O debate era sobre Orçamento do Estado, mas Augusto Santos Silva não resistiu a homenagear, esta segunda-feira, Jerónimo de Sousa, no momento de saída oficial do Parlamento, onde se sentou pela primeira vez há quase 50 anos, para aprovar a primeira versão da Constituição portuguesa.
No arranque do debate orçamental, ficou aprovada a substituição do ex-líder comunista pelo ex-deputado comunista Duarte Alves, embora o próprio Jerónimo não estivesse na sala: o momento foi de formalização da saída, mas Jerónimo já tinha avisado que era possível que, abandonando a liderança do PCP, abandonasse também o seu assento parlamentar sem fazer sequer uma intervenção final, como se confirmou.
Ainda assim, o presidente da Assembleia da República não quis deixar passar o momento e pediu uma “oportunidade” para “agradecer a Jerónimo de Sousa, deputado durante décadas nesta Assembleia” — Jerónimo de Sousa era, aliás, o último deputado constituinte que ainda ocupava um lugar no Parlamento.
A Jerónimo, Santos Silva deixou palavras elogiosas pela “cordialidade e simpatia pessoal conhecidas por todos”, mas também pela sua “contribuição política” para um “debate vivo” no Parlamento.
PCP. Jerónimo promete “disponibilidade revolucionária” para continuar luta
O resultado, prosseguiu, foi que Jerónimo deixa “muitos amigos” no Parlamento. Para terminar, recorreu, como o comunista faz frequentemente, a um ditado popular. “Para usar um registo em que sempre nos enriqueceu, recorrendo à sabedoria popular: à amizade firme, portas sempre abertas”, concluiu.
A intervenção fez com que toda a esquerda aplaudisse de pé, de imediato, e que também o PSD se juntasse à ovação, com alguns deputados sociais-democratas a levantarem-se também das cadeiras.
As exceções no hemiciclo acabaram por ser os deputados da Iniciativa Liberal — alguns, como Rodrigo Saraiva e Patrícia Gilvaz, aplaudiram, e outros não, mas ficaram todos sentados — e do Chega, que ficaram sentados e não aplaudiram. Fica assim oficializada a saída de Jerónimo de Sousa, líder do PCP durante 18 anos e deputado desde 1975, do Parlamento.
Texto alterado às 15h32 com a informação de que alguns deputados da Iniciativa Liberal também aplaudiram.