Na chegada a Luanda, esta quarta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa, falou sobre as eleições em Angola, que têm sido alvo de contestação pela oposição do MPLA, e comparou as eleições que deram a vitória a João Lourenço, pela segunda vez, ao que aconteceu em Portugal, em 2015, quando o recém-eleito Executivo de António Costa fez ligação à esquerda, com Bloco de Esquerda e PCP, nascendo assim a geringonça.
Nós tivemos um debate sobre legitimidade em 2015/ 2016. Quando assumi funções, discutia-se a legitimidade das forças que iam exercer o Governo em Portugal. Uns entendiam que deviam ser uns, outros entendiam que deviam ser outros, de acordo com a leitura diversa das eleições”, disse o Presidente da República aos jornalistas à chegada ao seu hotel após um passeio pela capital angolana.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, “é importante depois de uma eleição muito disputada, que haja entrada em funções do presidente eleito com número considerável de chefes de Estado”, mas também que todos os partidos políticos que foram eleitos para o Parlamento, nele tenham o protagonismo que permite dar voz àqueles que representam.
“Correr bem para Angola é correr bem para Portugal”
“O importante é que o Presidente da Republica assuma as suas funções e o poder executivo funcione e o Parlamento tenha todos os membros eleitos a assumir as suas funções”, reforçou, acrescentando: “E que corra bem para Angola, por que correr bem para Angola é correr bem para Portugal”.
Aliás, já antes, de manhã, à chegada ao aeroporto, Marcelo tinha dito que esperava que as relações entre Portugal e Angola continuassem”magníficas”. Segundo o Chefe de Estado Português, “estão num ambiente muito positivo, em todos os domínios”, sobretudo económico e social, o que é visível “no peso e na importância da comunidade angolana em Portugal e da comunidade portuguesa em Angola”.
Presidente da República espera que relações com Angola “continuem magníficas”
Quanto ao impedimento de manifestações e detenção de ativistas, que têm ocorrido nos últimos dias, defendeu que há também maturidade na forma como os que vão ocupar o parlamento “independentemente do juízo que têm sobre o ato eleitoral, terem percebido e terem dado como linha de orientação o não à violência, o não ao confronto e ao conflito”.
O Presidente da República elogiou o “grande cuidado em relação àquilo que seria a manifestação no contexto das tomadas de posse”, considerando que se tratou de um “prenúncio de uma sociedade que tem pluralismo e tem diversidade”.
E “tendo um poder que foi considerado vencedor, de acordo com os resultados oficiais” reflete no Parlamento e na sociedade em geral “várias maneiras de pensar”.
“O futuro constrói-se dessa dialética, dessa capacidade de construção de alternativas numa sociedade que se quer plural e aberta”, realçou o chefe de Estado.
Sem querer comentar as detenções, casos “que pertencem a vida interna do país”, Marcelo Rebelo de Sousa indicou que “a História está cheia de exemplos de como é muito importante, mesmo quando há forças que têm uma maioria do exercício de poder político, haver outras forças que, sendo minoritárias e porventura achando, que deveriam ter uma representação maior e outro espaço de intervenção, sabem que não há fim da história”.
“Angola tem à sua frente uma história que vai muito para além de amanhã e depois de amanhã”, complementou, insistindo na certeza de que “há uma grande maturidade do povo angolano” que se viu antes, durante e no período pós-eleitoral e que se vai continuar a assistir nos próximos anos.
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A segunda vitória de João Lourenço, pelo MPLA, foi contestada pelos partidos da oposição, que avançaram com queixas na Comissão Nacional de Eleições e no Supremo Tribunal de Justiça. As denúncias não tiveram, no entanto, qualquer impacto nos resultados e a maioria eleitoral continua nas mãos de João Lourenço que toma posse esta quinta-feira.
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