Morreu Richard Belzer, o ator americano que entre 1993 e 2016 deu vida ao célebre detetive John Munch.
Apesar de ser mais recordado pela série “Lei e Ordem: Unidade Especial”, em que deu vida ao personagem entre 1999 e 2016, Belzer foi Munch pela primeira vez sete anos antes, na série da NBC “Departamento de Homicídios”. O sucesso do personagem, baseado num detetive real, de Baltimore, foi tal que, quando a série foi cancelada (e por muito que a mulher do ator tivesse ido a correr buscar uma garrafa de champanhe, para brindarem ao fim do polícia), John Munch não morreu — em vez disso, mudou de programa.
“O detetive John Munch, de Richard Belzer, é um dos personagens icónicos da televisão”, disse este domingo Dick Wolf, criador de “Lei e Ordem: Unidade Especial” à americana Variety. “Trabalhei pela primeira vez com o Richard no crossover ‘Lei e Ordem’/’Departamento de Homicídios’ e gostei tanto da personagem, que disse ao Tom [Fontana, argumentista] que queria fazer dele uma das personagens originais da ‘Unidade Especial’. O Richard trouxe humor e alegria a todas as nossas vidas, foi um profissional de mão cheia e todos vamos sentir muito a falta dele”.
I'm so sad to hear of Richard Belzer's passing. I loved this guy so much. He was one of my first friends when I got to New York to do SNL. We used to go out to dinner every week at Sheepshead Bay for lobster. One of the funniest people ever. A master at crowd work. RIP dearest. pic.twitter.com/u23co0JPA2
— Laraine Newman (@larainenewman) February 19, 2023
O sucesso do personagem foi tal que John Munch não ficou sequer circunscrito a estas duas séries. Em vários cameos do personagem, em vez de do ator, Belzer chegou a ter um fantoche na “Rua Sésamo” e entrou em episódios de “Ficheiros Secretos”, “The Wire”, “Arrested Development”, “Rockfeller 30” e, mais recentemente, “Unbreakable Kimmy Schmidt”.
“Nunca pedi a ninguém para aparecer nos programas deles. Por isso, para mim, é duplamente lisonjeiro ver-me ser representado num guião e saber que me reconhecem e que gostam tanto de mim como o detetive sarcástico e espertalhão”, disse Belzer numa entrevista em 2008, citada agora pelo Hollywood Reporter.
Muito antes de ser Munch, Richard Belzer já era famoso. Começou como comediante e rapidamente alcançou um lugar no mítico Saturday Night Live — mas como o humorista responsável por aquecer a plateia antes de o programa, no ar desde 1975, começar a sério. Mais tarde, participou inúmeras vezes no formato, por onde passaram estrelas como Bill Murray, Eddie Murphy, Dan Ackroyd, Will Ferrel, Tina Fey, Amy Pohler ou Pete Davidson.
No cinema, em que se estreou em 1974, com a sátira “The Groove Tube”, ao lado de Ken Shapiro e Chevy Chase, Belzer teve o ponto alto em 1983 — não fez de detetive sarcástico, mas de humorista sem nome em “Scarface, A Força do Poder”, o clássico em que Al Pacino diz a palavra “fuck” 182 vezes.
Curiosamente, um dos momentos mais marcantes da carreira de Richard Belzer foi involuntário. Aconteceu em 1985, quando as super estrelas do wrestling Hulk Hogan e Mr. T foram convidadas para ir ao programa Hot Properties, que o comediante apresentava.
Depois de muita insistência de Belzer, Hogan deixou-se convencer e lá exemplificou nele um dos golpes que usava nos espetáculos da WrestleMania. Em poucos segundos, o humorista desmaiou e bateu com a cabeça no chão — o estrondo foi audível e a comoção do público também. No fim, e depois de ter assegurado no episódio da semana seguinte que nada daquilo tinha sido combinado, o humorista, que ficou mesmo K.O. durante segundos, acabou a processar o famoso lutador e a exigir-lhe 5 milhões de dólares por danos pessoais.
Nascido em Bridgeport, no estado americano do Connecticut, em agosto de 1944, Richard Jay Belzer vivia há alguns anos em França, com a mulher, a também atriz de “Departamento de Homicídios” Harlee McBride.
Foi lá, na casa onde moravam em Bouzols, comuna na região da Occitânia — e que compraram com a indemnização que Hulk Hogan foi obrigado a dar-lhe —, que o ator e humorista morreu, na madrugada deste domingo, 19 de fevereiro. Tinha 78 anos e, segundo revelou o escritor Bill Scheft, seu amigo, ao Hollywood Reporter, “tinha muitos problemas de saúde”.