O Portugal Fashion, evento que promove a moda nacional aqui e além-fronteiras, vive dias de indefinição e incerteza. O projeto criado em 1995, pela Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) e ATP – Associação de Têxtil de Portugal, era tradicionalmente financiado em 85% por fundos europeus, mas com o fim do programa Portugal 2020, está em risco de não se realizar já a partir do próximo ano. “Não fazemos ideia de como será o nosso caminho no próximos cinco ou seis anos, continuamos à espera. 2023 está efetivamente em risco”, diz ao Observador Alexandre Meireles, presidente da ANJE.
A organização do Portugal Fashion pretende candidatar-se ao novo quadro comunitário Portugal 2030, de forma a poder garantir a realização do evento duas vezes por ano em Portugal e a dar continuidade à internacionalização do setor, mas até ao momento não tem qualquer informação sobre o processo de candidaturas nem como o poderá fazer. “Não temos onde nos enquadrar”, sublinha o presidente da ANJE, explicando que a edição passada, realizada em março, só foi possível graças a um “apoio extraordinário da verba”.
“Desta vez esse apoio não foi possível, o que entendo perfeitamente, mas achamos estranho que isso só nos tenha sido comunicado a um mês de o evento começar. Pedimos há três semanas uma audiência com caráter de urgência ao Ministro da Economia para esclarecer a gestão deste processo e perceber o que podemos fazer daqui para a frente, mas até agora não tivemos qualquer resposta. Só o Governo pode desbloquear e acelerar esta questão.”
Alexandre Meireles frisa que o Portugal Fashion é o “único evento que internacionaliza a moda portuguesa”, conta atualmente com apoio de parceiros privados, a autarquia do Porto e patrocinadores, estando nos últimos anos “cada vez menos dependente” de fundos europeus, ainda assim lamenta o “excesso de burocracia” na atribuição deste tipo de financiamentos e a “falta de agilidade” política.
A 51.ª edição do evento arranca na próxima quarta-feira no Porto e para Mónica Neto, diretora do Portugal Fashion, será sinónimo de um “esforço e investimento” completamente excecionais por parte da ANJE e de todos os seus parceiros. “Ficar com metade do orçamento de um dia para o outro é uma coisa brutal. Em março tivemos um orçamento de 900 mil euros, sendo 50% deste valor oriundo de fundos comunitários, orçamento esse que passa agora para 450 mil. Claro que as pessoas vão notar algumas diferenças”, adianta ao Observador, acrescentando que a opção de distribuir o calendário de desfiles por dez moradas diferentes pela cidade é uma estratégia de atração de investimento e visibilidade.
Reduzir o número e o budget de manequins ou interromper a aposta na emissão streaming dos desfiles são algumas das mudanças que serão visíveis, assim como a ausência este mês nas semanas de moda internacionais de criadores como Alexandra Moura, Miguel Vieira ou David Catalán, presenças alavancadas pelo Portugal Fashion. “Deixar de ter um evento que tem esta representação económica e desenvolvimento de negócio da forma como ela existe atualmente terá um impacto considerável para muitos dos que estão connosco. Não acontecer uma edição do Portugal Fashion é deixar 40 designers e marcas sem oportunidade de apresentação das suas coleções à imprensa, ao público, aos buyers e ao mundo.”
Mónica Neto destaca a importância económica do evento e do setor e pede uma estratégia nacional estável e equilibrada. “Gostava que enquanto país olhasse para esta área como algo complementar à indústria têxtil e a valorizasse de forma diferente. O design, a moda de autor e as marcas são o motor que alavanca todo um ecossistema que emprega muitas pessoas e exporta milhões anualmente. Valorizar esta componente e dar-lhe estabilidade seria muito importante.”