Em quatro dias, tudo mudou. A seguir à derrota de Espanha em Saragoça com a Suíça, a posição de Luis Enrique, que levou a Roja às meias do Europeu e à final da Liga das Nações, era questionada, as opções que assumira mereciam críticas e a própria confiança para o Mundial não estava famosa. Agora, após a vitória em Braga frente a Portugal, o cenário tornou-se menos denso e as explicações dadas pelo técnico sobre as escolhas que foi fazendo quase merecem um voto de confiança. No polo oposto, os muitos elogios depois da goleada em Praga com a Rep. Checa tornaram-se críticas pela derrota frente à Espanha a dois minutos do final. E a imprensa espanhola apontou a um alvo em específico após o desaire: Fernando Santos.

A diferença entre saber jogar com o empate e ter de jogar para o empate (a crónica do Portugal-Espanha)

“Mentiu, mais uma vez, ao dizer que Portugal ia ser uma equipa valente, que ia entrar para ganhar e dominar a Espanha. A Seleção portuguesa tem mais jogadores que treinador, um técnico que é história no seu país pelo Europeu de 2016 mas que agora mesmo é um fardo às portas do Mundial. A Espanha juntou-se à história negra de Portugal, à da Grécia, à da Sérvia… E o treinador procurou isso”, escreve o jornal Marca na contracrónica ao duelo ibérico com o título “Fernando Santos é um drama para Portugal”.

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Em paralelo, o mesmo texto acaba por poupar Ronaldo, mesmo assumindo o momento menos conseguido da temporada. “É uma realidade que o jogador do Manchester United já dá mais medo pelo nome e pelas suas histórias do que é agora mesmo. Mas é verdade que a sua lenda é tão grande que cada vez que a bola cai perto de Cristiano tem-se a sensação de que o perigo está perto. Gayà tirou-lhe uma bola de golo que antes era impossível que o 7 deixasse escapar. Já não é a fera que matava sem piedade mas ninguém se atreve a dizer que a sua voracidade está esgotada. A última [oportunidade] foi sua”, diz.

“Não belisca nada. Vozes dissonantes? Tenho contrato até 2024, mais direto não posso ser”, diz Fernando Santos após eliminação

Também o El País fala de “um Portugal a baixo volume, uma seleção com mais talento do que decisão”. “Com a Roja tímida, o conjunto de Fernando Santos também não se soltava. Tem solistas de primeiro nível mas é uma seleção demasiado contida. A Cristiano resta o eco daquilo que foi. Hoje escapam-lhe as ocasiões que antes resultavam em golos, como uma sesta frente a Unai [Simón] que deu tempo ao corte de Gaya”, refere antes de abordar o momento da viragem do jogo. “Os jogadores de Fernando Santos não soltavam as rédeas, não puxaram o martelo para atingir um adversário tão desfocado e a Roja sentiu que tinha a oportunidade que não tinha procurado”, resume sobre a última meia hora do encontro.

Já o El Mundo falou do “Milagre de Braga”, entre algumas críticas também à equipa de Espanha. “Morata salvou Luis Enrique de um fracasso às portas do diabo do deserto do Qatar no minuto que já não dava tempo para Portugal poder reagir depois do que tinha feito no final do encontro. Um milagre porque Unai Simón se vestiu de herói com três ou quatro defesas que seriam golos certos. A equipa portuguesa não degolou a tímida retaguarda dos coadores hispânicos e quando não se mata, podem matar-te numa jogada perdida. A equipa de Fernando Santos mereceu o desastre”, destaca Julián Ruíz num artigo de opinião.

Ronaldo voltou a ficar em branco e só marcou num dos últimos nove jogos: “Aquilo que tem de fazer, tem feito. Os golos vão aparecer”

“É patético ver o Cristiano com a sua falta de velocidade e a sua grotesca perda de reação no tiro final. Não perdeu um segundo mas sim dois nas suas reações. Fernando Santos deixou no banco Rafael Leão, que tinha sido letal para os espanhóis. Têm medo do ícone. E João Félix também apareceu quando era tarde. Fernando Santos disse que tinham de entrar para ganhar e entraram para empatar, com essa saudade, esse estigma da tristeza do fado. Tristes e subjugados pelo fracasso”, acrescenta o mesmo texto no El Mundo. Também o ABC critica na crónica a permanência de Cristiano Ronaldo na equipa nacional, à semelhança do que acontece no La Vanguardia, que fala de um capitão português “que já não é o que era”.