Um soldado britânico que esteve durante vários meses sob cativeiro russo por ter lutado ao lado das forças ucranianas em Mariupol, e que chegou a estar no corredor da morte, deu uma entrevista a explicar que foi “mais mal tratado que um cão” durante os cinco meses que passou preso na solitária.
Ao jornal britânico The Sun, Aiden Aslin, de 28 anos, revelou que os prisioneiros capturados pelos russos eram obrigados a cantar o hino russo todas as manhãs. “Se não o cantássemos éramos punidos por isso. Éramos agredidos”, disse. Aslin foi inclusivamente filmado a cantar o hino russo na sua cela, num vídeo que foi se tornou viral na internet em julho.
Aiden Aslin foi um dos dois soldados britânicos que em junho deste ano foram condenados à morte no território ucraniano de Donetsk, atualmente controlado pelas autoridades russas, pelos crimes de terrorismo e de tomada do poder.
Soldado britânico, condenado à morte, filmado a cantar o hino russo dentro de uma cela
Aslin foi um dos muitos combatentes estrangeiros que se juntaram às forças ucranianas no início da guerra para ajudar na proteção das cidades tomadas pelos russos, mas acabaria por ser o primeiro estrangeiro a render-se às tropas russas. Natural da região de Nottinghamshire, na Inglaterra central, Aslin foi capturado em abril deste ano na cidade de Mariupol, onde combatia ao lado de militares ucranianos.
O britânico vivia na Ucrânia desde 2018 com a sua noiva, uma mulher ucraniana, e juntou-se ao exército do país depois da invasão russa. Porém, a sua unidade militar foi cercada pelas tropas russas em Mariupol e os elementos tiveram de se render após vários dias sem acesso a comida.
“Eles viram o meu passaporte e perceberam rapidamente que eu não era ucraniano”, disse o soldado. “O soldado perguntou-me em russo: ‘De onde és?’ Disse-lhe que era do Reino Unido e ele esmurrou-me na cara. Separaram-me dos outros e começaram a interrogar-me na parte de trás de um veículo blindado.”
“Fui ter com o meu comandante e disse-lhe: ‘Vou ser levado, provavelmente vão matar-me, preciso que digas à minha família quando saíres, se saíres, que eu os amo'”, contou Aslin ao The Sun. O soldado acrescentou que foi levado para a região de Donetsk. Com a cabeça tapada, foi conduzido a um centro de detenção, onde foi interrogado e espancado pelas forças russas — antes de surgir num vídeo de propaganda russo, ainda com as marcas da violência a que foi submetido.
Britânico que se rendeu aos russos aparece espancado em vídeo
Na entrevista, Aslin explicou também que esteve muito próximo de ser morto durante a detenção e o interrogatório: “O agente estava a fumar um cigarro e ajoelhou-se à minha frente para me perguntar: ‘Sabes quem eu sou?’ Eu disse que não e ele respondeu em russo: ‘Sou a tua morte.’ Ele disse: ‘Viste o que te fiz?’ Apontou para as minhas costas, mostrou-me a faca e eu percebi que ele me tinha esfaqueado. Depois, perguntou-me: ‘Queres uma morte rápida ou uma morte bonita?'”
E explicou ainda: “Eu respondi em russo: ‘Uma morte rápida.’ E ele sorriu e disse: ‘Não, vais ter uma morte bonita. E eu vou assegurar-me que é uma morte bonita.'”
Durante cinco meses, Aslin ficou em cativeiro na solitária e, em junho, foi julgado por ser um mercenário e condenado à morte. “Durante os cinco meses em cativeiro, não consegui chorar. Quando soube que tinha recebido a pena de morte, quis chorar, mas simplesmente não consegui. Foi literalmente uma questão de sobrevivência. A minha vida estava nas mãos daquelas pessoas e eu fazia aquilo que eles me mandavam ou sofria as consequências.”
Britânicos capturados pelos russos condenados à morte em Donetsk
Aiden Aslin foi libertado na quarta-feira passada, juntamente com outros nove prisioneiros (incluindo um grupo de cinco britânicos), depois de Rússia e Ucrânia terem chegado a um acordo, mediado pela Arábia Saudita, para uma troca de prisioneiros.