A embaixada da Ucrânia em Lisboa recebeu na tarde desta segunda-feira, 5 de dezembro, dois envelopes com “correspondência suspeita”. “Hoje recebemos a correspondência suspeita que outras missões [ucranianas] já haviam recebido na semana passada”, disse à Lusa fonte da embaixada ucraniana.

A Polícia de Segurança Pública (PSP) foi chamada ao local, enviando meios da Unidade Especial de Polícia. Não foram encontrados engenhos explosivos nos dois envelopes, adiantou fonte policial à Lusa, depois da avaliação feita pelo Centro de Inativação de Engenhos Explosivos e Segurança em Subsolo da Unidade Especial de Polícia.

A circulação da Avenida das Descobertas, local em que fica a embaixada, já foi restabelecida, depois de ter sido interrompida temporariamente.

PJ esteve no local a recolher correspondência. Ainda não foi aberto inquérito criminal

Elementos da polícia científica da Polícia Judiciária estiveram no local equipados, a recolher os envelopes, apurou o Observador. A correspondência suspeita será analisada nos laboratórios da PJ para que possam ser identificadas possíveis impressões digitais ou qualquer outro elemento que permita estabelecer a origem, bem como o remetente das cartas. Vão também ser investigados outros elementos, potencialmente danosos para a saúde pública.

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O Observador soube também que neste momento não houve ainda a abertura de nenhum inquérito criminal por suspeita de terrorismo — este só será aberta caso os resultados das análises da PJ permitam identificar pistas sobre os possíveis remetentes. De acordo com comunicado do Sistema de Segurança Interna (SSI), a investigação criminal e o seu enquadramento dependem “dos elementos recolhidos”.

O SSI confirma que “foram desenvolvidas atividades de natureza preventiva e de segurança, bem como de recolha de elementos pelas entidades competentes”. É ainda “prematuro” fazer uma avaliação sobre “alterações ao nível de alerta ou ameaça”, acrescenta.

Embaixada da Ucrânia em Lisboa recebe dois pacotes suspeitos

Ao que o Observador apurou junto da embaixada da Ucrânia, em Lisboa, todas as representações diplomáticas ucranianas receberam, desde os ataques nas embaixadas e consulados em Espanha, alertas de Kiev de que deveriam estar atentos a este tipo deste tipo de correspondência. Assim, como os dois envelopes recebidos em Lisboa não correspondiam com os que a embaixada costuma receber, foi imediatamente ativado o protocolo de segurança, assim como chamada a PSP, responsável por guardar as embaixadas.

O alerta foi dado pelas 15 horas e pelas 17 horas ainda estavam no local equipas da Unidade Especial de Polícia, nomeadamente do Centro de Inativação de Engenhos Explosivos e Segurança Subsolo, para despiste dos envelopes suspeitos, adiantou a PSP.

Entre “características suspeitas” dos envelopes estavam “formato e o remetente”

Fonte da embaixada ucraniana em Lisboa não soube precisar o conteúdo dos volumes trazidos por um carteiro, uma vez que os mesmos levantaram imediatamente suspeitas e não chegaram a ser abertos, tendo sido logo alertada a polícia. As “características suspeitas” da correspondência, que o atual protocolo de segurança da embaixada determina que não podem ser aceites, tinham a ver com “o formato e o remetente”.

“O pessoal viu imediatamente que [a correspondência] era suspeita, alertou a polícia e o carteiro acabou por ficar retido” nas instalações da missão diplomática, onde ainda se encontram ainda agentes policiais “em grande número”, disse a mesma fonte.

Cartas com olhos de animais intercetados em Espanha. Encomendas eram dirigidas a embaixada e consulados ucranianos

Na sexta-feira, gabinete do secretário-geral do Sistema de Segurança Interna (SSI), Paulo Viseu Pinheiro, anunciou à Lusa que as autoridades portuguesas reforçaram a proteção da embaixada da Ucrânia em Lisboa e admitem reapreciar o nível de ameaça em Portugal, após cartas armadilhadas terem sido recebidas por entidades em Espanha.

Segundo o SSI, a Unidade de Coordenação Antiterrorismo (UCAT), que funciona no quadro do Sistema de Segurança Interna, “está a acompanhar atentamente a situação” e que se encontra em “estreita articulação com os seus parceiros espanhóis, europeus e internacionais”.

“Caso, fruto dessa cooperação com Espanha e parceiros internacionais, e da nossa análise interna, se justifique uma reapreciação do grau de ameaça e segurança, serão tomadas de imediato pelas autoridades competentes as correspondentes e adequadas medidas de alerta e dispositivo de segurança”, acrescentou o gabinete do secretário-geral do SSI.

A UCAT agrega o Serviço de Informações de Segurança (SIS) – que avalia o grau de ameaça em território nacional -, a Polícia Judiciária (PJ) – que tem a competência de investigação do terrorismo –, a PSP — que faz a proteção das instalações diplomáticas e “preventivamente reforçou a proteção da Embaixada da Ucrânia em Lisboa” -, a GNR, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), a Polícia Marítima e o Serviço de Informações Estratégicas e de Defesa (SIED).

O SSI assegurou ainda que todas estas entidades estão “a trabalhar de forma articulada e permanente” com os parceiros internacionais, em especial com os congéneres espanhóis do SIS e da PJ.

Ainda “não chegou o momento” para aumentar nível de ameaça da embaixada

Para Hugo Costeira, presidente do Observatório de Segurança Interna, ainda não “chegou o momento” de aumentar o nível de ameaça na embaixada ucraniana em Lisboa, à semelhança do que já aconteceu em Espanha.

A primeira tarefa passa por saber “com exatidão” o que está nos envelopes, diz à Rádio Observador.  “Temos em Portugal esta figura da UCAT e neste momento podemos ter a certeza que do SIS , à PJ, à GNR estão em profundo contacto e harmonia para perceberem exatamente o que está a passar.”

Caso se verifique de facto a presença de material suspeito dentro dos envelopes, as entidades estudam “a análise do grau de ameaça” e reforçam o nível de segurança seja “ao nível da proteção das pessoas, seja ao nível das instalações destas instituições.”

Nesse cenário, diz também, a UCAT garante a partilha de informação com as congéneres estrangeiras onde este tipo de crime já tenha ocorrido”, destacando Espanha, país que já recebeu um total de sete correspondências suspeitas, incluindo uma carta-bomba e várias com olhos de animais.

O protocolo, destaca, está a ser seguido, referindo a atual “preservação e análise de meio de prova” (neste caso, a correspondência suspeita).