Com as eleições em Itália à porta — motivadas pela demissão de Mario Draghi após perder o apoio parlamentar —, Matteo Salvini tenta angariar votos à direita (ou extrema-direita), numa altura em que as sondagens dão vantagem à coligação de que faz parte com o Força Itália e o Irmãos de Itália. Em entrevista ao El País, o líder do partido de extrema-direita Liga promete retomar os decretos contra a imigração ilegal que implementou quando foi ministro da Administração Interna, que proíbam a entrada de navios com imigrantes em Itália e penalizavam as ONG que ajudassem a salvar vidas no Mediterrâneo.

“As fronteiras italianas são também fronteiras europeias. E se voltarem a ser uma peneira, como agora, é um problema para a Europa. Ter fronteiras protegidas e controladas é uma vantagem para toda a Europa”, respondeu, quando questionado sobre se iria restabelecer os decretos. A ideia, explica, é retomar “uma proibição de entrada em águas territoriais“.

“Este ano, morreram duas vezes mais pessoas no Mediterrâneo do que quando tivemos os decretos de segurança. Assim, no primeiro Conselho de Ministros, voltarão a entrar em vigor“, afirmou o ex-vice-primeiro-ministro e candidato a primeiro-ministro pela Liga. A via para essa solução não terá necessariamente de passar por um bloqueio com navios militares, embora não descarte essa hipótese. “Vamos fazer o que funciona. Os decretos que assinei funcionaram sem isso. [Funcionaram] Simplesmente através da colaboração com outros países, confiscando navios ilegais e bloqueado o negócio da imigração”, apontou.

Salvini critica aquilo que diz ser uma postura de dois pesos duas medidas na Europa. “A Espanha faz bem em defender as suas fronteiras. Mas se um governo de esquerda o faz, mesmo que com força, é normal. Se for um governo de direita, usando apenas o direito, é fascismo”, refere.

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Mesmo dentro da coligação de direita há divergências. Uma delas aconteceu na quinta-feira, quando Salvini recusou apoiar uma resolução do Parlamento Europeu que defendia que a Hungria não é uma democracia plena (o Força Itália votou a favor; Salvini e Meloni — dos Irmãos de Itália — estiveram contra). “Não vejo o porquê de a UE, em vez de se preocupar com a eletricidade, o gás e a imigração, se preocupa com as regras de outros países (…). Se os húngaros votaram, vamos respeitá-los”, defendeu.

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No programa eleitoral, Salvini tem uma reforma do sistema da pensões, assim como uma taxa única de IRS — que, explica, já é aplicada aos trabalhadores independentes do país e o partido quer estender aos trabalhadores por conta de outrem. Uma ideia que, assegura, foi bem acolhida pelos parceiros de coligação.

Já perante a escalada da inflação, Salvini defende um aumento do défice se isso significar mais medidas de apoio à economia. “O dinheiro é necessário agora (…). Cada dia que perdemos é uma fábrica que fecha”, diz, defendendo que Itália não pode esperar pela Comissão Europeia para avançar com medidas.

Sobre a guerra na Ucrânia, considera as sanções contra a Rússia “ineficazes”.

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