A lista com os nomes dos alegados abusadores de crianças na Igreja Católica que ainda se encontram no ativo vai ser entregue à Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) e à Procuradoria-Geral da República (PGR) esta sexta-feira, dia 3 de março, num dia em que os elementos da comissão independente se vão reunir com os bispos portugueses, com a PGR e também com as ministras da Justiça e da Solidariedade Social.

A informação foi confirmada esta quarta-feira num comunicado enviado aos jornalistas pela comissão independente que ao longo do último ano estudou o fenómeno dos abusos sexuais de crianças no contexto da Igreja Católica, um grupo liderado pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, que também contou com a participação do psiquiatra Daniel Sampaio, da socióloga Ana Nunes de Almeida, do ex-ministro da Justiça Álvaro Laborinho Lúcio, da assistente social Filipa Tavares e da cineasta Catarina Vasconcelos.

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A próxima sexta-feira ficará marcada por uma reunião extraordinária da Assembleia Plenária da CEP, o organismo que reúne todos os bispos católicos portugueses. A reunião decorre em Fátima entre as 10h e as 17h e tem como único ponto de agenda a análise e discussão do relatório produzido pela comissão independente, que foi apresentado publicamente em fevereiro.

Para as 18h de sexta-feira está marcada uma conferência de imprensa, na qual o presidente da CEP, o bispo D. José Ornelas, deverá comunicar os resultados da reunião e possivelmente anunciar medidas que a Igreja pretende tomar em resposta ao relatório — uma delas poderá ser a criação de uma bolsa de psicólogos e psiquiatras para prestar apoio gratuito às vítimas de abuso.

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Os seis elementos da comissão independente vão deslocar-se a Fátima da parte de manhã, “a pedido da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), para esclarecimentos sobre o relatório efetuado e recomendações sugeridas à Igreja, entregando também, e por Dioceses, a lista nominal dos alegados abusadores referenciados pelas vítimas, realizada em conjunto a partir dos dados obtidos pelo seu trabalho bem como pelo Grupo de Investigação Histórica”, diz o comunicado.

“Da parte da tarde, entregam à Procuradoria Geral da República idêntica lista (apenas de quem ainda se encontra no ativo) para conhecimento do Ministério Público”, esclarece o grupo liderado por Pedro Strecht. “Reúnem-se posteriormente com as Ministras da Justiça e da Solidariedade Social, a pedido destas e a propósito das recomendações dirigidas à sociedade civil que, de igual modo, constam no referido relatório.”

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O relatório final da comissão independente foi conhecido em 13 de fevereiro, após uma investigação que durou mais de um ano, e os seus resultados permitiram, pela primeira vez, traçar um retrato do que poderá ter sido a realidade dos abusos de crianças no contexto da Igreja Católica em Portugal.

A comissão recebeu 512 testemunhos válidos de situações de abuso, a partir dos quais estimou uma rede de 4.815 potenciais vítimas de abusos entre 1950 e 2022.

No dia em que o relatório foi apresentado, a comissão independente revelou também que pretendia entregar à CEP e à PGR uma lista dos alegados abusadores que foram identificados pelo nome nos testemunhos e que ainda estavam em funções. Esta lista deverá ter pouco mais de 100 nomes.

Leia aqui o relatório completo sobre os abusos na Igreja