Augusto Santos Silva, presidente da Assembleia da República, rejeita que se dê palco ao Chega quando “se combate” o partido de André Ventura. E, sem nunca referir o PSD, atira direto a Luís Montenegro: “Quem critica, combate e trava é cúmplice? O que se chamará a quem não critica, não combate não trava e até está disponível para acordos?”, desafia. Augusto Santos Silva acredita, no entanto, que Portugal não vive sob a ameaça da extrema direita.

Em entrevista a um podcast do grupo parlamentar do PS, o socialista fala assim sobre uma das marcas do seu mandato: a relação com o Chega tem sido a linha mais presente da sua atuação como presidente da Assembleia da República. Santos Silva contesta que tocar muito no assunto seja contraproducente e que isso favoreça o Chega: “Parece-me uma alegação absurda“, corta.

Santos Silva coloca-se aliás do lado que quem “critica” e aponta a outros que não o fazem e “até estão disponíveis para acordos”: “Se os primeiros são cúmplices, o que se deverá chamar aos segundos?”, insiste.

A pergunta acerta no PSD de Luís Montenegro, que ainda não rejeitou associações com o Chega — na sua última convenção, André Ventura elevou a fasquia, desafiando os sociais-democratas a concederem-lhes lugar num futuro Conselho de Ministros. Santos Silva aproveitou esse vazio, embora se mostre convencido de que o “padrão de comportamento dos portugueses tem valorizado segmentos centrais do espectro político. “Não creio que esse padrão esteja em perigo“, sugere.

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Diz que prefere que “todas as correntes políticas com expressão social estejam representadas no Parlamento” — mesmo os “são contra o sistema democrático” — porque “é melhor tê-los dentro das instituições democráticas do que fora”. E avisa o PS, “o partido que teve responsabilidade absoluta”, que “esse mandato não é para combater os outros, mas para resolver as coisas”.

Dito isto, Santos Silva acredita que a maioria socialista está a funcionar — rejeita a tese do “rolo compressor” — e avisa que esta mesma maioria “não é um livre trânsito”, mas sim “uma chamada à responsabilidade”. “Tem todas as condições necessária” para levar o mandato até 2026 e deve “aproveitar as condições únicas que tem para realizar o seu programa”.

Santos Silva junta-se assim à voz de outros socialistas que atiram para longe a possibilidade de um mau resultado eleitoral a meio caminho (nas europeias de 2024) possa significar eleições antecipadas. “Não vou sugerir que a duração da legislatura dependesse de outras eleições de segunda ordem como as europeias, ou que dependesse da evolução das sondagens”.

Apontando como um possível futuro candidato presidencial do PS (as eleições são no início de 2026), Augusto Santos Silva deixa um caderno de encargos ao Governo — no essencial alinhado com o que o próprio António Costa tem traçado, não desalinhando também na questão das contas certas. Ainda assim, diz que não se trata de “um fim em sim mesmo, mas de um meio indispensável para atingir os fins”.

Na entrevista ainda fala das greves dos sindicatos dos professores e das negociações em curso. Neste ponto, ataca o S.TO.P (também sem o referir), atirando aos “sindicatos mais recentes que se revêem num modelo anarco-sindical fora de tempo”.

“Não aceito que uma classe profissional subcontrate junto de outra uma greve para obter o que quer sem que a outra classe tenha de fazer greve”, atira Santos Silva, apontando aos fundos que existem para que o pessoal não docente encerre escolas. “Não me parece admissível“, diz Santos Silva, pondo-se ao lado do Governo e afirmando que “a luta social tem regras e não são apenas legais mas as da nossa própria dignidade.”

Europeias. Costa refreia Marcelo, Montenegro testa discursos para o dia seguinte