André Ventura já tinha dito ao que vinha no primeiro discurso da Convenção, mas depois de ser reeleito com 98,3% dos votos resolveu deixar escrito na pedra que o Chega não está para repetir acordos como aquele que foi firmado nos Açores: “Queremos ser governo, não estamos dispostos a geringonças de direita”, reiterou. Pelo caminho, apelou à união e quis pôr fim aos problemas do partido, agora “sem egos e sem jogos de bastidores internos”.
Perante os militantes do Chega, “de presidente para delegados”, deixou a promessa de que essa será a “decisão” do partido independentemente do resultado eleitoral e do tipo de eleição. Em conclusão, Ventura deixa tudo nas mãos de PSD e Iniciativa Liberal. “A direita terá uma escolha a fazer: ou há governo com o Chega ou não há governo de todo.”
Aliás, o líder do Chega ironizou com as “linhas vermelhas, azuis ou verdes” que os adversários à direita (e não só) vão traçando. “A entidade que estabelece linhas vermelhas não se chama Luís Montenegro, Rui Rocha, Augusto Santos Silva ou António Costa. Só o povo estabelecerá linhas vermelhas”, alertou, deixando claro que o “ADN” do Chega não será colocado em causa em qualquer circunstância.
Não só a ideia de que não haverá geringonças ficou bem sublinhada, como Ventura justificou que o Chega não é o “tradicional partido português”. A partir daí, Ventura recuperou uma ideia que vem ganhando lastro no partido: “Ganhar a rua à esquerda”.
“Venceremos no sindicalismo. A esquerda era dona da rua, sabe que tem um adversário da altura. As ruas não são do PCP, nem do Bloco de Esquerda. As ruas serão do terceiro maior partido de Portugal. Seremos a voz dos desalentados”, prosseguiu o líder do Chega.
André Ventura não vaticina um caminho fácil, alerta que os apoiantes e militantes do Chega continuarão a ser “perseguidos”, “achincalhados”, “cercados, excluídos e minimizados”. Para mobilizar quem o ouvia citou São Paulo: “Porque quando estou fraco então sou forte. Quando nos tentarem calar e amordaçar, aí é que seremos fortes e retiraremos a força para governar Portugal.”
A ambição de Ventura é criar aquilo que diz ser um “país de ordem”, em que os cidadãos têm “direito à segurança”, capaz de combater o “império da corrupção”. O Chega quer fazer do combate à corrupção o “combate” da vida do partido, “doa a quem doer”. “Os portugueses têm direito a essa justiça. Sim, vêm atrás de nós. Mas nada disso será diferente. Quando nos tentar calar, aí é que seremos fortes”, rematou o líder do Chega.
“Somos a voz dos que perderam a voz e que o povo há tantos anos pedia”, realçou Ventura no discurso, enquanto lançava promessas: “Enquanto houver um aluno que não saiba a História deste país todos falhámos enquanto nação. Enquanto houver um aluno que não saiba quem foi Luís de Camões… Se falhámos e em alguns momentos traímos a história, podemos dizer com orgulho que 90% das vezes estivemos ao nível da honra que a bandeira de Portugal significa”, garantiu, apontando o dedo a todos os que tentaram, aos olhos de Ventura, “comprar a Educação” no “pós-25 de Abril”.
Durante o discurso, Ventura não só deixou as linhas bem traçadas para o futuro do partido em termos nacionais como decidiu a tentar pôr um ponto final nas questões internas ao dizer que conseguiu um resultado que “nenhum partido consegue ter” mesmo depois de todos os “ataques” sofridos.
“O país dirá que vocês se enganaram, mas nós sabemos a luta que aqui travámos e é importante que todos eles saibam que neste partido o presidente só sai e abandona funções quando vocês disserem que ele abandona funções”, sublinhou o líder do Chega.
Mesmo assim, André Ventura não se desresponsabilizou pelos problemas internos do partido. “Falhámos em alguns momentos, falhei, a natureza humana é mesmo assim. A diferença é que reconhecemos os erros e dizemos como vamos fazer melhor, sei que falta comunicar mais, sei que falta interligar mais, implementar, sei que falta mais autonomia local, percebi perfeitamente a mensagem”, assegurou, defendendo que o partido está preparado para melhorar internamente.
É “sem egos, sem emoções pessoais, sem traições e sem jogos de bastidores” que André Ventura quer recuperar o partido, com um “esforço de unidade” que espera que venha de todos os militantes — e onde já não poderá contar com alguns dos que estiveram ao seu lado e que se tornaram os seus grandes adversários internos.