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São o mais recente sistema de mísseis hipersónicos e não se comparam a nenhum outro. Foi assim que o Presidente russo, Vladimir Putin, definiu os Zircon, os mísseis com capacidade nuclear ao serviço da fragata Almirante Gorshkov. A Rússia descreve-os como uma arma “única”, mas os analistas ocidentais têm algumas dúvidas. Afinal, são os Zircon tão poderosos como Moscovo alega?
A ideia de criar um míssil como o Zircon 3M22 só começou a ser discutida em 2011 e quatro anos depois o modelo já avançava para fase de testes. Desde então a imprensa russa veio a relatar os progressos rápidos no desenvolvimento do míssil hipersónico: em 2018 já tinha sido testado em voo dez vezes; até 2021 já tinha sido testado pela primeira vez num submarino da classe Yasen; e em 2022 já se esperava que com o final do ano estivesse operacional e pronto para ser adotado pela marinha russa. O início de janeiro marcou uma nova etapa com a partida do Gorshkov em missão no Oceano Atlântico, equipado com os Zircon.
Putin envia para o Oceano Atlântico fragata equipada com mísseis que têm capacidade nuclear
Para o investigador Sidharth Kaushal, do Royal United Services Institute (RUSI), o rápido desenvolvimento destes mísseis levanta várias dúvidas. Num artigo publicado no final de janeiro no site do think tank britânico, o especialista começou por notar que a evolução deste armamento foi muito rápida, contrastando, por exemplo, com a produção dos mísseis KH-32, um projeto russo dos anos 80 que só foi concluído em 2016. Mas esta não é a única questão que suscita dúvidas, a falta de relatórios sobre falhas também um fator incomum.
“Parece não ter havido relatos de falhas na fase de testes, o que é incomum numa nova arma, especialmente uma tão complexa como um míssil cruzeiro hipersónico. Se o míssil tivesse passado por um processo rigoroso antes de ser lançado, seria esperado um período de desenvolvimento mais longo com mais falhas“, aponta.
Kaushal refere ainda que algumas das imagens divulgadas pelas autoridades russas sobre os testes aos mísseis Zircon foram desmentidas, sendo identificados na verdade os P-800, seus predecessores.
Embora capazes contra sistemas de defesa e lançados de plataformas letais como [os submarinos] de classe Yasen, algumas das limitações físicas devem ser tidas em conta. Não são necessariamente um Wunderwaffen [arma maravilha]”.
O investigador do RUSI também tem dúvidas quanto às especificidades da arma, tão elogiadas pelas autoridades russas. “Se acreditarmos na palavra de Putin, [os mísseis Zircon] têm a capacidade de carregar uma ogiva de 300 Kg a uma velocidade de mach 9 por até 1.000 Km. À primeira vista isto parece altamente questionável”, refere. “Embora permaneçam certas incógnitas em relação à eficácia de combate do Zircon, no geral é mais provável que não seja uma capacidade operacional, como afirmam os russos“.
A Rússia, a China e os Estados Unidos estão numa corrida para desenvolver armas hipersónicas, vistas como uma vantagem perante os adversários devido à sua velocidade. Os mísseis zircon foram desenvolvidos para equipar as fragatas e submarinos russos, podendo ser usados contra navios inimigos ou alvos terrestres.
Segundo o Presidente Vladimir Putin, estes mísseis vão dar à Rússia a capacidade de atacar “centros de decisão” numa questão de minutos. Juntamente com o sistema Avangard, que entrou ao serviço em 2019, os Zircon são uma peça central do arsenal russo hipersónico.
Zircon, o novo míssil hipersónico russo que viaja a nove vezes a velocidade do som
Os mísseis russos equipam agora a fragata Almirante Gorshkov, que no início do mês passado partiu da Rússia. Em exercícios na parte ocidental do Oceano Atlântico a marinha russa já treinou o lançamento dos Zircon através de uma simulação de computador, simulando o seu uso com um alvo a mais de 900 quilómetros. A embarcação segue agora a caminho para participar em exercícios navais conjuntos com a África do Sul e a China em fevereiro.