Uma longa escadaria, vários metros de altura e um cenário composto por um conjunto de torres brancas: é este o projeto que, até agora, tem estado em cima da mesa para o segundo palco da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa (JMJ 2023), que foi desenhado para ser instalado no Parque Eduardo VII para a realização de três celebrações, incluindo duas com o Papa, durante a semana do evento. Este segundo palco, para eventos com menos participantes, poderia custar entre 1,5 e dois milhões de euros, mas a CML ainda não chegou a um desenho final.
Como mostram duas imagens da maquete do projeto, a que o Observador teve acesso, o segundo altar-palco foi concebido para ser colocado no topo do Parque Eduardo VII, onde vão decorrer três grandes eventos: a missa de abertura da JMJ, com o cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente (com a presença de 200 mil pessoas); a cerimónia de acolhimento ao Papa Francisco (com 400 a 500 mil pessoas); e a Via-Sacra com o Papa (com 700 mil pessoas).
Este é o projeto que tem foi colocado em cima da mesa, mas a sua construção ainda não está em marcha e o processo poderá mesmo sofrer um revés após a controvérsia gerada esta semana pela divulgação do valor do altar-palco principal do evento, que será instalado no Parque Tejo-Trancão e deverá custar 4,2 milhões de euros.
De acordo com fonte da autarquia, o desenho foi proposto pelo Comité Organizador Local (Igreja Católica) à CML, mas a Câmara recusou o projeto várias vezes, estando ainda a ser redesenhado. Mas foi este o desenho que foi conhecido pelo Presidente da República e que motivou algumas das declarações feitas nos últimos dias.
A instalação de um segundo altar-palco no Parque Eduardo VII foi confirmada na quarta-feira desta semana pelo vice-presidente da Câmara de Lisboa, Filipe Anacoreta Correia, que anunciou também que haverá palcos para eventos culturais durante a semana da JMJ no Terreiro do Paço, na Alameda Dom Afonso Henriques e no Parque da Bela Vista.
Anacoreta Correia revelou também que a Câmara Municipal prevê gastar até 13,5 milhões de euros com estes quatro recintos, sendo a maior fatia investida no palco do Parque Eduardo VII — mas o autarca não especificou o custo deste altar em específico.
Contudo, Anacoreta Correia revelou que a construção deste altar será adjudicada na sequência de um concurso público internacional, que ainda não foi lançado, uma vez que o projeto ainda se encontrava, esta semana, a ser terminado. Segundo apurou o Observador, ainda esta quinta-feira à noite houve uma reunião na CML sobre este assunto e sem chegar a uma conclusão sobre o desenho final deste palco.
Na segunda-feira, o Observador noticiou que o altar-palco do Parque Tejo-Trancão tinha sido adjudicado à Mota-Engil por 4,2 milhões de euros. A revelação desencadeou um controverso debate político durante toda esta semana: a Câmara de Lisboa disse estar apenas a cumprir os requisitos da Igreja, mas o bispo D. Américo Aguiar, organizador do evento, disse ter ficado “magoado” quando soube, através do Observador, do preço do palco.
Além disso, D. Américo Aguiar assumiu que a Igreja errou ao não acompanhar devidamente o processo de concurso e contratação da empreitada necessária para o primeiro palco — e prometeu que iria fazer diferente nos próximos projetos, a começar já pelo palco do Parque Eduardo VII. “Cometer erros novos é humano, repetir erros é burrice”, disse, taxativamente.
Já esta sexta-feira, o bispo reiterou que “o que não devia ter acontecido aconteceu” e prometeu: “Em todos estes processos de dimensão mais significativos, a Fundação JMJ vai pedir para acompanhar de fio a pavio, de modo a que não se repita nem surpresa de valores nem incómodos que eu compreendo na totalidade.”
Uma fiscalização mais apertada por parte da Igreja Católica poderá fazer recuar o projeto atualmente em cima da mesa para o palco do Parque Eduardo VII.
Mas o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, também já se terá envolvido nos apelos à moderação do investimento neste segundo palco, que ainda vai a tempo de ser revertido. De acordo com o que noticiou o jornal Expresso na quinta-feira, o Presidente da República foi apanhado de surpresa pela notícia dos 4,2 milhões de euros — e, além de ter aconselhado Carlos Moedas a tentar baixar o preço daquele primeiro palco, também terá insistido para que os custos com este segundo palco (que será totalmente desmontado no final) sejam moderados.
De acordo com o Expresso, o projeto para o palco no Parque Eduardo VII implicará um custo entre 1,5 e dois milhões de euros — mas Marcelo Rebelo de Sousa quer convencer as várias partes envolvidas na organização, incluindo a Igreja Católica e a Câmara de Lisboa, a construir uma versão mais comedida do altar, que não ultrapasse um valor em torno dos 200 mil euros.
Marcelo terá mesmo pedido à câmara e à Igreja que troquem o projeto atual por um “altarzinho”. Antes, o Presidente da República já tinha pedido à organização da JMJ que organizasse um evento que “corresponda ao pensamento do Papa que se caracteriza por uma visão simples, pobre, não triunfalista”.
Marcelo sugere que altar-palco deve ser mais comedido. “Papa é contrário ao que é espaventoso”
“Seria muito estranho um Papa que quer dar imagem de pobreza austeridade e contra o espavento viesse a não ter um acolhimento correspondente ao que é o seu pensamento”, disse ainda o Presidente.
Sem o pedir diretamente, Marcelo pressionou dizendo que é isso que “a sociedade espera” e disse esperar que “a solução encontrada no final” consiga “tentar tirar proveito do que é interesse nacional e respeitar o período em que nos encontramos e a própria maneira de ser do Papa que é contrário ao que é espaventoso”.
Em 2010, quando o Papa Bento XVI visitou Lisboa, celebrou uma missa no Terreiro do Paço num altar-palco provisório cuja construção custou cerca de 300 mil euros.
Artigo atualizado às 22h15 com informações adicionais facultadas pela Câmara de Lisboa ao Observador