Este artigo é da responsabilidade da PLMJ

Texto: Rita Alarcão Júdice, sócia e co-coordenadora da área de Imobiliário e Turismo.

Os “cisnes verdes” são mais previsíveis do que os “cisnes negros”. Na verdade, já é possível avistá-los se tivermos presente as implicações e desafios da transição energética e das metas de neutralidade carbónica.

Se a crise climática vem pressionar o mercado para a necessidade de promover a descarbonização da economia para cumprir as metas do Acordo de Paris, o contexto atual, marcado pela crise dos preços da energia, pela subida da inflação, e pela guerra na Ucrânia, aliadas à subida das taxas de juro e aos riscos de uma crise social, criam um clima de enorme incerteza.

Não obstante, a meta é clara, o caminho está traçado, e os critérios Environmental, Social e Governance (ESG) passaram já a representar um papel central na estratégia de investimento.

As metas

Portugal assumiu o compromisso de atingir a neutralidade carbónica, tendo para o efeito aprovado o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050, com vista à redução de emissões de gases com efeito de estufa de cerca de 90% até 2050, face aos valores de 2005.

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Para cumprimento desse objetivo foi ainda aprovado o Plano Nacional Energia e Clima 2030 (PNEC 2030), definindo metas e objetivos e concretizando políticas e medidas para o horizonte de 2030.

No que respeita, em concreto, aos edifícios, o PNEC 2030 traça linhas de atuação específicas para a redução da intensidade carbónica e promoção da renovação energética, com vista à implementação do conceito de Nearly Zero Energy Buildings na construção dos edifícios novos e na transformação dos existentes.

A aprovação da Estratégia de Longo Prazo de Renovação dos Edifícios (ELPRE) visa fomentar a renovação, até 2050, do parque nacional de edifícios, com o objetivo de o converter num parque descarbonizado e com elevada eficiência energética.

O caminho

Se tivermos presente que a longevidade dos edifícios se cifra entre 30 a 150 anos, rapidamente concluímos que, em 2050, cerca de 70% do atual parque imobiliário subsistirá.

Com este enquadramento, não será possível alcançar a meta da descarbonização sem cuidar de minimizar o impacto do carbono incorporado nos edifícios existentes.

Para o efeito:

  • deverá procurar-se uma uniformização da avaliação do que é do que não é sustentável;
  • deverá haver uma aposta clara na renovação dos edifícios existentes, sendo essencial assegurar a existência de incentivos à reabilitação;
  • deverá haver uma reflexão sobre a forma de reconstruir e uma mudança na forma de construir, promovendo a utilização de materiais e soluções mais sustentáveis, designadamente o reaproveitamento de materiais;
  • deverá ser incentivada, promovida e premiada a inovação;
  • deverão ser facilitadas a reafetação dos edifícios a outros fins e a mudança de usos permitidos mediante a simplificação do licenciamento, ainda fortemente complexo, moroso e com significativas limitações do ponto de vista urbanístico, designadamente em cidades históricas.

O motor da mudança

As avaliações de ativos quantificam já os riscos decorrentes das alterações climáticas, designadamente os riscos de ineficiência energética e de obsolescência. Em pouco tempo, os financiamentos e o mercado de seguros serão fortemente impactados por esta realidade. Habitat perfeito para o surgimento de “cisnes verdes”.

Perante as metas traçadas, o equilíbrio difícil entre custos e racionalidade do investimento será, em grande parte, marcado pela evolução do atual contexto económico-político.

Contudo, a consciência das metas impostas, a orientação adequada do caminho e a criação dos meios necessários para enfrentar os desafios que inevitavelmente se impõem serão determinantes para tornar a mudança possível.

O aumento da consciencialização de temas ambientais e a imposição ou adoção de metas ESG serão, cada vez mais, fatores preponderantes no escrutínio dos consumidores e dos stakeholders em geral e, em última análise, ditarão o ritmo a que a mudança operará.

Ouça aqui o episódio do Podcast da PLMJ sobre o tema.