O panorama do mercado alemão para veículos electrificados com baterias recarregáveis vai sofrer grandes alterações. O Governo entende que os veículos 100% eléctricos (BEV) estão a ficar mais acessíveis, a ponto de já não necessitarem de tantas ajudas financeiras (através do denominado bónus ambiental), para se tornarem competitivos. Por outro lado, os híbridos plug-in (PHEV), que os estudos provam que são mal utilizados pela maioria, perdem por completo o direito a usufruir de incentivos através do bónus ambiental.

Já aqui noticiámos, em meados de 2022, que o Governo alemão tinha aprovado para o próximo orçamento a redução dos apoios aos BEV e o fim das ajudas aos PHEV. Mas, com a guerra e a crise financeira que o conflito militar na Ucrânia veio a agudizar, não faltaram os promotores internos de uma suavização ou mesmo a derrapagem (durante um ano ou dois) da entrada em vigor das anunciadas medidas. Janeiro de 2023 veio demonstrar que não houve qualquer marcha-atrás por parte das autoridades e que a realidade dos veículos electrificados vai mesmo mudar no maior mercado europeu. Previsivelmente, impondo modificações a todos os restantes, incluindo o português.

Modelos 100% eléctricos sofrem, mas não muito

Apesar de ainda ser necessário a aprovação das decisões do Governo pela União Europeia, segundo a imprensa local, a Alemanha arrancou a 1 de Janeiro com o novo programa de incentivos para os veículos 100% eléctricos e híbridos plug-in. Com um orçamento de 3,4 milhões de euros para os próximos dois anos (2,3 milhões para 2023 e 1,1 para 2024), o sistema passa a limitar os apoios aos modelos exclusivamente a bateria, criando simultaneamente “tectos” e privilegiando os eléctricos mais acessíveis e os de gama média.

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Todos os veículos BEV transaccionados por menos de 40.000€ (antes de impostos), vêem os incentivos à aquisição baixar de 6000€ para 4500€. Para os veículos 100% a bateria que estão posicionados entre os 40.000€ e 65.000€, o apoio que até final de 2022 era de 5000€ cai agora para 3000€. Sabe-se ainda que, em 2024, apenas os veículos eléctricos até 45.000€ terão acesso ao bónus ambiental, cujo valor volta a baixar, desta vez para 3000€.

Alemães querem retirar apoios aos PHEV já em 2022. E reduzir ajudas aos eléctricos

Todos estes apoios estão reservados exclusivamente para clientes particulares, abrangendo ainda veículos adquiridos em leasing (com a totalidade do incentivo se a duração do contrato for superior a 23 meses e 50% se inferior). Este fundo ambiental pode ainda ser reforçado com outro tipo de apoios provenientes de fundos públicos dos diferentes Estados.

Fim dos incentivos mata os híbridos plug-in?

Se as novas regras do fundo ambiental penalizam os eléctricos a partir de 2023, elas são completamente assassinas para os PHEV. Estes veículos, tradicionalmente mais caros por montarem motores térmicos e respectivas caixas de velocidade, associados a motores eléctricos e baterias para os alimentar, dependem dos incentivos para serem propostos por valores competitivos, pelo que retirar as ajudas é uma decisão que parece condená-los à morte.

Não há nada de errado na tecnologia utilizada pelos PHEV, mas sim na forma como os diversos estudos indicam que muitos dos seus proprietários os utilizam. Sobretudo os que conduzem os modelos mais caros, não recarregando as baterias com a necessária regularidade para tirar partido da redução de emissões e consumos que justificariam as ajudas financeiras que recebem. Daí que não só a União Europeia tenha deixado de ver com bons olhos esta solução, como conduziu igualmente os responsáveis alemães a esta tomada de posição.

Curiosamente, são os fabricantes germânicos, especialmente os luxuosos BMW e Mercedes (e a Audi em menor número), que mais dependem dos PHEV, uma vez que os comercializam em maior quantidade e com baterias maiores para incrementar a autonomia em modo eléctrico. Porém, nem esta realidade sensibilizou os governantes locais. A questão que se coloca agora é saber até que ponto, sem a ajuda do mercado alemão, ainda vale a pena para estes fabricantes produzir modelos PHEV apenas para os mercados em que as ajudas financeiras se mantêm, o que poderá colocar em causa a disponibilidade deste tipo de veículos para mercados como o nosso.