A decisão do governo de Macau de cancelar o último dia da 25.ª Festa da Lusofonia é um exemplo das “decisões discriminatórias em relação à comunidade lusófona”, defendeu esta quinta-feira o deputado José Pereira Coutinho.

As autoridades de Macau cancelaram no domingo o último dos três dias da Festa da Lusofonia, a decorrer na zona das Casas da Taipa, após terem registado mais de uma dezena de casos de Covid-19 em menos de uma semana.

A medida foi “desnecessária, desproporcional e discriminatória“, sobretudo tendo em conta que “não foi aplicado o mesmo critério a algumas outras festas que decorreram no mesmo dia”, sublinhou o único deputado português na Assembleia Legislativa (AL) de Macau.

As autoridades de saúde emitiram “um autêntico atestado de irresponsabilidade aos organizadores do evento, e à população em geral, que, tal como em anos anteriores, voltou a aderir em grande número”, defendeu Pereira Coutinho.

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No período antes da ordem do dia numa sessão da AL, o deputado apelou ao Governo para atribuir às associações das comunidades lusófonas em Macau que organizam o Festival do Lusofonia “um subsídio de compensação para os prejuízos incorridos“.

O Festival da Lusofonia é um evento anual marcado por mostras culturais, espetáculos de música e dança, jogos tradicionais portugueses e gastronomia típica de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

Pereira Coutinho descreveu o festival como “o evento multicultural de excelência da RAEM [Região Administrativa Especial de Macau], que constitui uma importante partilha da cultura das comunidades de língua portuguesa com a cultura chinesa”.

O deputado disse que as autoridades demonstraram “falta de sensibilidade” e que “ainda não reconheceram ao Festival da Lusofonia a importância cultural que lhe deve ser atribuída”, embora o “discurso oficial apele à promoção da cooperação” sino-lusófona.

Pereira Coutinho acrescentou que as “decisões discriminatórias em relação à comunidade lusófona” são “um fator desmotivante e de frustração” para associações que “muito têm contribuído” para aproximar a China e os países de língua portuguesa.

No domingo, horas depois do cancelamento do último dia do Festival da Lusofonia, o presidente da Associação dos Macaenses, Miguel Senna Fernandes, lamentou “a falta de senso” da decisão.

“Trata-se de um evento que veio para afogar as amarguras da frustração, da erosão comunitária, da perda de tino e do isolamento quase doentio”, escreveu Senna Fernandes na rede social Facebook.

“Só falta saber se cancelariam o Festival da Gastronomia e o Grande Prémio, nas mesmas condições“, acrescentou o dirigente da associação representativa da comunidade lusodescendente.

Macau, que segue a política de casos zero imposta por Pequim, registou, desde o início da pandemia, seis mortes e 2.573 casos, incluindo assintomáticos, de Covid-19.

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