Carla Castro, candidata à presidência da Iniciativa Liberal, criou um canal no WhatsApp para comunicar com os membros do partido durante a campanha interna e expôs os contactos de todos os aderentes. Contactada pelo Observador, fonte da candidatura explicou que se trata de um “grupo normal” em que “adere quem quer”, tendo sido feita uma avaliação antes do lançamento do canal onde se entendeu que “este formato de grupo na plataforma WhatsApp dava resposta àquilo que se pretendia”.

Vários membros da IL ouvidos pelo Observador admitiram que se sentem “desconfortáveis” com a forma com que os seus dados (número de telemóvel, nome e fotografia) foram expostos sem permissão. “Não vou assumir que foi por maldade, mas foi ingénuo. São inexperientes, preocupa-me que tenham falhado numa coisa tão básica — zelar pelos números de apoiantes”, desabafou uma militante liberal que optou por entrar nos canais dos dois candidatos à presidência da IL.

A liberal que preferiu manter o anonimato conta que estava no canal de Rui Rocha há “bastante tempo” quando recebeu o link do de Carla Castra e decidiu aderir. “Quando reparei que os números estavam todos visíveis fui fazer a comparação”, explicou, acrescentando que se apercebeu que tinha nomes, números e fotos de todas as pessoas.

“Causou-me desconforto e ainda por cima tenho no WhatsApp o meu nome profissional. E fiquei ainda mais desconfortável porque comecei a receber mensagens de propaganda política de uma lista ao Conselho Nacional”, argumentou, admitindo ter ouvido várias queixas de colegas de partido, independentemente das preferências eleitorais.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ainda sem as ideias, Carla Castro e Rui Rocha apresentam pessoas. Mayan e deputados são protagonistas no arranque

De acordo com as informações presentes no canal de WhatsApp “Carla Castro Liberal”, a que o Observador teve acesso, o grupo em causa foi criado no dia 21 de novembro — mas só começou a circular no domingo, dia 4 de dezembro — e para aceder é preciso um link que funciona como convite. Depois da adesão, para a qual não é solicitada nenhuma autorização prévia, todos os contactos se tornam visíveis — nomeadamente o da própria candidata, Carla Castro, e o do diretor de campanha e candidato a vice-presidente, Paulo Carmona.

Neste momento o grupo conta com mais de 300 aderentes e três administradores — Filomena Francisco (vice-presidente escolhida por Carla Castro), João Cascão (candidato a secretário-geral) e Susana Neto —, os únicos que podem enviar mensagens para o canal, já que os restantes membros não podem enviar nada para o grupo, apenas reagir com emojis às mensagens enviadas pela campanha.

Depois das primeiras questões enviadas pelo o Observador para um dos administradores houve uma mudança para a opção “comunidade” no WhatsApp (em que se lia: “O seu perfil é visível para os administradores da comunidade“), mas nenhum dos problemas ficou resolvido, já que os contactos continuaram visíveis para todas as pessoas que entram. E não apenas para os adminitradores, como diz o aviso.

Em comparação, no canal de Rui Rocha, que também utiliza o WhatsApp para fazer campanha, é preciso aceder a um link e enviar uma mensagem para o canal a dizer “subscrever”. No final de estar integrado na comunidade é possível ver um número, que está associado a uma conta comercial, e apenas dá para ver a descrição do candidato e as partilhas.

Neste caso as mensagens são recebidas individualmente por difusão e as pessoas podem responder diretamente para o canal (apenas os responsáveis pelo canal de Rui Rocha têm acesso). Por outras palavras: trata-se de um canal bidireccional, em que é possível receber feedback e responder a dúvidas, mas sem que ninguém tenha acesso às mensagens dos outros (como acontece num grupo normal). É quase uma conversa privada entre Rui Rocha e quem o contactar.

Embalada por Elvis, Carla Castro ignorou Rui Rocha, deu o palco a Mayan e definiu como meta a IL ser o terceiro maior partido

Carla Castro: “A adesão é voluntária”

A campanha de Carla Castro justifica, em resposta ao Observador, que se trata de um grupo de WhatsApp que “tem, efetivamente, o funcionamento de um grupo normal, porque é um grupo normal”. Com o propósito de “divulgar informação relativa à campanha”, o canal foi pensado para ter uma “difusão orgânica, através do encaminhamento, de pessoa para pessoa, do link que permite aceder ao grupo”.

Assim, segundo os responsáveis, “ninguém foi trazido para dentro do grupo involuntariamente”. “Todos os utilizadores de WhatsApp conhecem — ou devem conhecer — o funcionamento dessa plataforma de troca de mensagens e sabem que ao aderir voluntariamente a um grupo algumas informações são partilhadas”, argumenta fonte oficial da campanha. Aliás, o comunicado diz mais: “Tal como a adesão é voluntária, a saída também o é.”

“É importante lembrar que há muitas outras formas de acompanhar o desenrolar da campanha: certas pessoas acompanham as diversas ações através, por exemplo, do Twitter ou do Facebook, outras fazem-no através da comunicação social. Quem opta por utilizar o WhatsApp e aderir a um grupo sabe que há um determinado nível de partilha de informação decorrente dessa utilização. Isso é da natureza da própria plataforma e do seu funcionamento. Não há, portanto, qualquer “exposição pública”, porque o grupo é, como se referiu, um normal grupo de WhatsApp, com as características que lhe são inerentes”, defendeu a campanha de Carla Castro.

O peso do gabinete de estudos, a dispersão geográfica e um ex-secretário de Estado de Passos Coelho. Eis os escolhidos de Carla Castro