Nas últimas 24 horas, morreram pelo menos cinco oficiais nomeados pela Rússia em territórios ocupados no sul da Ucrânia. Os casos ocorreram em Lugansk, Kherson e Berdiansk, zonas sob ocupação russa separadas por centenas de quilómetros.
As autoridades separatistas apoiadas pela Rússia estão a responsabilizar a Ucrânia, no entanto, até agora, Kiev não assumiu responsabilidade pelas mortes. Os casos surgem numa altura em que as forças ucranianas fizeram vários avanços numa contraofensiva para recuperar vários territórios sob controlo do exército russo.
Explosão em Lugansk
Um polícia da autoproclamada República Popular de Lugansk (LPR), apoiada pela Rússia, divulgou no canal de Telegram a morte de Sergey Gorenko, procurador-geral da região separatista, e do adjunto, Yekaterina Steglenko. Os dois homens morreram devido a uma explosão que esta sexta-feira abalou o escritório de Gorenko.
“O procurador-geral da LPR Sergey Gorenko foi morto quando um dispositivo explosivo de fabrico próprio explodiu no gabinete”, explicou Vitaly Kiselyov. O caso foi confirmado à agência de notícias russa TASS pelo líder da região separatista, Leonid Pasechnik.
⚡️ A powerful explosion was heard in the building of the so-called "General Prosecutor's Office of the #Luhansk People's Republic" in the center of Luhansk. pic.twitter.com/65fUum46xm
— NEXTA (@nexta_tv) September 16, 2022
O conselheiro do Presidente da Ucrânia já veio negar o envolvimento de Kiev no caso. “A eliminação do chamado procurador-geral do LNR e do seu vice deve ser considerada como um confronto de grupos criminosos organizados locais que não podiam compartilhar bens roubados antes de uma fuga em larga escala. Ou como uma purga da Federação Russa de testemunhas dos crimes de guerra”, escreveu Mikhail Podolyak no Twitter.
Elimination of so-called "LNR prosecutor general" and his deputy should be considered as showdowns of local organized criminal groups that could not share looted property before a large-scale escape. Or as RF's purge of witnesses to war crimes. Investigation will show…
— Михайло Подоляк (@Podolyak_M) September 16, 2022
“Duplo homicídio” em Berdiansk
Já em Berdiansk, na região de Zaporíjia, as autoridades separatistas acusaram Kiev de estar por trás da morte do vice-chefe da administração militar civil e da sua esposa, que dirigia a comissão eleitoral territorial da cidade para o referendo para se juntar à Rússia. Segundo a administração da cidade, que é apoiada pelas forças russas, Oleg Boyko e a mulher, Lyudmila Boyko, foram mortos na sua garagem. Para já não adiantaram detalhes sobre o que se terá passado, mas descreveram o caso como um “duplo homicídio”.
“Este crime não ficará impune nem sem resposta”, garantiu a administração da cidade numa publicação na rede social Telegram, citada pelo The Guardian.
Este não é o primeiro ataque às figuras de autoridade na região. Segundo a Ukrainska Pravda, em setembro, Artem Bardin, comandante pró-russo, perdeu ambas as pernas na sequência de uma explosão no seu carro.
HIMARS “disparados” sobre Kherson
Também esta sexta-feira, pelo menos uma pessoa morreu e outra ficou ferida como resultado de um alegado ataque das Forças Armadas da Ucrânia em Kherson. A notícia foi avançada por um correspondente da agência estatal russa Ria Novosti, que disse que cinco HIMARS, fornecidos pelos EUA, foram “disparados” para o centro de Kherson.
Ekaterina Gubareva, vice-chefe da administração militar civil da região, disse à agência que um dos mísseis atingiu diretamente o edifício da administração. Adiantou que a chefe do departamento de trabalho e ação social, Alla Barkhatnova, ficou ferida no ataque e o seu motorista acabou por morrer.
Segundo Gubareva, na altura do ataque decorria uma reunião na administração com a participação de responsáveis de distritos municipais. Descreveu o ataque como um “ato vil de terrorismo”.
Referendos adiados nas regiões ocupadas
O Kremlin está a planear referendos nas regiões de Kherson, Zaporíjia e também nas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que já tinham autoproclamado a independência da Ucrânia em 2014. No entanto, autoridades russas terão decidido adiar “por tempo indeterminado” os referendos planeados para Donetsk e Lugansk. A notícia não está confirmada oficialmente mas foi avançada pelo Meduza, um meio de comunicação russo independente.
Donetsk e Lugansk, as duas regiões que fazem Putin sonhar com a reconstituição do império russo
Duas fontes do Kremlin disseram ao jornal que os planos estão a ser adiados devido à contraofensiva ucraniana na região de Kharkiv. Alguns dos responsáveis envolvidos na preparação logística terão mesmo abandonado Kharkiv e, também, Zaporíjia – embora aqueles que estão em Kherson se mantenham.
Apesar de Moscovo não ter anunciado uma data oficial, estava em cima da mesa a possibilidade de esses referendos terem lugar a 4 de novembro, uma data simbólica uma vez que coincide com o Dia da União Nacional da Rússia.