Uma hora de reunião entre direção e grupo parlamentar pouco ou nada de concreto sobre o projeto de revisão constitucional que o PSD vai entregar na Assembleia da República. A menos de um dia de Luís Montenegro apresentar o documento no Conselho Nacional do partido, alguns deputados sociais-democratas queixam-se de continuarem às escuras e acusam a atual direção do partido de ter criado um simulacro de debate para esvaziar as críticas de que tem sido alvo.

Segundo conseguiu apurar o Observador junto de fontes presentes na reunião do grupo parlamentar, António Leitão Amaro, vice-presidente do PSD, limitou-se a apresentar linhas gerais do documento que vai ser apresentado.

“Não houve nada para discutir. Não deu sequer para discutir. Querem guardar mesmo segredo“, lamentou um dos deputados presentes, acusando a direção social-democrata de não ter apresentado “rigorosamente nada de concreto” de forma deliberada.

“Não houve nada. Só linhas gerais”, confirma outro deputado social-democrata. De acordo com o que apurou o Observador, a direção do PSD limitou-se a dizer que pretende uma “Constituição moderna, reformista, com reforço da autonomia regional e coesão territorial, assente no primado da pessoa humana”. Sem mais. “Uma mão cheia de nada“, insiste outro deputado do PSD.

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“Foi uma desgraça. Estamos incrédulos. Não se conhece nada. O projeto tem de estar concluído amanhã [quinta-feira] para ser aprovado em Conselho Nacional e os deputados não são tidos nem achados”, insurge-se outro deputado social-democrata.

De resto, o próprio agendamento desta reunião — marcada para a mesma hora em que decorre a audição do ministro Costa Silva no âmbito do Orçamento do Estado para 2023 — já tinha motivado muitas críticas entre deputados do PSD, que entenderam a sobreposição de agendas como uma forma que a direção social-democrata encontrou para esvaziar o encontro. Alguns deputados acabaram mesmo por não poder comparecer à reunião.

No entanto, apesar da insatisfação revelada por alguns deputados, a verdade é que não houve intervenções críticas durante a reunião. Segundo o que explicou a direção social-democrata aos deputados do PSD, o objetivo desta reunião não foi nunca apresentar um documento fechado, mas antes ouvir os contributos do grupo parlamentar.

A equipa de Luís Montenegro desvaloriza por isso as críticas: esta reunião não servia, nem nunca serviu, para apresentar um documento fechado.

À saída do encontro com deputados, em declarações aos jornalistas, o mesmo António Leitão Amaro classificou a reunião com o grupo parlamentar como tendo sido “construtiva” e “entusiasmante“, voltando a não adiantar qualquer proposta concreta do projeto que vai ser apresentado.

Este projeto de revisão constitucional está a ser coordenado por um grupo de trabalho coordenado por Miguel Poiares Maduro e que conta com os contributos dos vices Paulo Rangel e António Leitão Amaro, entre outros.