O ministro dos Negócios Estrangeiros português disse esta sexta-feira que Portugal está disponível para colaborar com Singapura nos esforços de capacitação dos recursos de Timor-Leste no processo de adesão à Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).
“Estamos disponíveis para isso, para trabalhar com Singapura, e com Timor-Leste por causa da importância que atribuímos à participação na ASEAN”, disse esta sexta-feira João Gomes Cravinho em Singapura, indicando que essa foi uma das questões debatidas durante o encontro que manteve hoje como o seu homólogo de Singapura, Vivian Balakrishnan.
Em declarações em Singapura, onde esta sexta-feira termina um périplo pela região, João Gomes Cravinho saudou “com satisfação” o acordo da ASEAN para a adesão, em princípio de Timor-Leste, como seu 11º Estado-membro.
“Timor-Leste vai reforçar a ASEAN e penso que será um ativo para a ASEAN, mas não pode ser um fator que cria dificuldades em termos do funcionamento e das instituições da organização”, afirmou.
Líder da ASEAN prevê adesão de Timor-Leste até final de 2023
Apesar de destacar os progressos conseguidos em termos de capacitação de recursos em Timor-Leste nos últimos 20 anos, Cravinho disse que, no que concerne à adesão à ASEAN, é necessário continuar a reforçar as capacidades nacionais.
Portugal, disse, tem vindo a trabalhar nesta questão “de forma indireta”, especialmente através do apoio que a missão portuguesa em Genebra tem dado no último ano e meio aos esforços de adesão de Timor-Leste à Organização Mundial de Comércio (OMC).
“Esse processo, que deverá estar concluído dentro de alguns meses, é um importante contributo para tornar Timor-Leste mais adaptado aos requisitos da ASEAN. Ainda que mais trabalho seja necessário”, considerou.
Cravinho proferiu esta sexta-feira uma palestra sobre o passado e o futuro da influência portuguesa no Sudeste Asiático, promovida pelo Instituto de Estudos do Sudeste Asiático, em Singapura.
Ainda no quadro da ASEAN, o chefe da diplomacia portuguesa defendeu um reforço das relações da União Europeia com a organização regional, especialmente no quadro da estratégia europeia para o indo-pacífico.
Timor-Leste, dados os laços históricos com Portugal e o atual processo de adesão à ASEAN, acabou por ser um dos temas que suscitou mais perguntas do público.
Recordou a relação história de Portugal com Timor-Leste e enfatizou os “grandes progressos” no desenvolvimento do país nas duas décadas desde a restauração da independência, em 2002, apesar de pontuais turbulências e dificuldades.
“Tem que ser considerado uma história de sucesso significativo, ainda que a tendência seja sempre de olhar para as insuficiências em vez de para os avanços”, afirmou.
Questionado pela assistência sobre que conselhos daria aos seus homólogos dos dois principais vizinhos de Timor-Leste, a Austrália e a Indonésia, João Gomes Cravinho disse que os dois países deveriam olhar para Dili com generosidade.
“É do seu interesse a longo prazo, claramente, ser generosos com Timor-Leste. Timor-Leste precisa de continuar a consolidar-se e tem oportunidades económicas interessantes, relacionadas com o campo de Greater Sunrise“, afirmou.
“Ainda estão a decorrer negociações sobre se o gasoduto vai para o norte da Austrália ou para Timor-Leste, mas se for para Timor-Leste cria oportunidades de desenvolvimento significativas nesse país”, explicou.
Neste quadro, disse, “não faz sentido, como poderia ocorrer em relações com países estabelecidos há mais tempo, lutar por vantagens económicos” e “faria mais sentido, do ponto de vista australiano, garantir que Timor-Leste não corre o risco de se tornar um Estado falhado, porque a Austrália seria a primeira a sentir isso”.
“Por isso, generosidade. E digo o mesmo à Indonésia. Faz todo o sentido dar o máximo apoio a Timor-Leste. A Indonésia vai agora presidir à ASEAN e isso constitui uma nova oportunidade de mostrar abertura e visão a longo prazo”, considerou.