Contratado no final da janela de mercado de transferências do verão, beneficiando do período mais longo da Liga turca em comparação com as principais ligas europeias, Christian Atsu não teve um arranque fácil de percurso pelo Hatayspor, atual 14.º classificado do Campeonato. Foi suplente utilizado com o Karagumruk na derrota por 3-0 em outubro, jogou mais dez minutos a meio de janeiro na goleada sofrida frente ao líder Galatasaray por 4-0, entrou este domingo a oito minutos do final da receção ao Kasimpasa. Menos tempo, muito mais “sorte”: foi o ganês que marcou o único golo da vitória por 1-0 no sétimo minuto de descontos, garantindo assim que a equipa fugia aos lugares de despromoção. Melhor era impossível.

Depois das dificuldades de afirmação no sexto país onde jogada como sénior, o médio ofensivo/extremo de 31 anos teve o momento que esperava. Esta segunda-feira, menos de 24 horas, foi dado como desaparecido na sequência do violento sismo que atingiu a Turquia na última madrugada.

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Assim continuou até ao final da tarde, ao contrário do português Rúben Ribeiro e do avançado cabo-verdiano Zé Luís, outros dois jogadores dos turcos do Hatayspor que entretanto já foram localizados pelo clube e que se encontram fora de perigo. O treinador da equipa, antigo guarda-redes internacional Volkan Demirel, pedira em lágrimas ajuda a todos. As informações eram, no entanto, contraditórias. De acordo com A Bola, Atsu teria sido encontrado com vida e conduzido para um hospital de Hatay (uma das cidades mais assoladas) com ferimentos num pé e dificuldades respiratórias. Mas à noite o vice-presidente do clube dizia o contrário.

“Infelizmente, o Christian Atsu e o nosso diretor desportivo Taner Savut ainda estão sob os escombros. Não os conseguimos contactar. Não podemos chegar a ninguém. Não podemos alcançar essa área. Estamos à espera por ajuda. É o lugar mais difícil de chegar. Hatay é o lugar que mais precisa de ajuda neste momento. Todos precisam de ajuda nas zonas de terremoto, mas há uma grande necessidade de ajuda em Hatay. Não há qualquer lugar onde se entregue um cobertor ou sopa, nada. Quantas horas se passaram desde que o terremoto aconteceu? Precisamos de orações. A partir de amanhã, iniciaremos o processo de evacuação com segurança das instalações”, disse Mustafa Özat ao jornal TGRT Haber Spor.

Já esta manhã o vice-presidente dizia que o jogador tinha sido resgatado: “Christian Atsu foi retirado com ferimentos”, garantiu Mustafa Ozak, à Radyo Gol, citado pela agência Reuters. “O nosso diretor desportivo, Taner Savut, ainda está, infelizmente, debaixo dos escombros”, lamentou.

A informação foi desmentida horas depois pelo o próprio técnico do Hatayspor, Volkan Demiral. “Por favor, não escrevam que ele sobreviveu sem terem a certeza. As pessoas têm família, têm esperança, têm tristezas e as dores vão aumentado… Ainda não há notícias do Atsu e do Taner Savut [diretor desportivo]. Acham que eu não partilharia a informação se eles estivessem no hospital? Já vivemos coisas muito difíceis. As pessoas estão a trabalhar dia e noite, espero que ambos sejam salvos. Toda a equipa refugiou-se junto das suas famílias”, explicou o ex-guarda-redes internacional.

“Quando ouvimos que ele tinha sido levado para o Hospital Dortyol fomos até lá mas não havia nada. De momento aceitamos que o Taner e Atsu não foram encontrados, infelizmente”, reforçou também o médico do Hatayspor, Gürbey Kahveci, na última atualização sobre o jogador que passou pelo FC Porto.

Christian Atsu esteve quatro anos em Portugal depois de ter começado a jogar na Academia Feyenoord em Gomoa Fetteh e de ter passado pelo Cheetah, em Kasoa. O ganês reforçou a formação do FC Porto quando tinha apenas 17 anos, detetado pelo técnico neerlandês Patrick Greveraars, tendo cumprido dois anos nos juniores antes de ser cedido ao Rio Ave por empréstimo para aquela que seria a sua temporada de afirmação com seis golos e outras tantas assistências em 31 jogos oficiais em Vila do Conde. Em 2012/13 começou a época como titular nos dragões de Vítor Pereira com a conquista da Supertaça diante da Académica, acabando a temporada como campeão numa caminhada que ficou sobretudo marcada pelo golo de Kelvin nos descontos da penúltima jornada frente ao Benfica. Por estar em fim de contrato, saiu para o Chelsea em setembro por cerca de 3,5 milhões de euros após ter sido cobiçado também pelo Liverpool.

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Apesar da aposta dos blues, Atsu nunca chegaria a jogar pelo conjunto londrino, sendo logo nessa temporada cedido aos neerlandeses do Vitesse com quem o clube tinha um protocolo e ganhando os minutos que lhe faltavam para estar no Campeonato do Mundo de 2014. “Até custa a acreditar que cheguei a internacional tão jovem. Sonhava jogar na seleção e participar num Mundial. Em miúdo via sempre os jogos dos Black Stars na TV, quando estava na Academia do Feyenoord, e agora estou aqui. Estou grato por isso. Venho de uma família pobre e humilde. Vendi peixe no mercado para ganhar dinheiro e ajudar a família e cheguei mesmo a vender sacos de plástico nesse mercado. Quando voltava para casa não eram momentos felizes mas, com a ajuda de Deus, a felicidade chegou. Lembro-me sempre do que a minha mãe me dizia: ‘Há muitas pessoas que trabalham no duro mas a sua vida não muda porque essas pessoas não têm fé em Deus’. Eu tenho muita fé em Deus e Ele tem-me ajudado”, comentou nessa fase da carreira.

Ao contrário do que tinha acontecido em 2010 na África do Sul, com a chegada aos quartos e uma derrota dramática com o Uruguai nas grandes penalidades, o Gana não passou da fase de grupos no Brasil em 2014 com o esquerdino titular em todos os encontros. No ano seguinte, depois da quarta posição em 2013, os Black Stars chegaram à final da Taça das Nações Africanas mas perderam no desempate por penáltis com a Costa do Marfim. Nessa época Atsu esteve cedido ao Everton, seguindo-se novo empréstimo a Bournemouth e Málaga sem nunca obter muita utilização. Tudo mudaria em 2016/17, com o internacional a ter a melhor época em Inglaterra ao serviço do Newcastle de Rafa Benítez (cinco golos e três assistências em 35 jogos) e a permanecer a título definitivo no clube que voltou à Premier League a troco de oito milhões.

Depois de três épocas quase sempre como opção inicial mesmo com a troca do técnico espanhol por Steve Bruce em 2019/20, Christian Atsu acabou por praticamente não jogar em 2020/21 e saiu no verão para a Arábia Saudita reforçando o Al-Raed até passar em setembro de 2022 para os turcos do Hatayspor. Tem no currículo três títulos, dois no FC Porto (Campeonato e Supertaça) e um no Newcastle (Championship).

Artigo atualizado às 7h20 do dia 9 de fevereiro com a informação do treinador do clube de que Atsu se mantinha desaparecido, depois de informações contrárias.