A Amnistia Internacional qualificou na terça-feira como “horríveis” os detalhes da tortura por agentes da polícia de Artem Kamardin, um poeta russo que foi detido e violado por ler poesia contra a invasão da Ucrânia.
Os detalhes da detenção e da tortura de Artem Kamardin são horríveis, inclusive face aos padrões abismais dos Direitos Humanos na Federação Russa atual”, afirmou, em comunicado, a diretora da Amnistia Internacional para a Federação Russa, Natália Zviagina.
Insistiu que “o mundo não deve desviar o olhar” e acentuou que “parece que os agentes da polícia russos acreditam que têm uma impunidade total para todo o tipo de violações dos direitos humanos contra pessoas que se opõem à guerra da Rússia na Ucrânia”.
Zviagina relevou que a polícia russa “não ocultou” as torturas a Kamardin, “ao obrigá-lo, visivelmente agredido, a desculpar-se perante a câmara”, acrescentando que, “de imediato, divulgaram as suas desculpas forçadas através das redes sociais favoráveis ao Kremlin”.
“Por esta situação, a Amnistia pretende que as autoridades russas iniciem uma investigação “independente, imparcial e efetiva aos relatos de tortura e outros maus-tratos” contra o poeta.
A sua recusa a fazê-lo deveria ser mais um sinal para a comunidade internacional da necessidade de utilizar todos os mecanismos internacionais, regionais e nacionais aplicáveis para garantir que os responsáveis de estas violações e outros crimes de Direito Internacional enfrentem a justiça em julgamentos justos”, realçou.
A versão europeia do periódico “Novaya Gazeta” noticiou na segunda-feira que vários polícias moscovitas agrediram e violaram o ativista com um bastão. Depois, obrigaram-no a gravar um vídeo de desculpa, em que aparece com cortes e golpes no corpo, depois de se ter declarado contra a anexação do leste da Ucrânia pela Federação Russa.
Os polícias não permitiram que o advogado do poeta, Leonid Soloviev, entrasse no apartamento, alegando que estavam a fazer uma inspeção da habitação de Kamardin, que foi colocado sob custódia policial.
O poeta está a ser investigado como suspeito em um caso de “incitação ao ódio e à inimizade com ameaças de violência”, com base no artigo 282 do Código Penal russo, juntamente com os ativistas Nikolai Daineko e Yegor Shtovba. Se forem considerados culpados, podem ser condenados a seis anos de prisão.