Como há muito os analistas vêm a alertar, este Inverno adivinha-se particularmente difícil para os europeus devido à dependência do gás russo. Com o frio à porta e o corte, por tempo indeterminado, no abastecimento de gás da Rússia para os países da União Europeia, os Governos dos diferentes Estados-membros procuram lidar com esta crise e limitar o seu impacto. Os cortes são mais que expectáveis e, em França, já se admite a possibilidade de limitar o fornecimento de energia em actividades não essenciais, onde se inclui o carregamento de veículos eléctricos, durante os períodos em que a rede eléctrica é mais solicitada.
A restrição que está em cima da mesa deverá ser implementada apenas em dias úteis, nas horas de pico, nomeadamente entre as 08h00 e as 13h00 e das 18h00 às 20h00. Ou seja, em cinco dos sete dias da semana, os franceses que conduzem carros eléctricos poderão ter que planear a recarga do seu veículo no “intervalo” destas sete horas de interdição. Segundo a primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, esta limitação está a ser equacionada para os meses mais frios, o que significa que se poderá estender do Outono até à Primavera.
À partida, esta medida entrará em vigor apenas em caso de extrema necessidade, o que será sinalizado através do esquema de informação EcoWatt, sistema que desde 2020 avalia em tempo real o consumo energético e a disponibilidade da rede eléctrica francesa para emitir diferentes tipos de notificações num esquema de três cores (azul, verde e vermelho). Será precisamente em caso de alerta vermelho que os utilizadores de veículos eléctricos se verão pontualmente impedidos de recarregar, mas o aviso é efectuado com três dias de antecedência. Por isso, o Governo francês aconselha os interessados a recarregar o seu carro eléctrico na noite anterior ao início da proibição. De referir que este eventual constrangimento não será permanente e não impedirá os chamados “recarregamentos de emergência”.
É um facto que a recarga de veículos eléctricos extrai muita energia da rede, mas também é um facto que apesar de a venda deste tipo de automóveis continuar a crescer, a realidade é que a frota ainda é pouco expressiva num parque automóvel dominado por viaturas equipadas com motor de combustão. Por outro lado, sai mais barato para o utilizador recarregar a bateria nos chamados períodos em vazio, pelo que os efeitos desta eventual proibição potencialmente não afectarão muitos condutores franceses.
Esta medida inscreve-se no âmbito do plano de acção provisório da rede eléctrica francesa (RTE) para o Inverno 2022-2023, traçado para reduzir o consumo de electricidade do país entre 1 e 5%, ou até 15% no cenário mais extremo. De recordar que, em situações extremas, outros países já adoptaram medidas semelhantes. Ainda este ano, quando uma onda de calor intensa assolou a China, as autoridades locais trataram de impor limites ao carregamento de veículos a bateria, fechando postos de carga públicos ou restringindo-lhes o acesso. Tudo em nome da prioridade de assegurar as necessidades eléctricas mais críticas.