História
É uma saciante viagem pelo imaginário de uma lota de peixe. À entrada, onde antes ficava o antigo Rabo d’Pêxe, o primeiro contacto é com uma barra de inox e tabuleiros de peixe sobre gelo. Depois, num corredor escuro, o armazém, com as características caixas cor de laranja, boias e duas boxes que sentam o total de oito pessoas. Seguimos caminho, a luz começa a aproximar-se. Temos o vislumbre de uma nova área, mas antes surge a montra de peixe fresco, que ali pode ser selecionado, pesado, cabendo ainda ao cliente optar pelo seu modo de confeção.
Por fim, a sala de refeições, o derradeiro restaurante, que nos lembra uma praia. Mas não: estamos na Lota d’Ávila, a nova marisqueira moderna das Avenidas Novas, no centro de Lisboa, de portas abertas desde 21 de novembro. Do grupo Paradigma (o mesmo que lançou o Ofício, restaurante que acaba de ser distinguido com um Bib Gourmand), tem nos comandos o chef Vasco Lello, já bem habituado à esgrima do peixe, não tivesse estado um bom par de anos com o grupo Sea Me. É um projeto que não exclui: tem opções para os que preferem a abordagem mais clássica ao peixe e aos frutos do mar, mas inclui também propostas para os que gostam da surpresa compreendida na cozinha de autor.
Espaço
Já lhe fomos dando algumas pistas. São 500 metros quadrados, que sentam 108 pessoas, repartidos por barra, esplanada exterior, terraço interior e sala de jantar. À entrada é possível vermos a equipa, ali vestida a rigor, com aventais de borracha, a manusear os mariscos frescos, que se exibem nas pistas de gelo, com preço incluído. Passado o tal corredor, vislumbramos a cozinha aberta, que termina com o brilho, naquele dia, do robalo, do salmonete, da garoupa, do pargo fresco ou do carabineiro. É lá que cumprimentamos o chef Vasco Lello, que mais tarde nos vem fazer companhia à mesa.
Antes de entrarmos na sala de refeições, do chão ao teto, vemos prateleiras quadradas, onde se armazenam os babetes bordados com”capitão” e “capitã” — e que mais tarde acabam por se segurar nos nossos pescoços para uma refeição relaxada, sem o receio de um regresso à redação manchado do saboroso suco do marisco.
Abandonamos o mar e chegamos ao areal, mais concretamente, à muito ampla e luminosa sala de refeições, onde vários elementos se destacam: o néon “lotaria”, acima do bar de onde saem os cocktails, as cores neutras, em tom de areia, a conjugar com as riscas que remetem para a imagética do mar e dos marinhos, as que forram os sofás e as cadeiras onde nos sentamos. Lá fora, um terraço para os dias de sol e, noutra secção, também ao ar livre, um zona para crianças, uma espécie de mini-parque infantil para entreter os que ainda não apreciam as longas horas à mesa.
Comida
Uma carta que se faz da boa matéria-prima do mar português, oriunda de todo o país, desde os Açores, Peniche, Algarve ou Setúbal, explica Vasco Lello, que aqui une à abordagem mais clássica — o peixe e marisco do dia (ao natural, grelhado, cozido, ao sal, como o cliente escolher), as mariscadas e paellas e pratos clássicos —, as propostas de uma cozinha mais criativa.
A viagem começa com o couvert, aqui Lastro (5,5€), composto por pão de fermentação natural, com manteiga e patê, seguindo depois com ostras em duas versões distintas, que representam as duas perspetivas da marisqueira moderna: ao natural (3€ a unidade) e Da Lota D’Avila (4€ a unidade), com puré de aipo, ovas de salmão, dashi e cebolinho. Naquele dia vinham de Aveiro, mas também é possível que sejam oriundas do Sado ou da Ria Formosa.
O croquete de sapateira com molho tártaro (3,5€ unidade) será possivelmente um dos bestsellers da casa, assim como o crocante choco frito com maionese de sésamo preto e lima (12,5€). O lírio fumado com amêndoa do Algarve e laranja (11,5€) faz a sua atuação: o peixe é lentamente revelado, à medida que o fumo, que surge quando a tampa é retirada, se dissipa no ar. Depois, a surpresa do chef: um carapau pescado nos Açores, acabado de fumar, com uma burrata cremosa.
Do capítulo Mar Direito passamos ao Além Mar com a paella negra de choco, polvo e lula (55€), uma das três disponíveis na carta — por provar ficaram a paella da terra com cabrito assado (60€) e a paella do mar com lavagante (85€).
Estamos satisfeitos e saltamos o clássico prego do lombo com chips (10€), umas das poucas opções com carne neste menu (é possível que venha a surgir um bife, prevê o chef). Mas vamos às sobremesas, que repartimos por todos: mousse de queijo, framboesas e cookie crumble (5€), rabanada de brioche e gelado de tomilho (5€) e folhado de amêndoa e fava tonka (6€).
O que interessa saber:
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Nome: Lota d’Ávila
Abriu: 21 de novembro
Onde fica: Avenida Duque d’Ávila, 42 B
O que é: uma marisqueira moderna
Quem manda: o projeto é do grupo Paradigma; ao leme na cozinha está o chef Vasco Lello
Uma dica: croquete de sapateira, choco frito e lírio fumado são obrigatórios
Contacto: 925 906 950/hello@lotadavila.pt
Horário: Terça-feira a quinta-feira e domingo, das 12h30 às 15h30 e das 18h30 às 23h; sexta-feira e sábado, das 12h30 às 15h30 e das 18h30h à 01h (soft opening). Domingo a quinta-feira, 12h às 23h. Sexta-feira e sábado, das 12h à 1h.
“Cuidado, está quente” é uma rubrica do Observador onde se dão a conhecer novos (e renovados) restaurantes.