Depois de uma manhã e tarde dedicadas a aprovar em Conselho de Ministros e a apresentar medidas para a habitação, o primeiro-ministro deu uma entrevista à TVI onde voltou ao tema, não ficando por aí. Também falou da atual situação política, tendo sido confrontado com as declarações de Cavaco Silva sobre a mesma. O antigo Presidente disse que a “situação política de Portugal é, neste momento, muito perigosa”, mas para Costa o que é perigoso é a aproximação entre PSD e Chega.

A resposta a Cavaco veio, assim, em forma de ironia: “Se a preocupação de Cavaco Silva é ver pessoas da direita democrática e designadamente do seu partido [PSD] ficarem condicionadas pela ação do Chega, também acharia perigoso. Eu acho perigoso”, atirou.

O socialista diz estar “preocupado” com essa aproximação, no entanto, também garante ter “a profunda convicção de que o PSD profundo, o eleitorado do PSD, nunca consentirá uma deriva que o leve a absorver ou a deixar-se contaminar pelas ideias do Chega, e que o Chega lá continuará no seu cantinho, devidamente acantonado, como deve estar”. Sobre toda esta situação e ainda em resposta a Cavaco, Costa declarou: “Se fosse do PSD, acharia ainda mais perigoso e, portanto, percebo que ele ache isso perigoso”. O tiro também apontava a Luís Montenegro.

Aliás, na entrevista, Costa aproveitou para tocar nas declarações do líder do PSD, mas também do presidente da Câmara de Lisboa, sobre a imigração e as condições que defendem que devem ser impostas. O líder socialista não disse os nomes de Montenegro ou de Carlos Moedas, mas disse estar “um pouco preocupado” ao ver “alguns líderes partidários do PSD a fazerem certos comentários sobre imigração”. Recusou “pôr tudo em causa” porque houve um problema, referindo-se ao incêndio da Mouraria.

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“Houve um problema, é gravíssimo — perda de vidas humanas, falta de condições de habitabilidade –, é obviamente necessário reforçar as fiscalizações da Proteção Civil, as fiscalizações das condições de habitabilidade e, sobretudo, acelerar a execução dos investimentos que estão previstos”, argumentou.

A entrevista visou sobretudo as medidas que Costa tinha estado a apresentar durante duas horas no Palácio da Ajuda, durante a tarde. Sobre essa parte, o primeiro-ministro justificou que este pacote tivesse chegado apenas agora porque “o problema da habitação agravou-se muito rapidamente“.

Além disso, detalhou algumas medidas mais polémicas, garantindo que o arrendamento compulsivo não significa o “Estado a entrar pela casa adentro”. “A pessoa pode dizer que não”, afirmou Costa, que detalhou que a posse administrativa do imóvel devoluto só se coloca “se ao fim de x anos as pessoas não colocarem a casa no mercado de arrendamento”.

Quanto a problemas de constitucionalidade que algumas destas medidas possam vir a levantar, o primeiro-ministro argumentou a favor da legalidade das mesmas. “Não creio” que possam ser inconstitucionais, respondeu.

O primeiro-ministro ainda falou na inflação e, cauteloso sobre previsões, arriscou dizer que “o mais provável é que inflação prossiga trajetória de desaceleração”. Já sobre medidas adicionais, Costa diz que existe reserva mas não aponta esse caminho. Questionado especificamente sobre uma descida do IVA ou mesmo a eliminação deste imposto quando cobrado nos alimentos básicos, como aconteceu em Espanha, Costa rejeitou ir por aí.

O primeiro-ministro diz que tem “acompanhado com atenção” a redução em Espanha. “As notícias que vêm de Espanha são que a redução imediata do preço com a redução do IVA foi rapidamente compensada pelo aumento das margens da comercialização”. “Não estou convencido, para ser sincero. Temos de ter tudo na equação, mas seguir com atenção e ir aprendendo com os outros”, respondeu sobre uma medida dessa natureza.

Também foi cauteloso a rejeitar que o Governo possa voltar a passar por um tumulto como o que aconteceu nos últimos meses, que resultou em várias saídas. “Nem um tanque com um maior grau de blindagem está livre de incidentes”, diz sobre a possibilidade de futuros casos.

“Foram incidentes lamentáveis que foram corrigidos. Não são mais do que isso”, defendeu, rejeitando que exista “desorientação” no Governo. “Desorientação é uma palavra que não podemos empregar”, isso aconteceria, diz, se existisse “instabilidade nas políticas”.

Sobre a contestação das ruas e as greves, rejeitou qualquer associação das mesmas aos antigos parceiros de governação, PCP e Bloco de Esquerda, e voltou a rejeitar que os professores possam recuperar todo o tempo de carreira que foi congelado: “Não vejo que país tenha condições para acrescentar 1.300 milhões de despesa permanente”. E justifica a insatisfação geral com o atual momento económico:  “Só com um milagre os portugueses podiam fazer avaliação positiva neste contexto de pico inflacionista.”