que, apesar de, no passado, o PS “ter cumprido escrupulosamente a lei de bases, e de ter feito aumentos extraordinários e ter criado o subsídio para a inclusão, alargou em 26 anos a estabilidade da Segurança Social”.
A medida das pensões, que até o PS deixou com dúvidas, foi aquela a que mais tempo da sua intervenção Costa dedicou, carregando tintas em alguns argumentos e apresentando novos. Quando, por exemplo, se virou para a oposição por esta apontar sobretudo para o que vai acontecer em 2024, Costa explicou que nos últimos anos o aumento extraordinário de pensões também serviu para “garantir um aumento de dez euros aos pensionistas com pensões mais baixas que não teriam aumento nenhum”, numa “correção de fórmula” tal como a que faz agora. Compara, assim, a medida de aumento extraordinário a este novo apoio.
E voltou ainda a dizer que daqui a um ano fará o mesmo. “Estaremos aqui para dizer aos pensionistas qual será o aumento de 2024 e que nesse ano há aumento e ninguém em janeiro receberá menos do que em dezembro de 2023”.
No arranque do comício de rentrée, Costa já tinha dito que o partido “está aqui para dar a cara, lutar e vencer como venceu no passado” e “sem embustes“.
“Tal como não tivemos medo do diabo para virar pagina da austeridade, também não é agora que baixamos os braços ou desistimos dos nossos objetivos porque a guerra é difícil e temos a inflação como não víamos há 30 anos. Estamos aqui para dar a cara, lutar e vencer como vencemos no passado”, disse o socialista que também é primeiro-ministro.
A vitimização é assumida sem grandes rodeios. Costa assumiu que esta não é a realidade que desejava ou tinha imaginado. Mas disse logo que isso para o PS “não é uma novidade”. “Em 2015 também não sabíamos as resistências que teríamos de enfrentar para virar a página da austeridade. Em 2019 não nos passava pela cabeça que seriamos atingidos por uma pandemia. E agora também ninguém imaginava que teríamos de enfrentar esta nova realidade”, disse referindo-se às consequências trazidas por uma guerra na Europa.
Num contexto em que “a inflação já não é só uma nota de rodapé para um problema centra que tem de se enfrentar”, disse ainda, Costa apontou a inexistência de uma vacina, como a que existiu contra a Covid-19. É por isso que agora pede ao PS que tenha “bom senso, responsabilidade, nervos de aço e as medidas de aço”.
Mas o contexto não é desculpa, avisou ainda o líder socialista que voltou a sublinhar a necessidade de manter contas certas, lembrando que Portugal é o “terceiro país da União Europeia que mais rapidamente está a conseguir reduzir a dívida contraída para responder à Covid, e repor as contas para que o futuro de Portugal seja estável sem dramas, angustias, ansiedade e sem embustes”.
O comício foi marcado entre a Academia Socialista (a iniciativa do partido para a formação de jovens quadros) e as Jornadas Parlamentares, que serão nos dois próximos dias na Batalha e na Nazaré.