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A corrida de espermatozoides não é um salve-se quem puder: o jogo de equipa é fundamental

Este artigo tem mais de 2 anos

Tal como num pelotão de ciclistas, os espermatozoides de touro (e talvez do homem) agrupam-se para enfrentar as correntes e vão trocando de posições para os líderes do grupo irem descansando.

Vacas bebem água na margem da barragem do Caia, que tem atualmente um volume de 91.935 mil metros cúbicos de água, o que representa 48,39%, em relação à cota de descarga da barragem (190 milhões de metros cúbicos). De acordo com o índice PDSI, no último mês agravou-se a situação de seca meteorológica em todo o território, com um aumento muito significativo da área em seca severa, estando agora grande parte do território nessa classe. Elvas, 21 de junho de 2022. NUNO VEIGA / LUSA
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Os espermatozoides de touro têm de atravessar um fluido com a consistência de queijo derretido na vagina e útero das vacas

NUNO VEIGA/LUSA

Os espermatozoides de touro têm de atravessar um fluido com a consistência de queijo derretido na vagina e útero das vacas

NUNO VEIGA/LUSA

Numa corrida individual, por norma, ganha o mais rápido, o que chega em primeiro lugar, e era isso que se pensava que acontecia com os espermatozoides. Mas, afinal, a corrida pela reprodução pode não ser um salve-se quem puder e assemelhar-se mais a uma estratégia de equipa, como acontece no ciclismo.

Nas provas de ciclismo, são os atletas na frente de qualquer grupo (o pelotão ou as grupetas) que se sujeitam a um maior esforço e fadiga porque enfrentam toda a resistência do ar — como se abrissem uma passagem entre a vegetação densa para os restantes exploradores.

Um outro exemplo (destacado esta semana com um prémio Ig Nobel) é a natação dos patinhos atrás das suas mães enquanto nadam: os de trás despendem muito menos energia.

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Não será, por isso, muito difícil de aceitar que os espermatozoides se juntem em grupos para mais facilmente conseguirem nadar no fluído altamente viscoso do aparelho reprodutor feminino. Estas “grupetas” acontecem, frequentemente, entre os mamíferos, como ratos, gado e gambás, mas também em moluscos, mas não se sabia porquê. A resposta foi observada agora no sémen dos touros, conforme publicado no artigo científico da revista Frontiers in Cell and Developmental Biology.

O esperma é estudado ao microscópio há cerca de 350 anos, lembra a Smithsonian Magazine, mas, como é fácil de imaginar, observar espermatozoides estáticos por baixo da luz do microscópio ou com os movimento limitados a uma gota de água pouco nos diz sobre como fazem estas células para chegar aos óvulos femininos. E estudar a viagem dos espermatozoides dentro do organismo feminino também não é coisa fácil de se fazer.

A história publicada esta quinta-feira distingue-se porque recriou o sistema reprodutor da vaca fora do corpo num pequeno modelo tridimensional para ver como se comportavam os espermatozoides do touro num muco tão difícil de navegar. No fundo, um tudo de silicone, cheio de um fluido semelhante ao muco cervical e uterino das vacas (e com a consistência de queijo derretido) onde se injetou sémen fresco de touro, descreve a revista New Scientist.

espermatozoides nadam em grupo

Em grupo, os espermatozoides podem mais facilmente enfrentar as correntes, mesmo que não ganhem velocidade

S Phuyal, SS Suarez, C-K Tung

E porquê usar bovinos? Bem, entre os mamíferos são um bom modelo para o que pode acontecer com os espermatozoides humanos.

Os espermatozoides, cuja única função é transportar o património genético do progenitor masculino, juntam-se em pequenos grupos e têm vantagem sobre os nadadores solitários, quer as correntes (do muco feminino) sejam fortes ou inexistentes — pelo menos, no caso dos touros. Quando não há corrente, nadam a direito; quando a corrente é fraca, conseguem alinhar-se para a vencer (tal como o pelotão se ajusta às mudanças do vento e da pista); e quando as correntes são muito fortes, é mais fácil não serem arrastados se estiverem em grupo. E, tal como os ciclistas no pelotão, não é sempre o mesmo espermatozoide a liderar o grupo.

Neste caso, não há ganho de velocidade, ao contrário do que acontece com os espermatozoides de rato que estão presos uns aos outros. A vantagem é vencer a resistência do fluído e não ser arrastado numa corrente forte: não é um sprint, é uma maratona.

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Se não se consegue imaginar preocupado com a natação dos espermatozoides, vale a pena referir que perceber que dificuldades e estratégias os espermatozoides tem no aparelho reprodutor feminino pode ajudar a explicar determinadas situações de infertilidade, a desenvolver melhores tratamentos para estas situações e, até, criar novos meios contracetivos para humanos.

“A longo prazo, este conhecimento pode proporcionar uma melhor seleção do esperma utilizado em intervenções clínicas, como na fertilização in vitro ou em outras tecnologias de reprodução assistida”, disse, em comunicado de imprensa,  Chih-kuan Tung, co-autor and professor de Física na Universidade Estadual Agrícola e Técnica da Carolina do Norte (Estados Unidos). “Isto pode ser necessário uma vez que [estes métodos] tipicamente não contabilizam alguns ou todos os mecanismos de seleção presentes no trato feminino e produzem resultados menos favoráveis.”

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