O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, admitiu esta segunda-feira que o problema das urgências em Portugal é “crónico”, esperando que melhore com a abertura de centros de saúde em horários complementares.

Há dificuldades, lamento essas dificuldades, temos de as superar. É um desafio, mas é um desafio sistémico. Temos em Portugal um problema crónico com as urgências. Temos afluxo excessivo às urgências. A culpa é das pessoas? Não acho que seja. Acho que a responsabilidade é a forma como organizamos o sistema. Temos poucas alternativas”, disse Manuel Pizarro.

O governante acrescentou que o plano de contingência para o inverno prevê a abertura de centros de saúde em horários complementares e avançou que há já 176 centros de saúde que abertos para além do horário normal.

O ministro da saúde falava aos jornalistas em Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto, tendo sido confrontado com problemas nas urgências em hospitais que geraram relatos de longos tempos de espera.

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“Hoje a situação nos hospitais portugueses é muito melhor do que era na segunda-feira da semana passada. Reajo sempre com tristeza à informação de que em um outro hospital estamos com problemas de atendimento, mas não podemos confundir isso com a situação geral dos serviços”, disse o governante.

Manuel Pizarro afirmou que “hoje a situação dos hospitais da Grande Lisboa está a correr francamente melhor” e elogiou o esforço dos médicos, dos enfermeiros e outros profissionais de saúde.

“Têm feito um grande esforço e no geral os portugueses estão a ser muito bem atendidos nos hospitais públicos”, disse.

À margem da iniciativa “A Saúde Mental no Pós-Pandemia — Estigma e Combate”, promovida em parceria pela Rádio Renascença e a Câmara de Vila Nova de Gaia, Manuel Pizarro disse que “situações pontuais de dificuldade existirão sempre em todo o mundo”. O governante admitiu que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) não tem o número de profissionais e que necessita, embora desde 2015 tenham entrado mais 25 mil.

“Claro que precisamos de mais. Estamos a trabalhar para conseguir ter”, resumiu.

Convidado a comentar a entrevista do ex-ministro da Saúde Correia de Campos, ao Jornal de Negócios e Antena 1, na qual este considerou que “o Ministério da Saúde foi transformado em secretaria de Estado das Finanças” e que “é preciso alargar os cordões à bolsa”, Manuel Pizarro reiterou que o orçamento para a Saúde tem o maior aumento de sempre.

“Acho que este é um orçamento muito positivo para o SNS. Vai ser um orçamento de execução muito exigente”, disse.

Salvaguardando que ouve “sempre com muito respeito as declarações de pessoas com tanta experiência”, Pizarro escusou-se a comentar as palavras do antigo ministro, mas arescentou: “Não tenho dúvidas nenhumas que vamos fazer um exercício orçamental muito exigente”.

Já questionado sobre o recurso a horas extra para preencher escalas no SNS, o ministro da Saúde referiu que “não é fácil” encontrar um sistema que não dependa tanto de horas extra, algo que “tanto quanto possível” gostaria de evitar.

Há uma demografia médica adversa: há muitos médicos acima dos 50 anos que estão dispensados de prestar serviço noturno ou até acima dos 55 estão dispensados de fazer urgência. Veremos se a reorganização das urgências nos vai permitir depender menos das horas extra”, apontou.

Manuel Pizarro apontou, por fim, que Portugal tem uma rede “muito poderosa com mais de 80 postos de urgência abertos 24 sobre 24 horas todos os dias”, algo que é, frisou, “muito consumidor de recursos humanos especializados”.

Manuel Pizarro diz que saúde mental é área prioritária do PRR

O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, defendeu esta segunda-feira a necessidade de deixar de olhar para os temas da saúde mental como um tabu e garantiu que esta é uma área prioritária do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Em Vila Nova de Gaia, no distrito o Porto, onde abriu a conferência “A Saúde Mental no Pós-Pandemia — Estigma e Combate”, Manuel Pizarro disse que “há hoje uma atitude mais aberta perante as questões da saúde metal” e que para isso muito contribuiu a reflexão sobre este tema feita com a pandemia da covid-19, mas admitiu que ainda existem preconceitos.

“Temos de deixar de tratar os temas da saúde mental como um tabu”, sublinhou.

Manuel Pizarro disse que esta é, para o Governo, uma área prioritária no âmbito do PRR, estando inscritos 88 milhões de euros de investimento público para a área da saúde mental.

O ministro da saúde avançou como objetivo a colocação ao serviço da comunidade de mais equipas de saúde mental e estimou que, após a entrada em funcionamento de 10 em 2021, existirão 40 até ao final da implementação do PRR.

“Até ao final de 2022 contamos que sejam já 20 as equipas de saúde mental comunitária em funcionamento”, apontou.

Outra meta ressalvada esta segunda-feira foi a de criar 1.500 vagas de cuidados continuados até ao final do PRR.

Num discurso que marcou a abertura de uma conferência organizada pela Rádio Renascença em parceria com a Câmara de Vila Nova de Gaia, Manuel Pizarro também defendeu que não se justifica continuar a basear os internamentos apenas em hospitais psiquiátricos e destacou a aposta do Governo na construção de unidades de internamento para esta área em hospitais gerais.

A nossa própria consideração dos direitos humanos de uma pessoa que sofre de problemas mentais era muito diferente antigamente do que é hoje. As pessoas que sofrem de saúde mental não podem ter os seus direitos diminuídos”, apontou.

O ministro da saúde considerou que “é muito difícil justificar que as pessoas fiquem décadas interna-as em hospitais psiquiátricos” e, sobre a construção de áreas dedicadas em hospitais gerais, deu como exemplo um projeto já em curso em Santo Tirso.

“No SNS temos uma clara prioridade em relação a este tema. A atividade assistencial está em pleno curso, realizamos mais de 600 mil consultas na área da psiquiatria. Mas não podemos tratar da saúde mental como um tema da especialidade dos psiquiatras, os temas de saúde mental têm de ser tratadas pelo conjunto da SNS. Estruturas da comunidade e de cuidados de saúde primária”, concluiu.