Há poucas coisas certas no futebol. Quando a bola rola o campo é que decide. No entanto, no Arsenal há relações de causa-efeito que parecem tão certas como chover torrencialmente em Lisboa e as ruas ficarem inundadas. No caso dos ‘gunners’, a lógica é a seguinte: nos últimos 11 jogos de Nketiah a titular no Emirates para todas as competições, o avançado marcou 11 golos. Desta feita, entrou no onze inicial para substituir o lesionado Gabriel Jesus e não quebrou o padrão, ajudando a selar a vitória por 3-1 diante do West Ham.

Um dérbi londrino entre Arsenal e West Ham encerrou esta segunda-feira de Boxing Day em Inglaterra. O Arsenal assegurou a permanência no trono de líder da Premier League e manteve a distância para os outros candidatos à sucessão. Quem sabe se, no final da época, as coisas não podem correr bem aos ‘gunners’, uma vez que, em dez das últimas 13 temporadas, a equipa que liderava o campeonato no Natal acabou por vencer o título de campeão inglês.

O West Ham vinha de três derrotas consecutivas para a Liga Inglesa e procurava vencer fora de portas, o que só conseguiu fazer uma vez esta época em jogos do campeonato. O registo de apenas 14 pontos à entrada para a jornada não era animador, mas a ideia dos Hammers se poderem distanciar dos rivais do fundo da tabela era motivadora. Pela frente, o adversário, nas palavras de David Moyes, técnico da equipa, não era fácil. “Desde que Mikel Arteta entrou fez um trabalho brilhante. Dinamizou o Arsenal, ganhou alguns troféus e contrariou as pessoas poderiam pensar que isso não aconteceria”.

Mikel Arteta também reconheceu capacidades ao adversário. “Eles são muito perigosos. Moyes trabalhou muito a equipa desde que assumiu o cargo e maximizou o potencial dos jogadores, levando o West Ham a um nível diferente”, disse o treinador do Arsenal. “Não é fácil para um grupo tão jovem manter esta consistência. Mostrámos verdadeira maturidade em alguns momentos, principalmente contra grandes adversários. O foco é jogar melhor a cada dia e continuar a crescer individual e coletivamente para e ganharmos jogos”, refletiu Arteta sobre o rendimento da equipa.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mesmo com Gabriel Jesus, Emile Smith Rowe e Reiss Nelson ausentes, o técnico espanhol deixou Cédric Soares e Fábio Vieira no banco de suplentes. Também no West Ham houve ausências. Scamacca e Aguerd não se apresentaram na ficha de jogo. Michail Antonio, que estava em dúvida, acabou por ser titular nos Hammers.

O Arsenal apresentou várias alternâncias táticas, nomeadamente ao nível da primeira fase de construção, ora procurando sair apenas com dois homens — Saliba e Gabriel Magalhães — e projetando Tierney e White em simultâneo, ora saindo a três, com White a baixar para se juntar a Saliba e Gabriel Magalhães, sendo Saka a abrir na direita. Outra solução que Arteta trouxe para o xadrez da partida foi a de colocar o lateral-esquerdo, Tierney, no corredor central, deixando o flanco para Martinelli.

O Arsenal começou dominador e antes dos cinco minutos introduziu a bola dentro da baliza do West Ham. Odegaard descobriu com um passe bem medido Nketiah que recorreu ao calcanhar para assistir Saka. O internacional inglês até bateu Fabianski, mas o árbitro auxiliar descobriu uma posição irregular. Foi o único momento da primeira parte em que os ‘gunners’, mesmo controlando a posse de bola em pleno, conseguiram aproximar-se com critério da baliza oposta. O West Ham tentava ser audaz nos momentos e que recuperava a bola, onde Declan Rice se mostrava muito disponível para carregar o jogo ofensivo da equipa. Num desses momentos, Saliba derrubou Bowen na área. O árbitro, Michael Oliver, assinalou grande penalidade e Benrahma (27′) escolheu o centro da baliza como alvo para marcar perante Ramsdale.

Os comandados de Mikel Arteta viveriam ainda um momento de alegria fugaz. Depois do golo anulado, o Arsenal teve um penálti assinalado a seu favor por, alegadamente, a mão do defesa-esquerdo do West Ham, Cresswell, ter intercetado um remate de Odegaard. À primeira vista, o árbitro marcou grande penalidade. No entanto, após consultar o VAR, Michael Oliver, voltou atrás na acusação e absolveu os hammers.

No final da primeira parte, o Arsenal montou um autêntico cerco à baliza do West Ham, procurando triangulações curtas à entrada da grande área que esbarravam na grande concentração de jogadores dos Hammers. Os remates longos pareciam uma solução a ter em conta para a segunda parte. Assim, aconteceu. Partey (48′) testou essa solução mal saiu do balneário. Odegaard utilizou o mesmo recurso para tentar visar a baliza. O norueguês falhou redondamente, mas, com alguma sorte, aquilo que parecia ser um remate, acabou por se tornar numa assistência que Saka (53′) usou para igualar as contas.

Não tardou a chegar a reviravolta. Martinelli (58′) trabalhou a bola com os dois pés e, com o esquerdo, descobriu um espaço que, em condições normais, seria do guarda-redes Fabianski. O polaco errou o posicionamento e foi penalizado.

A tendência era para que o resultado se avolumasse ainda mais e não para que o West Ham conseguisse encurtar distâncias. Nketiah trazia o referido registo assinalável para este jogo. Em dez jogos consecutivos a titular pelo Arsenal no Emirates em jogos a contar para todas as competições, o avançado tinha marcado dez golo, sendo que, para isso precisou apenas de 15 remates enquadrados. Diante dos Hammers, dilatou  estes números. Além disso, Nketiah (69′) deu o conforto que o Arsenal precisava com o 3-1 final.

Este foi o terceiro encontro entre as duas equipas no Boxing Day. Em ambos os confrontos anteriores, os ‘gunners’ saíram vencedores. Desta vez, a história não foi diferente.