Se os veículos eléctricos trouxeram algumas boas surpresas à indústria automóvel, entre elas temos de incluir o novo Smart #1 (ler mesmo hashtag one). A simpática marca, que viveu nos últimos tempos da comercialização de apenas um citadino eléctrico com dois lugares e 2,69 m de comprimento, o EQ Fortwo, com uma mecânica fornecida pela Renault com 82 cv alimentada por uma bateria de 17,6 kWh, que necessitava de 11,6 segundos para chegar aos 100 km/h, para depois estar limitado a 130 km/h e a uma autonomia de 132 km, foi substituído por um pequeno SUV, igualmente eléctrico mas com outro potencial para atrair clientes.

O novo Smart #1, que agora pertence 50% aos chineses da Geely e não apenas à Mercedes, é uma proposta completamente distinta e muito mais evoluída. Começa por possuir, finalmente, uma plataforma específica para veículos eléctricos, com o #1 a ser não só o maior e mais potente modelo da Smart, como o seu primeiro SUV e um dos mais rápidos e eficientes do segmento, sendo ainda proposto por um preço competitivo.

Desenhado pela Mercedes mas produzido pela Geely

O Smart #1 foi desenhado pela Mercedes, como se torna evidente pelo design da frente e da traseira, mas tudo o resto é do outro sócio do projecto, a Geely do chinês Li Shufu, que começa desde logo a assegurar a produção na China, de onde é exportado para o resto do mundo. Para dar corpo ao Smart#1, o primeiro SUV (ou crossover) desta marca que trocou os anteriores citadinos por esta nova filosofia, a Smart recorreu à plataforma SEA da Geely, concebida de raiz para modelos eléctricos animados por bateria. Isto permite optimizar as dimensões, uma vez que a frente pode ser mais curta, uma vez que nunca irá ter de alojar um motor de combustão e a volumosa caixa de velocidades que o acompanha, mas assegura igualmente uma maior rigidez torcional e um peso mais reduzido.

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Com 4,27 metros de comprimento, 1,822 m de largura, 1,636 m de altura e uma distância entre eixos de 2,75 m, o Smart #1 assume-se como um SUV mais baixo do que é normal para que a aerodinâmica não o prejudique, o que significa que vai concorrer contra uma série de veículos eléctricos, do Renault Mégane E-Tech Eléctrico (ligeiramente mais curto e mais baixo, com 4,199 m, 1,768 m, 1,505 m e 2,685 m) ao VW ID.3 (com o mesmo comprimento, mas igualmente mais baixo, com 4,261 m, 1,809 m, 1,568 m e 2,771 m).

Os clientes podem ainda considerar o #1 como alternativa ao Volvo C40 Recharge e ao Mercedes EQA, tanto mais que este último pode ser considerado um parente próximo. Mas como estes ainda não recorrem a plataformas específicas para modelos a bateria, vamos concentrar-nos apenas nas propostas da VW e da Renault, ambas com acumuladores com capacidades próximas dos 60 kWh úteis, o ID.3 com 204 cv e 58 kWh e o MéganeE-Tech com 218 cv e 60 kWh. Comparado com eles, o Smart com 272 cv e bateria de 62 kWh reivindica um peso de 1788 kg, similar ao Renault (1711 kg) e ao VW (1813 kg).

Surpreende pelos materiais, software e espaço

Entrar a bordo do #1 é uma operação simples, face à altura dos assentos e do modelo, com as portas sem aro superior a darem um ar da sua graça, quando abertas. O espaço é bom à frente e atrás (a generosa distância entre eixos ajuda), não perdendo em nada para os melhores concorrentes, com o assento posterior a deslizar longitudinalmente 12 cm, podendo privilegiar o espaço para as pernas de quem se senta atrás ou, em alternativa, a volumetria da bagageira. Esta oscila assim entre 273 e 313 litros, o que não é um recorde no segmento, existindo ainda uma mini mala à frente, com somente 15 litros, que pode acolher um cabo de carga.

Se o espaço agrada, a decoração interior não lhe fica atrás, com os plásticos pintados a fazerem um bom conjunto com a restante decoração. Na unidade que conduzimos, com o nível de acabamentos Premium, o mais sofisticado para a versão só com um motor (o outro é o Pro+), o interior era vermelho e branco, em linha com o ar jovial e desportivo do #1.

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O pequeno painel de instrumentos em frente ao condutor é funcional e legível, com o ecrã central a permitir controlar a generalidade das funções do SUV compacto, que disponibiliza botões de acesso directo para agilizar a selecção do que interessa ao condutor. O interessante é que o sistema é fácil de usar e inteligível, melhor do que o utilizado por muitas marcas europeias. E já permite actualizações OTA (over-the-air) para todo o tipo de funções, tendo ainda a vantagem de ter sido concebido pela Geely, através da sua empresa de software ECARX que, segundo os seus responsáveis, veremos igualmente noutras marcas do grupo chinês, como a Polestar e a Volvo.

