Nunca antes se tinha detetado um elemento químico tão pesado num exoplaneta. Agora, uma equipa liderada pelo Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) detetou bário — 2,5 vezes mais pesado do que o ferro —, na atmosfera não de um, mas de dois exoplanetas. Algo que os investigadores consideraram inesperado.

WASP-76b e WASP-121b são dois planetas invulgares: o seu tamanho é semelhante ao de Júpiter, mas as temperaturas à superfície são extremamente elevadas, acima dos 2.000 ºC. Os planetas gasosos do sistema solar são bem mais frescos: a temperatura de Júpiter é de cerca de 110 ºC.

Os dois planetas são tão quentes porque se encontram muito perto das estrelas-mãe, respetivamente, as estrelas WASP-76 e WASP-121. Mas nem o nosso Mercúrio, o planeta mais próximo do Sol, chega a temperaturas tão altas: no máximo, 427 ºC. Aliás, estes exoplanetas estão tão próximos da estrela-mãe que completam uma órbita em menos de dois dias — Mercúrio precisa de 88.

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Já se tinha colocado a hipótese de que no exoplaneta WASP-76b houvesse nuvens metálicas e chovesse ferro, mas até ao momento não tinha sido encontrado um elemento tão pesado como o bário.

Dada a elevada gravidade dos planetas, esperaríamos que elementos pesados como o bário caíssem rapidamente nas camadas mais inferiores da atmosfera,” explica um dos co-autores deste trabalho, Olivier Demangeon, investigador no Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), no Porto.

Tomás Azevedo Silva, estudante de doutoramento da Universidade do Porto e do IA, que liderou o projeto, admite que foi uma “descoberta acidental”. “Não estávamos à espera de algo assim, nem estávamos tão pouco à procura de bário. Tivemos que confirmar que este resultado vinha efetivamente do planeta, uma vez que nunca tinha sido observado bário anteriormente em nenhum exoplaneta.”

O bário, como outros elementos químicos na atmosfera dos exoplanetas, são detetados através de um equipamento que analisa a luz das estrelas filtrada pela atmosfera dos planetas. O instrumento ESPRESSO está montado no telescópio VLT, situado no Observatório Europeu do Sul, no Chile. Os resultados foram publicados esta quinta-feira na revista científica Astronomy & Astrophysics.

Da próxima vez que assistir a espetáculo de fogo de artificio e vir a iluminação verde causada pela combustão do bário pode imaginar que espetáculo de luzes existirá na atmosfera destes júpiteres ultra-quentes.