O primeiro-ministro, António Costa, anunciou, esta quarta-feira, que Portugal tem em execução o plano de manutenção dos tanques Leopard 2 e que está em condições de dispensar três para a Ucrânia no próximo mês de março. “Nós neste momento temos em execução o plano de recuperação, de manutenção, dos tanques Leopard 2 e de acordo com a execução do plano estamos em condições de poder dispensar três no próximo mês de março”, afirmou António Costa no parlamento, respondendo ao deputado Bernardo Blanco, da Iniciativa Liberal, no debate preparatório do Conselho Europeu, no parlamento.

No passado dia 4 de fevereiro, no final de uma visita que efetuou à missão militar portuguesa na República Centro Africana, o primeiro-ministro assegurou, em declarações à Lusa, que Portugal iria ceder às Forças Armadas ucranianas tanques Leopard 2 e adiantou que está em curso uma operação logística com a Alemanha para recuperação de alguns carros de combate. Nesta ocasião, António Costa também procurou salientar que o envio de tanques para a Ucrânia não colocará em causa a capacidade militar nacional em termos de equipamento.

De acordo com o primeiro-ministro, Portugal está a trabalhar com a Alemanha para “permitir uma operação logística de fornecimento de peças, tendo em vista concluir a recuperação de alguns dos carros [de combate] que não estavam operacionais”. Já sobre a controvérsia relacionada com o facto de vários destes tanques Leopard 2, adquiridos pelas Forças Armadas em 2007, estarem sem manutenção há muitos anos, o primeiro-ministro contrapôs que a expressão “muitos anos é um exagero”.

“Alguns não estão operacionais e, por isso mesmo, temos de trabalhar simultaneamente com quem produz para assegurar a cadeia de abastecimento necessária, tendo em vista recuperar tanques que temos neste momento inoperacionais e podermos dispensar tanques operacionais, ficando nós com a nossa própria capacidade devidamente salvaguardada. É essa operação logística que está em curso”, justificou.

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Em 20 de janeiro, o chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA), almirante Silva Ribeiro, indicou que Portugal tem 37 tanques Leopard.

Marcelo concorda com decisão do Governo

Já depois do anúncio de António Costa, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, mostrou-se de  acordo com o envio dos três tanques Leopard 2 para a Ucrânia, afirmando que a ajuda de Portugal está “em linha” comparativamente à capacidade de outros países.

“Foi aquilo que o primeiro-ministro comunicou ao Presidente da República e, como Comandante Supremo das Forças Armadas, eu concordei”, afirmou à margem da cerimónia de entrega do Prémio Bial de Medicina Clínica, que decorreu na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

O chefe de Estado destacou que a ajuda de Portugal está “na linha daquilo que faz sentido”, comparativamente à capacidade de cada país e permitirá “acorrer de imediato a uma situação”, face à necessidade daquele equipamento militar por parte da Ucrânia.

Marcelo Rebelo de Sousa admitiu a possibilidade de, “mais tarde”, o Governo ponderar “outras hipóteses adicionais” de ajuda. “Não quer dizer que mais tarde o Governo não possa ponderar outras hipóteses adicionais, mas para já pareceu-me bem a proposta do Governo e o contributo português”, acrescentou.

Questionado sobre a presença do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na reunião do Conselho Europeu de quinta-feira, em Bruxelas, Marcelo Rebelo de Sousa salientou que “não se pode criar expectativas para depois serem frustradas”, referindo-se às expectativas da Ucrânia, mas também dos líderes da União Europeia que estão no processo de negociações.

“Isso significa que é um processo difícil, mas que deve ser visto de boa-fé e determinação porque envolve muitas mudanças. Envolve mudanças políticas, o centro da Europa com a adesão de novos membros a leste irá mais para leste, mudanças institucionais, a adesão da Ucrânia significa a adesão de um país que tem e terá um peso na União Europeia em termos de presença nos órgãos muito significativo“, disse, notando que a adesão de novos países terá também implicações no “funcionamento” da União Europeia.

“Um alargamento de 27 [países], que são hoje, a mais de 30 [países] é uma transformação importante”, referiu Marcelo Rebelo de Sousa, apontando ainda as “consequências económicas”, seja ao nível da “recuperação económica da Ucrânia”, seja de atribuição de “fundos europeus” aos novos países.

A par da “frente político diplomática” que enfrenta a Ucrânia, o chefe de Estado realçou que a frente militar “pode ser mesmo determinante nos próximos meses”. “Era muito importante para a paz no continente [europeu] e para a paz no mundo que realmente tivéssemos um epilogo o mais rápido possível e que fosse favorável aos ideais da carta das Nações Unidas e do direito internacional”, observou.