A missão da ONU na República Democrática do Congo exigiu que o movimento rebelde 23 de Março (M23) deixe os territórios ocupados na província do Kivu do Norte, após os acordos assinados em Luanda para terminar o conflito na região.
O M23 é acusado desde novembro de 2021 de realizar ataques contra posições do exército no Kivu do Norte, apesar de as autoridades congolesas e o M23 terem assinado um acordo de paz em dezembro de 2013, após os combates registados desde 2012 com o exército, que contou com o apoio de tropas das Nações Unidas.
A situação desencadeou um aumento das tensões entre a República Democrática do Congo e o Ruanda, pois Kinshasa acusa Kigali de apoiar os rebeldes. Num relatório recente, especialistas das Nações Unidas afirmaram que as autoridades ruandesas mantêm uma “intervenção direta” no país africano através do apoio ao grupo.
“É imperativo que, antes de 15 de janeiro, o M23 se retire incondicionalmente de todas as posições que atualmente ocupa nos territórios Rutshuru, Masisi e Nyiragongo, e se limite à zona do Monte Sabinyo”, lê-se num comunicado da Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo (Monusco) publicado na sua conta na rede social Twitter.
Il est impératif que d’ici le 15 janvier, le M23 se retire sans condition de toutes les positions qu’il occupe actuellement dans les territoires de Rutshuru, Masisi et Nyiragongo (Nord Kivu), et se cantonne dans la zone du Mont Sabinyo, conformément au Communiqué de Luanda.
— MONUSCO (@MONUSCO) January 13, 2023
A Monusco exige ainda que o grupo cesse “imediatamente” as hostilidades e se junte “incondicionalmente” ao programa de desarmamento do Governo congolês.
“Mais de meio milhão de civis foram deslocados pelas operações do M23 desde novembro de 2021, criando enormes necessidades humanitárias. Essas populações devem poder voltar para as suas casas”, acrescenta a organização.
O porta-voz do grupo M23, Lawrence Kanyuka, lamentou, também através do Twitter, a declaração da Monusco, acusando-a de praticar um exercício de “hipocrisia” dada a sua incapacidade de travar outros conflitos armados no nordeste do país, nomeadamente as atrocidades cometidas por milícias como a Cooperativa para o Desenvolvimento do Congo (Codeco) na região vizinha de Ituri.
La MONUSCO ferait œuvre utile d’arrêter son hypocrisie. Il est temps d'intervenir et d'arrêter les massacres en cours en ITURI contre les HEMA commis par ses alliés FARDC et CODECO. Prq MONUSCO et la Communauté Internationale se taisent sur ces actes de GÉNOCIDE ? TROP C'EST TROP https://t.co/e2HNWSAVzo
— Lawrence KANYUKA (@LawrenceKanyuka) January 14, 2023
Na passada sexta-feira, uma delegação do M23 prometeu ao mediador internacional e ex-presidente queniano, Uhuru Kenyatta, que vão continuar a retirar-se de forma “ordeira” das áreas que ocuparam.
O M23 foi criado em 2012 como uma dissidência do extinto Congresso Nacional para a Defesa do Povo (CNDP), um grupo de rebeldes maioritariamente de origem ruandesa que combateu as FDLR no país e depois se juntou ao Exército da RDCongo depois do acordo de 23 de março de 2009, que dá o nome ao grupo.
Assim, os rebeldes do recém-fundado M23 desertaram do exército para renegociar aquele acordo de paz e melhorar as suas condições de vida.
O leste da RDCongo está mergulhado num conflito alimentado por milícias rebeldes e pelo Exército há mais de duas décadas, apesar da presença da missão de paz das Nações Unidas, com mais de 16.000 militares uniformizados no terreno. Angola tem mediado negociações de paz entre Ruanda e República Democrática do Congo.