O Aqueduto das Águas Livres, em Lisboa, vai voltar a ter água a partir do próximo ano — cinco décadas depois de ter sido completamente desativado por causa da diminuição dos caudais das nascentes. O anúncio foi feito esta sexta-feira pela Empresa Portuguesa de Águas Livres (EPAL). O projeto envolve também a Câmara Municipal de Lisboa, a agência Lisboa E-Nova, a Águas do Tejo Atlântico e a Águas de Portugal.

A empresa prepara-se também para instalar 200 bebedouros por toda a cidade de Lisboa — com estrutura para que a água também possa ser consumida por animais de estimação —, recuperar os chafarizes lisboetas e abastecer com água o lago do Jardim do Príncipe Real.

O Aqueduto das Águas Livres é um sistema de captação e transporte de água construído no século XVIII, mas saiu de funcionamento em 1973 para, nos anos 80, se transformar num ponto turístico da capital. Foi um dos poucos monumentos lisboetas a sobreviver ao terramoto de 1755.

Essa é uma das utilidades de ressuscitar o Aqueduto das Águas Livres: continuar a abastecer a cidade, contribuindo para a redundância da rede potável, mesmo que uma nova emergência ameace o percurso hidráulico — como um novo sismo de elevada magnitude. Além disso, poderá ser útil no combate aos incêndios no verão e na rega em caso de seca.

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O sistema é composto por um troço principal com 14 quilómetros, entre a Mãe de Água Velha, em Belas, e o reservatório da Mãe de Água das Amoreiras. Outros troços, secundários, encaminham a água que brota em cerca de 60 nascentes. E inclui cinco galerias que abastecem 30 chafarizes espalhados por Lisboa.

No total, o sistema do Aqueduto das Águas Livres estende-se por 58 quilómetros. Mas a zona mais icónica é a da arcaria do vale de Alcântara, que tem 35 arcos, mais de 940 metros de comprimento e uma altura superior a 65 metros.

Desde 1910 que está classificado como Monumento Nacional. A recuperação do percurso da água não vai envolver o encerramento às visitas: pelo contrário, até ao início de 2023 todo o caminho será aberto ao público. Depois da travessa do vale de Alcântara, será possível passar pelo aqueduto geral até à Mãe de Água das Amoreiras. A galeria do Loreto já é visitável, mas a EPAL quer abrir as restantes ao público. A próxima será a do Rato.

Com este projeto, a EPAL pretende “colocar à disposição da comunidade locais onde pode usufruir de uma vida mais completa, em harmonia com o ambiente, livre e feliz, ao mesmo tempo que coloca as pessoas, a sustentabilidade ambiental, o planeta e o futuro na base de tudo o que faz”.

Além de ser um importante exemplar de engenharia hidráulica, o Aqueduto das Águas Livres foi palco de uma onda de homicídios perpetrados por Diogo Alves, um assassino em série galego que, acedendo ao monumento com uma chave duplicada, assaltava os transeuntes e atirava-os do topo do monumento.

Depois de ter sido condenado à morte por enforcamento, a cabeça de Diogo Alves foi preservada num frasco com formol que está ao cuidado da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Inicialmente, o objetivo era estudar a estrutura neurológica do criminoso e compreender a origem das suas motivações. Os resultados desse estudo nunca foram divulgados — de resto, ele pode nunca ter acontecido.