A Tesla é um fabricante norte-americano de veículos eléctricos que consegue coleccionar detractores com tanta facilidade como os fãs que se mobilizam na defesa acérrima da marca liderada por Elon Musk. Ser “contra” a Tesla não é nada de novo, já estar na disposição de gastar uma fortuna para denegrir a marca é praticamente inédito. Mas foi isso que aconteceu no Super Bowl, onde cada publicidade de 30 segundos obriga a um investimento próximo dos 7 milhões de dólares, com a exibição de um anúncio cujo conteúdo visaria expor as falhas do sistema de condução semiautónoma da Tesla. Esta luta (aparentemente) pessoal não é de agora e tem como rosto Dan O’Dowd, um bilionário californiano.

Conforme já aqui lhes mostrámos, o intervalo do evento desportivo mais mediático do mundo é uma montra global disputada, em dinheiro e em criatividade, apenas por grandes marcas. Mas Dan O’Dowd conseguiu entrar na liga dos grandes e fazer passar a sua mensagem que, de uma forma resumida, se concentra em evidenciar pretensos erros na tecnologia que a marca norte-americana apelida de Full Self-Driving (FSD), o que se pode traduzir livremente por “condução autónoma total”.

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No entanto, convém ter presente que FSD é apenas um nome comercial e não mais que isso, da mesma forma que a Tesla optou por denominar o conjunto dos seus sistemas avançados de assistência à condução por “Autopilot”, ou a Porsche entendeu chamar Turbo a algumas versões do seu Taycan, que é 100% eléctrico e sem vestígios de qualquer turbocompressor. Mas nem o FSD nem o Autopilot podem ser confundidos com sistemas de condução autónoma de nível 5, isto é, que no extremo podem nem sequer ter pedais ou volante, pois o software, apoiando-se no hardware embarcado, assume o lugar e a responsabilidade do condutor.

Não há quem esteja a desenvolver a condução autónoma que não reconheça que o software é essencial para que a tecnologia de condução autónoma possa realmente salvar mais vidas do que pregar sustos ou provocar acidentes. Dá-se o caso de Dan O’Dowd ser o dono de uma empresa de software que, entre outros ramos, tem uma área especializada no desenvolvimento dos chamados sistemas avançados de assistência ao condutor (Advanced Driver Assistance Systems – ADAS). Coincidência ou não, a Green Hills Software de que O’Dowd é proprietário incorporou tecnologia nos sistemas da Mobileye, empresa israelita que chegou a ser fornecedora da Tesla, mas só até 2016…

Dan O’Dowd diz-se defensor da segurança rodoviária e assume como causa própria gerar tanto ruído à volta do sistema semiautónomo da Tesla até que este acabe por ser banido. Alegadamente, é com esse fito que alimenta a sua página no Twitter, assumindo nesta rede social (que pertence ao maior accionista da Tesla) que lidera uma campanha contra a tecnologia de assistência à condução da marca norte-americana. Depois de pagar anúncios de página inteira no prestigiado The New York Times, agora Dan O’Dowd deu o “salto” para o Super Bowl.

Segundo o LA Times, Dan O’Dowd  pagou os 7 milhões de dólares “oficiais”, tendo entretanto surgido um porta-voz a avançar que o Dawn Project investiu no anúncio 598.000 dólares, cerca de 560.000€. Mas não é evidente se esta verba diz respeitoa ao investimento total ou apenas à produção e realização do spot anti-Tesla. O certo é que foi movimentado muito esforço e muito dinheiro para deitar abaixo o FSD. Pelo menos, aos olhos das pessoas que vivem nos estados em que o filme foi exibido, designadamente Washington DC, Austin (onde a Tesla está sediada), Tallahassee, Florida, Albany, Nova Iorque, Atlanta, Georgia e Sacramento. E também no YouTube, no canal do Dawn Project, é possível ver um Model 3, supostamente com FSD, que alegadamente não reconhece peões, obras, nem sinais de trânsito, cilindrando carrinhos de bebé e atropelando um peão no que parece ser uma estrada secundária.

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A estocada final deste conteúdo publicitário é acusar a Tesla de fazer “publicidade enganosa” ao FSD e descrever o sistema como uma lamentável demonstração de fraca engenharia, o que leva o Dawn Project a chegar ao ponto que pretende, questionando como é que a NHTSA, a autoridade norte-americana de segurança rodoviária, permite isso. A resposta é relativamente simples: é um opcional ainda em fase de testes beta. Por outras palavras, só o paga quem quer (e custa 15.000$) e só o usa quem quer. Mas em circunstância alguma tal exime o condutor de ser responsável pelo veículo. E este está necessariamente limitado pela legislação de cada país, sendo certo que o sistema só pode ser accionado onde tal é legalmente possível e as condições de circulação o permitam.

Forme a sua própria opinião, vendo os dois vídeos abaixo, o primeiro com o anúncio e o segundo mais explicativo do que é o FSD. Musk já manifestou o que pensa deste tema, reagindo com um emoji a chorar a rir…