O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, disse esta quarta-feira, à chegada a Luanda, que as relações entre Angola e Portugal têm sido construídas “passo a passo” e espera que “continuem magníficas”, como têm sido, com a nova legislatura angolana.

Marcelo Rebelo de Sousa é um dos chefes de Estado convidados para participar na cerimónia de investidura do Presidente angolano reeleito, João Lourenço, marcada para quinta-feira, na sequência das eleições de 24 de agosto.

O dia importante é amanhã, que é o dia da tomada de posse. Para mim já é a segunda [tomada de posse] que assisto como Presidente da República e aquilo que esperamos naturalmente é que se inicie um período em que as relações entre Angola e Portugal continuem magníficas como têm sido”, disse à Lusa.

Segundo o governante, que chegou de manhã a Luanda, as relações entre Angola e Portugal “estão num ambiente muito positivo, em todos os domínios”, sobretudo económico e social, o que é visível “no peso e na importância da comunidade angolana em Portugal e da comunidade portuguesa em Angola”.

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Marcelo Rebelo de Sousa espera igualmente que este período de consolidação de relações com Angola seja internacionalmente menos complicado do que foi nos últimos cinco anos – sem pandemia, crise económica internacional ou guerra.

“Que não haja crise económica internacional como tem havido ao longo dos anos e que a guerra desapareça o mais rapidamente possível dos cenários, nomeadamente aquela que tem tido maior efeito no preço de bens fundamentais e na inflação”, assinalou.

Para o Chefe de Estado, pretende-se um período “mais positivo internacionalmente” na vida das pessoas e para os vários países: “É isso que importa.”

“Estamos a fazer política e é bom que os povos possam ter anos melhores do que aqueles que tiveram no passado”, rematou.

João Lourenço e o seu partido Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder desde 1975) foram declarados vencedores das eleições gerais de 24 de agosto, cujos resultados são contestados pela oposição.

O Tribunal Constitucional proclamou o MPLA como vencedor com 51,17% dos votos, seguido da UNITA, com 43,95%, tendo chumbado o recurso de contencioso eleitoral da UNITA.

Marcelo: funcionamento das instituições não se esgota no voto

O Presidente da República lembrou ainda que o funcionamento das instituições não se esgota no voto e que os povos “querem ter as suas opiniões expressas no parlamento”.

“Em sistemas políticos abertos há fenómenos naturais. Um é que nos parlamentos haja várias vozes, de pesos diversos, e aproveitem os seus lugares para exprimir as suas posições. Isso dá uma força muito grande à vivência cívica e política”, salientou.

Questionado sobre a possibilidade de os deputados da oposição angolana não tomarem posse, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que “os povos querem ter as suas várias opiniões expressas no parlamento”, tal como “no dia-a-dia os cidadãos vão também exprimindo as suas opiniões”.

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“Isso faz parte da riqueza da vivência política, em paz, que é uma realidade que todos nós prezamos muito”, sublinhou.

No seu entender, “é bom que haja pontos de vista diversos e que se vão manifestando, uns maioritários, outros minoritários”, em função da evolução dos acontecimentos, que determina também aquilo que vai sendo a vontade do povo.

“O povo vota, mas o funcionamento das instituições não se esgota no voto, depois há o trabalho do dia-a-dia, as leis que se fazem, os deputados políticos, a evolução das circunstâncias”, notou o Presidente da República.

Marcelo Rebelo de Sousa destacou também que “a história não para nunca num momento determinado”.

“Não há um fim da história, há sempre mais história para lá do fim da história. Até a mim já me aconteceu isso tantas vezes, parecia o fim da história, na minha vida e nos setores políticos onde estava, e depois afinal havia mais história. Essa realidade é muito viva”, comentou.

Quanto a João Lourenço, terá certamente de se recriar neste novo mandato, comentou Marcelo Rebelo de Sousa: “O Presidente foi reeleito em circunstâncias diferentes, apontando para um contexto internacional que se deseja diferente, e em função disso as mesmas pessoas nunca são iguais, acabam por ter de se recriar porque as circunstâncias não são iguais. Todos nos recriamos um pouco, todos os dias, em política“, destacou.