Dificilmente a Red Bull poderia pedir um arranque melhor de temporada no Bahrain. Sim, é verdade que os treinos e até a antecâmara do primeiro fim de semana de corrida pareciam abrir uma pequena esperança às restantes equipas de colocarem em causa o domínio da campeã mundial de construtores. No entanto, da qualificação à própria corrida, foi mais do mesmo: Max Verstappen ganhou a pole position, Sergio Pérez foi o segundo mais rápido, ambos conseguiram fazer 1-2 na prova beneficiando de mais um dia para esquecer de Charles Leclerc. Ou seja, só boas notícias. As melhores possíveis mas com uma nuance olhando para tudo o resto – a forma como a Aston Martin conseguiu chegar ao pódio depois de uma época onde teve como melhor resultado três sextos lugares (Vettel no Azerbaijão e no Japão, Lance Stroll em Singapura).

Max ganhou no Bahrain, Alonso está aí para as curvas e o ‘safety car’ já não é o Aston Martin mais rápido

“É certo que o que [Dan] Fallows tinha na cabeça não pode apagar. A cópia não está proibida mas como é que podes copiar tão detalhadamente sem teres a documentação do nosso carro? Tivemos três Red Bull no pódio, só que o último tem um motor diferente. Eu disse ainda antes da corrida que o [Fernando] Alonso seria terceiro. A luta com Hamilton foi incrível. Foi um duelo duro mas justo. Algo ao nível da velha escola. Se o Fernando tivesse largado mais à frente, seguramente que tinha sido uma ameaça para nós”, comentou à Servus TV o principal consultor da Red Bull, Helmut Marko. Nova rivalidade à vista?

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Ainda é cedo para chegar a essa conclusão mas perante as falhas da Ferrari disfarçadas pelo quarto lugar de Carlos Sainz e a diferença dos Mercedes (a Alpine esteve mal, a McLaren foi a pior), a Aston Martin surge como uma potencial rival da formação austríaca. E tudo por “culpa” das movimentações do mercado no último defeso, com alguns elementos que transitaram da estrutura da Red Bull para o conjunto britânico. Há aliás uma imagem importante contada pelo El Mundo esta segunda-feira: Adrian Newey, o engenheiro considerado por todos um génio que desenha os carros vencedores da marca campeã, andou a passear com um pequeno caderno perto de vários carros antes da corrida e só não tirou notas sobre… a Aston Martin.

Dan Fallows é o nome de quem todos falam e por razões lógicas: o antigo chefe da aerodinâmica da Red Bull até 2022 está agora na equipa britânica, sendo a figura mais importante entre outras contratações feitas pela Aston Martin para esta temporada. Para a Red Bull, o carro que levou Fernando Alonso ao pódio e Lance Stroll à sexta posição tem o modelo do RB19 a ser decalcado para o AMR23. E isso é proibido? Não. Até porque Fallows e restantes elementos que se mudaram tiveram o período de gardening cumprido, com seis meses sem trabalhar em qualquer equipa como está previsto nas regras. É por isso que Marko vai mais longe no seu pensamento, dizendo que a memória ajudaria a fazer uma recriação do carro de sucesso mas que os detalhes que estão no monolugar teriam de ser preparados com acesso a toda a documentação.

“Eles [Aston Martin] foram muito fortes na corrida. Foi muito divertido ver o Fernando [Alonso] lá em cima com os seus 40 e poucos anos. Com base nos resultados desta corrida, diria que eles agora são a segunda equipa mais forte. Acho que isso demonstra também a todas as equipas que é possível escapar ao meio do pelotão. Saída de Dan Fallows? Acho que temos uma equipa maravilhosa, com tudo para evoluir. É de certa forma lisonjeiro ver as semelhanças do carro com o nosso. Dizem que a imitação é a melhor forma de lisonjear e é bom ver um carro velho a andar tão bem”, ironizou o chefe da equipa, Chris Horner.

Naquele que pode ser um ano de viragem na Fórmula 1, a Aston Martin quase duplicou o tamanho da equipa em relação a 2022 passando de 400 para 700 funcionários e está a concluir a sua nova fábrica com tecnologia de ponta perto do circuito de Silverstone. Assim, e para já, continua a trabalhar nas instalações que foram da Force India, utilizando o túnel de vento da Mercedes com todo o sucesso demonstrado no Bahrain. “O Adrian [Newey] tem uma capacidade de foco única, sempre centrado nos mais pequenos detalhes. Não tem qualquer tipo de arrogância, é aberto e respeita qualquer comentário, venha de onde viver. As equipas técnicas devem ser abertas, apesar de teres uma ideia clara sobre como deve ser o carro deves estar disponível para ouvires qualquer pessoa porque podes melhorar o registo”, comentou Dan Fallows.

Também a Mercedes mostrou alguns sinais de preocupação perante um adversário capaz de colocar-se no meio da luta pelo pódio. “Eles ganharam dois segundos em meio ano e o carro deles é metade do nosso. O motor, a caixa de velocidade, a suspensão traseira, até o túnel de vento… Não acho que este pacote seja competitivo e precisamos agir juntos. Problema? A aerodinâmica. Acho que a Aston Martin mostrou como isso deve ser feito e fizeram uma redefinição total do seu conceito. Encontraram o caminho certo. Cada dia que passa conta e agora estamos a a perder esses dias. Nós no passado errámos, pensámos que podíamos corrigir isso mantendo o conceito do carro mas não resultou. Somos competitivos contra Ferraris, não somos contra [Fernando] Alonso e muito menos com a Red Bull”, admitiu Toto Wolff, chefe de equipa da Mercedes.