Chamava-se Eduardo II e reinou entre 7 de julho de 1307 a 21 de janeiro de 1327. Também conhecido por Eduardo de Caernarfon, foi forçado a abdicar do trono em 1327, mas até lá chegar, o seu reinado foi marcado por grandes confrontos com os nobres, ao ponto de o próprio rei proibir o uso da força nas assembleias.

Era o quarto filho homem do rei Eduardo I e Leonor de Castela, a sua primeira mulher, e herdeiro ao trono, a seguir à morte do irmão Afonso. A partir de 1300, já acompanhava o pai em campanhas de pacificação da Escócia, e foi na abadia de Westminster que foi ordenado cavaleiro. Em 1307, Eduardo II é coroado rei, e passado um ano, une-se em matrimónio a Isabel da França, filha do rei Filipe IV, para amenizar o ambiente entre as coroas inglesa e francesa. Mas a relação íntima que manteria com o Conde da Cornualha terá sido o rastilho para verdadeiras batalhas contra os barões da corte.

Eduardo II era amigo de infância de Piers Gaveston, Conde da Cornualha. Nascido por volta de 1284, sem registo de data exata, era o favorito do rei e provinha da Gasconha, uma região a sudoeste de França (e por esses dias território inglês), famosa por ser a terra natal de D’Artagnan, o herói de Alexandre Dumas.

Piers Gaveston começou a frequentar a corte inglesa ainda muito pequeno e tornou-se o melhor amigo do (ainda) príncipe Eduardo. Nunca foi transparente a natureza da relação entre os dois, correndo rumores de que poderiam ser amantes ou até mesmo irmãos de sangue.

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Verdade é que o pai, o rei Eduardo I, desconfiava desta amizade e sentia uma forte influência negativa de Piers sobre Eduardo. Rapidamente, exilou o nobre para a Gasconha. Porém, quando Eduardo II assume a coroa, em 1307, não perde tempo em chamar o melhor amigo de volta, oferecendo-lhe o condado da Cornualha e concedendo-lhe e a mão da sobrinha Margarida de Gloucester.

Inveja e intriga

As ofertas e privilégios concedidos ao conde, bem como o óbvio favorecimento em relação a outros elementos da corte, deixava pouca margem para dúvidas. Poderiam ser bons amigos, amantes ou até “irmãos de armas”, algo muito comum na Idade Média. Séculos mais tarde, a peça Eduardo II, escrita em 1592, por Christopher Marlowe, retratou a possível relação homossexual do rei, sem nunca haver provas concretas de que se terá consumado.

Mas da fama não se livrou o monarca e o escândalo incendiava o quotidiano na corte. Muitos nobres sustentavam que o laço entre os dois era a razão de muita negligência do rei nos assuntos da coroa. Além disso, a arrogância do preferido do soberano provocava o descontentamento entre os barões ingleses e a família real francesa. Num encontro realizado em abril de 1308, onde todos os nobres estariam a usar armadura, os barões forçam Eduardo II a enviar Gaveston para o exílio.

Sem espadas nem armaduras

O braço de ferro culminaria nas Ordenanças de 1311, onde se proclamava menos poder ao rei e mais força à nobreza e ao clero. Mas os combates mantinham-se, sobretudo entre Eduardo II e o seu primo Tomás de Lencastre, o principal inimigo de Gaveston. Terá sido no desenrolar de todos estes acontecimentos que o rei Eduardo II consegue instituir a proibição de armadura no Parlamento, depois de várias tentativas e de muitos nobres armados a desafiar abertamente o rei.

A promulgação do estatuto dá-se em 1313, na quinta tentativa de Eduardo II travar a tendência dos seus nobres para usar a ameaça da força armada como meio de pressão no parlamento. Proibições semelhantes já teriam sido também emitidas em outubro de 1308, fevereiro de 1310, outubro de 1311 e agosto de 1312.

Ficou então escrito que “todos os homens devem entrar sem armadura, algo a vigorar por todo o reino de Inglaterra”. Desde a idade Média que não há registo de incidentes com armaduras nas assembleias de Inglaterra, mas o ato é punido até nos dias de hoje. Sem certezas quanto à pena, o primeiro passo será chamar a polícia.