Dois espiões chineses foram formalmente acusados pelas autoridades dos EUA de terem tentado subornar um agente americano com o objetivo de obter informações confidenciais sobre o caso movido pela justiça americana contra a Huawei.

Há vários anos que os EUA acusam a China de tentar interferir na política e na economia norte-americana e de tentar roubar propriedade intelectual do país. Nos últimos anos, a guerra chegou à Huawei, empresa tecnológica chinesa que os EUA acusam de funcionar como agência de Pequim no exterior.

Em fevereiro de 2020, o Departamento de Justiça dos EUA moveu um processo contra a Huawei por suspeitas de extorsão e conspiração para obter ilegitimamente informações confidenciais. Foi sobre esse processo que os dois espiões chineses, identificados como Guochun He e Zheng Wang, terão tentado obter ilegalmente informações em nome do governo chinês através de subornos.

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A acusação foi divulgada pelo gabinete do procurador geral dos EUA, Merrick Garland, que classificou a atuação dos agentes chineses como uma tentativa de “interferir com os direitos e as liberdades dos indivíduos nos EUA e minar o nosso sistema judicial, que protege esses direitos”.

“O Departamento de Justiça não vai tolerar tentativas de qualquer país estrangeiro de minar o estado de direito sobre o qual a nossa democracia está construída”, acrescentou Garland, em declarações prestadas numa conferência de imprensa e citadas pelo The Guardian. “Esta foi uma tentativa flagrante por parte de agentes de informações da República Popular da China de proteger uma empresa chinesa da responsabilização e de minar a integridade do nosso sistema judicial.”

De acordo com a documentação agora revelada, os dois espiões entraram em contacto com um funcionário governativo norte-americano e ofereceram-lhe 61 mil dólares em criptomoedas para que ele partilhasse com os chineses um conjunto de documentos relacionados com o processo judicial contra a Huawei, incluindo listas de testemunhas e a estratégia da defesa.

Os espiões acreditavam que aquele funcionário tinha sido recrutado por Pequim e se encontrava a prestar informações ao governo chinês — mas era, na verdade, um agente duplo ao serviço de Washington.

O agente recebeu os pagamentos e, em troca, entregou aos espiões chineses um conjunto de documentos falsos, preparados pelo Departamento de Justiça. Num segundo momento, depois de um novo pagamento, o agente duplo entregou aos chineses um outro documento que simulava uma nota estratégica interna.

A justiça norte-americana acredita que situações como esta evidenciam que a China viola normas do direito internacional nos seus esforços para se assumir como uma potência global — e representa uma ameaça à segurança dos EUA. Os dois espiões são atualmente objeto de mandados de detenção que, provavelmente, nunca poderão ser cumpridos.