É contra tabus e diabolizações do liberalismo e num combate à estagnação e ao socialismo que a Iniciativa Liberal se apresenta nas primeiras jornadas parlamentares da história do partido. Rodrigo Saraiva, líder da bancada da IL, foca-se na necessidade de “crescimento”, de trabalhar numa “alternativa estrutural à governação socialista” e, citando João Cotrim Figueiredo, deixa uma promessa ao primeiro-ministro: continuará a ter “motivos para perder as estribeiras e perder as maneiras”. Isto numa alusão à forma como António Costa se dirigiu a João Cotrim Figueiredo no último debate de política geral no Parlamento.
Num discurso centrado entre a normalização do liberalismo em Portugal e o ataque à governação de António Costa, o fundador da IL enaltece o facto de o partido ter conseguido “derrotar” velhos tabus. “Liberal deixou de ser uma palavra banida para se tornar uma palavra ouvida, para desespero dos que imaginam ser donos da democracia e que fazem vénias às mais repugnantes democracias do planeta”, começou por atirar, frisando que foi colocado um ponto final na “interdição da palavra liberal”.
Qual diabo chamado ao discurso, Rodrigo Saraiva usou-o a favor dos liberais: “O liberalismo foi durante demasiado tempo diabolizado em Portugal.”
O partido não renega a meta de ser poder a médio prazo, diz que o usará “sobretudo para o devolver às pessoas” e reitera a ideia de que é preciso mudar as mentalidades, a começar por deixar de olhar para a palavra iniciativa com “suspeição”.
Como “prioridade nacional”, a IL estabelece o “combate à estagnação”, apontando que há necessidade de “pôr fim ao flagelo” e de colocar Portugal na “rota do crescimento” e para travar “o caminho para o socialismo que se tornou a rota da pobreza endémica com o empobrecimento da classe média e o elevador sempre estacionado no R/C”.
Rodrigo Saraiva foi perentório ao dizer que “é impossível alcançar resultados diferentes quando a receita nunca muda num jogo de cadeira onde são sempre os mesmos a sentar-se”.
Desta forma, assegura que a IL não pretende “contribuir para uma mera alternância”, mas sim para uma “verdadeira alternativa”, libertando a sociedade civil do “colete de forças deste estado tentacular”.
É no passado que vai buscar força para a tese em que acredita para o futuro: “Somos fiéis ao espírito e letra da Constituição liberal de 1822 que afirmava ter como objetivo manter a liberdade, segurança e propriedade de todos os portugueses.”
Pegando na ideia traçada por João Cotrim Figueiredo no evento dirigido aos jovens liberais, Rodrigo Saraiva afirmou que o crescimento está dependente da mudança de mentalidades e de uma “profunda reforma na educação” — sendo este o destaque das jornadas parlamentares.
O partido pretende descentralizar as competências das escolas e dar-lhes autonomia, mas também “reabilitar a cultura do mérito” e “intensificar a exigência em todos os graus do ensino”. E propõe fazê-lo “sem facilitismos” e com a “promoção de patamares de avaliação para alunos e professores”.
Depois de traçados os problemas, o alvo a abater foi o PS e aquilo a que a IL chama de “propaganda”. “É inaceitável a forma como o Governo PS fez propaganda com o acesso a creches”, frisou, criticando o Executivo por “encher a boca a falar em Estado social” e ter deixado “degradar os serviços públicos”.
Da “incapacidade do Estado de prestar serviços eficazes e competentes noutros domínios cruciais”, ao estado da Saúde, da “segurança social sem garantia de sustentabilidade futura”, dos “tribunais sem meios para julgarem em tempo útil”, da “asfixiante carga fiscal que desencoraja o investimento e a criação de postos de trabalho” e de um país que “continua a levar muitos jovens a seguir a via da migração em busca de países onde o fruto do seu trabalho não seja sugado pelo Estado”, Rodrigo Saraiva culpa o PS por apresentar uma “diferença enorme entre a propaganda socialista e a realidade”.
“A Iniciativa Liberal tem exposto e denunciado vez após vez, para desgosto do PS e do primeiro-ministro a quem, porque não tem melhores argumentos, perde as estribeiras e perde as maneiras”, apontou, numa referência ao tom de António Costa no debate de política geral, em que comparou Cotrim Figueiredo a André Ventura.