#1 é o eléctrico mais potente do segmento

Uma das maiores surpresas do Smart #1 é que não oferece uma versão pouco potente, para ser baratinha e com maior autonomia. Nada de baterias com 40 ou 50 kWh, o normal neste segmento, e muito menos motores com duas centenas de cavalos ou menos, para fazer “estender” a autonomia. O Smart menos possante monta apenas um motor, instalado no eixo traseiro, mas tem uns impressionantes 272 cv, o que lhe permite acelerar até aos 180 km/h (a que está limitado), depois de passar pelos 100 km/h ao fim de apenas 6,7 segundos, valores que colocam a concorrência em sentido.

Mas se o cliente quiser aceder ao melhor que o #1 tem para oferecer, pode sempre optar pela versão mais desportiva, a Brabus, que monta dois motores eléctricos, um por eixo para assegurar a tracção integral. Na traseira continua instalado o motor com 272 cv e 343 Nm, para à frente surgir agora uma unidade com 156 cv e 200 Nm, o que atira a potência total para os já mencionados 428 cv e um binário de 543 Nm.

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Para alimentar a mecânica, a Smart recorre a um único pack de baterias com 66 kWh de capacidade (62 úteis), que permite percorrer 400 km segundo o método europeu WLTP, se instalado no #1 Brabus, para a autonomia subir para 440 km (WLTP) se montado na versão com tracção traseira e 272 cv. Para diminuir o tempo necessário para recarregar a bateria, o #1 aceita potências de até 150 kW em DC (o que permite ir de 10% a 80% em 30 minutos) e 22 kW em AC. Outro dos trunfos do novo Smart, em que o modelo bate a concorrência, prende-se com a sua capacidade de rebocar atrelados com 1600 kg, se equipados com travões.

Divertido de conduzir, mas confortável

Conduzimos o novo Smart nos arredores de Lisboa, um #1 Premium branco por fora e vermelho e branco por dentro. Começámos por circular em cidade onde conseguimos um consumo de 16,7 kWh/100 km num percurso de 52 km, durante o qual comprovámos que o SUV da Smart está, acima de tudo, preocupado com o nível de conforto que proporciona a quem vai a bordo. Igualmente positiva é a ausência de ruídos parasitas, mesmo nas ruas mais esburacadas da capital, o que confirma a maior rigidez torcional dos veículos eléctricos, que neste caso é também sinal de uma construção cuidada.

Depois da cidade veio a auto-estrada, com o #1 a exigir 20,6 kWh/100 km, a uma velocidade de 120 km/h. Esta fase do teste permitiu-nos colocar à prova os ADAS do #1, os sistemas de ajuda à condução, com destaque para o Smart Pilot Assist, que permitia conduzir de forma mais relaxada dado o SUV seguir dentro da sua faixa de rodagem. No global, atingimos uma média de 18,8 kWh/100 km, o que não sendo um dos valores mais baixos, figura entre os melhores, especialmente se tivermos em conta a potência do motor, que nos desafiava constantemente a acelerar mais do que seria necessário.

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Num traçado mais sinuoso, o “nosso” Smart revelou um comportamento equilibrado e eficiente, sem contudo ser desportivo e, mais uma vez, com o conforto a liderar as prioridades. Explorando a emocionante capacidade de aceleração, o #1 devora as rectas e descreve as curvas com grande à-vontade, com o motor traseiro a provocar algumas perdas de aderência, para apimentar a condução, o que era prontamente controlado pelo controlo de tracção.

Se a versão normal do #1 está limitada a uma velocidade máxima de 180 km/h, mas é capaz de ir de 0-100 km/h em 6,7 segundos, o #1 Brabus aproveita os 428 cv para superar esta fasquia ao fim de 3,9 segundos. Isto significa que não só o Smart é o eléctrico mais rápido do segmento C, como bate desportivos emblemáticos do segmento superior, como o Porsche 911 4S (4,2 seg) ou, entre os eléctricos, o Ford Mustang Mach-E GT (4,4 seg). Até entre os Tesla, tradicionalmente considerados muito rápidos, o #1 Brabus coloca-se entre o Model 3 Long Range (4,4 segundos) e o Model 3 Performance (3,3 segundos).

Preços a partir de 40.950€

De acordo com os responsáveis da Smart, depois das primeiras (e poucas) unidades da Edição Limitada chegarem ao nosso mercado, propostas por 45.750€, começarão a chegar a Portugal as versões ditas normais do Smart #1 a partir de Maio, cerca de um mês mais tarde do que esteve inicialmente previsto. O #1 Pro+, o mais acessível, exige um investimento de 40.950€, sendo o único que não monta uma bomba de calor no sistema de refrigeração e aquecimento, o que o leva a ser 20 km menos eficiente em matéria de autonomia. Mas tal não o impede de oferecer já um nível interessante de equipamento.

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O #1 Premium tem chegada marcada igualmente para Maio, sendo esta versão a mais sofisticada e equipada, implicando um custo adicional de 3500€ (total 44.450€). O último a chegar ao mercado português será o Brabus, mas não muito depois dos seus “irmãos” com apenas tracção traseira. Proposto por 48.450€, o mais desportivo dos Smart promete agitar as águas e cativar os que procuram um eléctrico rápido e emocionante mas, ainda assim, relativamente acessível.