Quatro anos após a TVI ter anunciado o regresso de “Morangos Com Açúcar”, eis que, chegados a 2023, o projeto que marcou a televisão portuguesa ao longo de doze temporadas está oficialmente de volta. A produção fica a cabo da See My Dreams, nova produtora da Media Capital, que tem como rosto principal Piet-Hein Baker, diretor geral da Plural. Mas a maior novidade é a entrada de uma plataforma de streaming: a Prime Video. “Esperemos que seja um sucesso repetido, depois de nove anos na televisão, com a descoberta de muitos autores e atores”, referiu José Eduardo Moniz, diretor geral da TVI, na cerimónia de assinatura da parceria que decorreu nas instalações da Media Capital em Barcarena, esta segunda-feira.

Numa pequena sala do edifício mãe da TVI e da CNN Portugal, a notícia parecia guardada pelos deuses. Em 2018, o canal tinha anunciado o tão aguardado regresso de “Morangos com Açúcar”, que deu a conhecer nomes como João Catarré, Benedita Pereira, Cláudia Vieira, Ana Guiomar, Rodrigo Saraiva, Rita Pereira, Gabriela Barros ou Sara Barros Leitão — além de ter formado a banda D’zrt, que este ano também regressa aos palcos. Porém, o projeto acabou por ser adiado. 20 anos depois, e com o regresso do “pai” da série à TVI, José Eduardo Moniz, a estação e o responsável estão “convencidos” de que esta é “a aposta certa” para iniciar uma parceria com uma plataforma de streaming internacional. Eduardo Moniz, aliás, garantiu ao Observador que este regresso “foi uma ideia de todos”: TVI, See My Dreams e Prime Video. “Estamos a falar de uma marca forte, de sucesso de audiências e de receitas publicitárias. É um bom cartão de visita das produções da Media Capital no mercado internacional, a Prime Video foi um parceiro interessado e generoso”, garantiu.

A palavra “generoso” deixa no ar a hipótese de que foi preciso um player internacional para desatar o nó financeiro que permitisse a “Morangos Com Açúcar” ver novamente a luz do dia. José Eduardo Moniz referiu-se ao projeto como “coprodução”, mas a verdade é que nem o diretor da TVI nem o diretor geral da Plural, Piet-Hein Baker, quiseram revelar a percentagem de produção de cada um dos envolvidos. “É um enorme desafio produzir esta joia da coroa da TVI e da Media Capital. Só desta forma é que esta série podia voltar e renascer no mercado português através de uma parceria internacional”, referiu o responsável.

Piet-Hein Baker esclareceu ainda que esta produtora, a See My Dreams, “já existe há mais tempo”, mas que este é o primeiro “grande projeto que define a variedade dos seus clientes”. “O objetivo é ter uma produtora especializada que tenha clientes que não sejam só a TVI. Serão mais internacionais, mas também podem ser portugueses. A equipa integrante já trabalhou cá, com outras plataformas de streaming”, afirmou ao Observador. O produtor referiu ainda que, apesar de ser uma parceria entre entidades privadas, irá recorrer ao sistema de cash rebate português, que este ano ainda não está disponível, estando a primeira fase de candidaturas prevista abrir no próximo dia 3 de abril, como anunciado pelo Ministério da Cultura.

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A realização fica a cargo  de Francisco Antunez, mas outra das novidades guardadas é que Maria João Mira, a primeira autora de “Morangos Com Açúcar”, volta a ter assinatura no projeto, tal como dito por José Eduardo Moniz. E se a partir de 2003 a série desafiou os moldes tradicionais de fazer televisão, com a entrada de temas como o uso de drogas, direitos LGBT ou o bullying, tudo para uma vasta audiência, agora o objetivo será outro: adaptar a série ao presente, largar o formato novela e dar-lhe um cunho internacional. “Tive carta branca para escrever. A série original era provocadora e disruptiva há 20 anos, agora já não. O desafio maior foi esse. Neste momento, existe uma exposição tão grande a informação, que muito pouca coisa é discutida todos os dias em todo o lado. Foi preciso encontrar elementos que trouxessem novidade”, afirmou a autora ao Observador. O certo é que o Colégio da Barra está de volta.

Já Ricardo Carbonero, da Prime Video SP/PT, rosto habitual nas apresentações de coproduções entre esta plataforma de streaming e a RTP, reafirmou a vontade que a Amazon tem de “investir no país”. “Queremos que seja uma grande aposta, houve muita sintonia desde o início entre nós, a See My Dreams e a Media Capital. É uma grande oportunidade de trabalharmos juntos e fazer uma grande série para que todo o mundo fale”, disse.

Ficou ainda garantido o regresso de atores que estiveram presentes nas temporadas anteriores, sendo que a primeira de duas — uma sobre o ano letivo normal, outra de verão, como acontecia — terá 20 episódios e passará simultaneamente na TVI e na Prime Video. “O elenco será maioritariamente português, mas como a série estará disponível em Espanha e no Brasil, também conta com atores dessas nacionalidades”, garantiu Piet-Hein Baker.

Parte do casting desta série será público, à semelhança do que aconteceu em temporadas anteriores, e está aberto desde as 21hh30 desta segunda-feira, 6 de fevereiro, nos sites do grupo Media Capital. A data de estreia não foi anunciada, mas os primeiros episódios poderão ser vistos a partir do último trimestre de 2023.