João Cotrim Figueiredo, em modo de Ted Talk, debruçou-se sobre o tema da cultura na política portuguesa para mostrar aos jovens liberais que é preciso começar por mudar as mentalidades. Trocar a segurança pela liberdade, o compadrio pelo mérito e o “respeitinho” pela “desconfiança saudável em relação ao poder”: uma espécie de sete pecados que a IL quer transformar em soluções.

Estavam lançados os dados para uma palestra sucinta sobre uma nova forma de olhar para a política que, sabe o Observador, o presidente da Iniciativa Liberal começou a incutir durante as chamadas Rotas Liberais, em que Cotrim Figueiredo tem marcado presença em vários distritos para trabalhar na aproximação a zonas menos urbanas.

“Mais do que a força dos votos o que está a transformar Portugal é a força das ideias”, começou por realçar o líder liberal, sublinhando que a IL tem não só uma “alternativa política” como uma “alternativa de cultura política” e uma “força de transformação cultural”.

Ponto por ponto, foi desconstruindo a ideia, começando por notar que os cidadãos aceitam com muita facilidade a segurança e a cautela. Citando Benjamin Franklin, Cotrim Figueiredo recordou que “quando trocamos alguma da nossa liberdade por alguma segurança não merecemos nenhuma delas”. “Quando na tensão entre segurança e liberdade houver uma dúvida, estamos do lado da liberdade.”

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De seguida, Cotrim Figueiredo quer trocar o “conformismo” pela “ambição” e atribuiu culpas à governação e ao socialismo. “As pessoas acham que o conformismo é normal e o exemplo vem de cima. O primeiro-ministro não quer mais do que tem hoje”, sublinhou o líder liberal, frisando que “não há ambição”.

Entre gritos de “mudança”, que o presidente da IL pediu à plateia para cada vez que mudasse um dos slides da apresentação, Cotri Figueiredo quis deixar a certeza que o “imobilismo” precisa de dar lugar ao “risco”.

“O risco deixou de ser uma coisa que se corre calculadamente para se evitar a sete pés, seja qual for o grau de risco”, afirma, convencendo os jovens liberais de que nem sempre é preciso um “motivo certo para não correr um risco”. “Corra-se e experimente-se, porque é sempre pior as consequências do que não fazemos numa situação de emergência do que aquilo que fazemos com vontade de experimentar.”

O quadro de Cotrim Figueiredo continuou a ser pintado para priorizar o “mérito” e criticar o “compadrio”, dando o exemplo da Administração Pública, mas também do “amigo do amigo”, do “detentor do cartão” e “de quem menos chateia o partido” que vai para os cargos de responsabilidade.

“Temos de introduzir uma verdadeira cultura de mérito, quem tem capacidade de fazer mais e melhor, seja em que área for, deve ser destacado e deve-se poder desfrutar dos frutos desse mérito”, salvaguardou o presidente da IL.

Cotrim Figueiredo pediu ainda que se tenha a capacidade de trocar aquilo a que chamou “respeitinho” por uma “desconfiança saudável em relação ao poder”.

“Os liberais têm uma desconfiança do poder que atrai e corrompe.”  O liberal alertou que não se trata de “cinismo” e “muito menos em anarquismo”, reiterando que tem de haver uma “cultura de desconfiança saudável”.

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No seguimento, realçou que a “impunidade” deve ser substituída pela “responsabilidade” e pela necessidade de haver uma cultura que responsabilize as ações de cada pessoa e deu o exemplo do PS para ilustrar o caso.

“Nisto o PS tem sido um dos principais responsáveis, nunca ninguém responde por nada. O ministro Cabrita demorou mais de um ano a ser demitido quando bastava o primeiro dos casos e continuamos com casos destes. E quando levantamos o caso da ministra da Coesão e do seu marido não estamos a dizer que o problema é jurídico, o problema é de ético, de impunidade, não pode haver um subsídio atribuído a alguém que é cônjuge de alguém que gere os fundos”, exemplificou.

Para completar os sete pecados que foi enumerando, a Cotrim Figueiredo quis fazer notar que é preciso abandonar a “propaganda” e dar espaço à “verdade”.

“As que são e as que se dizem parece que não têm nada a ver uma com a outra, não só no exemplo das pensões, mas de coisas que são ditas nas decisões governamentais e que na prática são o contrário”, segundo o líder liberal.

No final, Cotrim Figueiredo enalteceu várias ideias sobre as ideias em que a Iniciativa Liberal deve assentar: competência, criatividade, coragem, humildade. E aquilo que deve ser evitado: culto da personalidade, achismos e bitaites e politiquice e intriga.

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“Tudo o que tem a ver com organização e gestão do Estado mais cedo ou mais tarde dá problemas”, insistiu o líder da IL, sublinhando que estes problemas poderiam ser resolvidos se na Administração Pública houvesse “gente mais capaz, movida pelo mérito”, e “não dependente se tem ou não cartão do PS”.

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Aos olhos de Cotrim Figueiredo, “o PS não faz ideia como é que há-de meter o país a crescer e como é que há-de gerir a coisa pública e já perdeu a matriz que tinha de defesa das liberdades fundamentais”.

Ainda numa referência do debate de política geral com António Costa, Cotrim Figueiredo sublinhou que “sem a IL ainda se estava a achar normal ter enterrado 3,2 milhões de euros na TAP”.

“A TAP que nunca era para ser privatizada e que, agora, já vai ser e depressa e, claro, talvez se perda dinheiro. O primeiro-ministro espera que não e todos nós temos a certeza que sim”, garantiu.

João Cotrim Figueiredo lembrou ainda a forma como António Costa lhe falou no debate — onde o comparou com André Ventura — e atirou-se ao primeiro-ministro: “Da IL vai ter e continuar a ter razões para perder as estribeiras e as maneiras porque a IL não vai desistir de transformar Portugal um país mais liberal.”