Um jornal oficial do Partido Comunista Chinês manifestou esta terça-feira, em editorial, esperanças de que o encontro de segunda-feira, entre os líderes da China e Estados Unidos, signifique um “novo começo” nas relações bilaterais.

Num tom conciliatório, diferente do habitual, o Global Times escreveu que a reunião na ilha indonésia de Bali, onde decorre até quarta-feira a cimeira do G20, pode “abrir portas” para uma “maior comunicação entre China e Estados Unidos” e “constituir um ponto de partida” para maior cooperação.

“A China mantém a continuidade e a estabilidade na sua política em relação aos Estados Unidos, e sempre instou os EUA a fazerem a sua parte, o que não é apenas do interesse mútuo, mas também atende às expectativas da comunidade internacional“, apontou.

O artigo está em linha com as declarações de ambos os líderes após a reunião, na qual não evitaram os principais pontos de tensão na relação, incluindo a questão de Taiwan, que Pequim reivindica como território seu e que Washington tem apoiado, as disputas comerciais ou a guerra na Ucrânia, sobre a qual ambos condenaram as ameaças veladas de Moscovo de recorrer a armas nucleares.

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Biden e Xi falaram cara a cara. Mas EUA e China continuam cada um para o seu lado

“O objetivo de administrar bem as relações China – EUA não deve ser apenas o de evitar conflitos“, acrescentou o editorial, que reflete as opiniões da liderança da China sobre questões de interesse internacional.

O jornal apelou a mais reuniões, enfatizando que “nem todos os problemas podem ser resolvidos num só encontro”. O Global Times abdicou da retórica beligerante dos últimos meses, especialmente desde a visita a Taiwan, em agosto passado, da líder do Congresso dos EUA, Nancy Pelosi.

“A reunião [entre Xi e Biden] mostrou que as duas superpotências ainda têm muitos pontos de vista em comum“, referiu.

A relação entre China e EUA deteriorou-se rapidamente, nas últimas décadas, marcada por uma prolongada guerra comercial e tecnológica, e divergências sobre o estatuto de Taiwan e Hong Kong ou violações dos Direitos Humanos de minorias étnicas na região chinesa de Xinjiang.

A postura de Pequim sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia alimentou também a desconfiança. As autoridades chinesas abstiveram-se de condenar a invasão, embora Pequim tenha evitado apoio direto, como o fornecimento de armas.

Taiwan é uma das questões mais complexas. Biden afirmou por várias vezes que os EUA defenderiam a ilha, no caso de uma invasão chinesa. Funcionários do seu governo enfatizaram, no entanto, que a adesão à política de “Uma só China” dos EUA não mudou. Esta política reconhece o governo em Pequim, ao mesmo tempo em que permite relações informais e laços de defesa com Taipé.

Alguns comentários do Global Times coincidiram com as declarações de Biden contra o advento de uma nova guerra fria e estão também de acordo com a posição do G20 sobre evitar um choque entre blocos de países, causado por motivos como a invasão russa da Ucrânia.

O Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmou esta terça-feira que os membros do G20 concluíram, num rascunho da declaração conjunta, condenar a invasão russa da Ucrânia, apesar das divergências entre os seus membros.

Isto seria inédito depois de um ano em que o grupo composto pelos 20 países mais desenvolvidos e principais potências emergentes não conseguiu chegar a acordo sobre nenhum documento.