As taxas de juro na zona euro vão continuar a subir nos próximos meses mas João Leão, ex-ministro das Finanças, acredita que “se tudo correr bem” elas poderão voltar a descer um pouco a partir de 2024. Aliás, sublinha João Leão, a “longo prazo” esta inflação será uma ajuda para quem tem créditos: “as famílias vão sentir muito a dor, mas daqui a uns anos vão sentir que as prestações pesam menos nos seus salários”.

Em entrevista ao jornal Público e Rádio Renascença, o ex-ministro das Finanças diz que “o cenário do BCE, que é o caminho controlado, ainda é natural que durante 2023 as taxas de juro do BCE e as taxas Euribor aumentem cerca de um ponto até ao Verão. É natural que depois se mantenham algum tempo e comecem, se tudo correr bem, a poder descer a partir do próximo ano de 2024”.

Assim, “as famílias agora vão ser muito afetadas pelo aumento das prestações mas, do ponto de vista de longo prazo, as famílias que estão endividadas beneficiarão com a inflação, porque a inflação ajuda os devedores”. “As famílias vão sentir muito a dor, mas daqui a uns anos as famílias vão sentir que as prestações pesam menos nos seus salários”, acrescenta o responsável.

A inflação tirou-nos muito rendimento em 2022, as famílias com rendimento mais baixo vão começar já a recuperar rendimento em termos reais a partir de Janeiro. É preciso estar atento e perceber se há segmentos de vulnerabilidade que são tão abrangidos. E depois é natural que ao longo de 2023 e 2024 a restante parte da população comece a recuperar o rendimento em termos reais. Portanto, quem vê um futuro negro à frente está a olhar muito com o retrovisor para trás. 2023 será um ano transição”, diz João Leão.

O ex-ministro das Finanças defendeu, também, que a Caixa Geral de Depósitos deve dar um “contributo positivo” no campo da subida dos juros dos depósitos bancários. Sem querer “interferir” na autonomia da gestão da Caixa, o ex-ministro das Finanças defende que o banco público “devia ter um papel importante de ir aumentando a remuneração dos depósitos, porque é nesse sentido que o mercado estaria a funcionar de forma mais regular”.

“A banca comercial tem remunerações de depósitos próximas de zero. Ainda há aqui uma grande discrepância”, afirma João Leão, lembrando que “o Estado já remunera os seus certificados de aforro acima de 3% – já é um veículo que o Estado tem que faz alguma pressão sobre o sistema bancário. Por essa via, o tal papel que estava a indicar de uma certa forma já está a ser feito via certificados de aforro”.

A Caixa Geral de Depósitos tem um novo produto em que já remunera acima de 1%, em condições especiais: “Penso que é uma forma de atrair novo financiamento sem remunerar muito os depósitos que lá tem. É natural que este processo seja gradual”, atira.

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