Os apoios económicos que os governos lançaram em 2020, para mitigar o impacto da crise pandémica, foram “justificados” e “bem sucedidos“, considera Vítor Gaspar. O atual diretor do departamento de finanças públicas do FMI (e ex-ministro português das Finanças) diz que, “olhando para trás, os países que aplicaram pacotes mais generosos [de apoio público] são aqueles que, regra geral, mostram agora ter sofrido menos cicatrização e danos de longo prazo nas economias e no mercado de trabalho”.

As declarações de Vítor Gaspar foram feitas esta segunda-feira durante uma mesa-redonda online para apresentar o relatório Global Debt Monitor de 2022. O economista recordou que, no início da pandemia, o FMI publicou um texto que tinha um título sonante: dizia que os países deviam gastar o que fosse necessário para combater a pandemia – mas “deviam guardar os recibos”.

“Claramente quando se enfrenta uma emergência sanitária sem precedentes, o controlo dessa emergência é o fator mais importante, acima de qualquer outro”, afirmou Vítor Gastar, acrescentando que com essa mensagem o FMI apenas se queria sublinhar que “é importante manter a transparência e os processos regulares”.

Olhando para trás, a intervenção não só foi justificada como foi bem sucedida na proteção das famílias e empresas mais vulneráveis, e na mitigação das consequências nas economias e no mercado de trabalho“, disse Vítor Gaspar.

Quando questionado sobre se os Estados gastaram demasiado no combate à pandemia – em rigor, na mitigação dos danos económicos causados pela resposta ao vírus –, Vítor Gaspar diz que “os países que tiveram maior possibilidade de reagir, com apoios públicos generosos, são, regra geral, os países que têm menor cicatrização” na economia. Já os países que tiveram maiores constrangimentos orçamentais, como algumas “economias emergentes” e em desenvolvimento, exibem agora maiores sinais de danos de longo prazo nas suas economias e mercados de trabalho.

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Se alguns economistas advogam que os estímulos orçamentais e monetários à economia (para conter os danos da Covid-19) explicam grande parte da instabilidade atual – desde logo, a inflação elevada – Gaspar diz que é preciso mais tempo para se avaliar se isso é ou não verdade. “Depois de a pandemia deixar de ser a concentração mais dominante, temos vindo a sofrer choque atrás de choque e isso tornou mais difícil o ajustamento” pós-pandémico, afirmou Vítor Gaspar.

O responsável está confiante de que os países desenvolvidos irão regressar à trajetória de endividamento que existia antes da pandemia já “no início de 2024”.

Dívida mundial (pública e privada) caiu 10 pontos percentuais

O relatório apresentado, o Global Debt Monitor, indica que a dívida global em percentagem do PIB caiu 10 pontos percentuais em 2021, “a maior descida em apenas um ano nos últimos 70 anos”, sobretudo graças à forte retoma económica após o pico da pandemia de Covid-19.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) calcula que essa descida, de 10 pontos percentuais, tenha levado a dívida para 247% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial – 235 biliões de dólares, em termos nominais. No ano anterior, em 2020, o primeiro ano da pandemia, a dívida mundial (pública e privada) tinha aumentado 29 pontos percentuais do PIB, fruto das medidas de apoio económico que os governos tomaram para conter os danos da emergência pandémica.

No que diz respeito à dívida pública, apenas, esta baixou de 100% do PIB mundial em 2020 para 96% em 2021. Essa foi uma descida suportada no “crescimento forte do PIB, a inflação elevada e a retirada de algumas medidas de apoio público relacionado com a Covid-19”.

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