A Organização Mundial de Saúde considerou o terramoto que atingiu a Turquia e a Síria em 6 de fevereiro “o pior desastre natural num século na Europa”, deixando mais de 50 mil mortos.

Um mês depois do sismo de magnitude 7,8 na escala de Richter — seguido de várias réplicas, incluindo uma de magnitude 7,6 —, milhões de turcos sofrem as consequências do desastre natural, nomeadamente com cidades em ruínas, pessoas a viver em tendas e outras que ainda procuram os seus familiares.

O terramoto provocou a morte de quase 46.000 pessoas e feriu 105.000 na Turquia, de acordo com relatórios parciais.

Também destruiu ou arruinou 214.000 edifícios, às vezes com mais de 10 andares, em 11 das 81 províncias da Turquia. Quase 6.000 pessoas também perderam a vida na Síria, segundo as autoridades daquele país.

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Cidades turcas nas províncias de Kahramanmaras — perto do epicentro — e Hatay, na fronteira com a Síria, foram devastadas, obrigando as autoridades a enterrar às pressas milhares de pessoas em cemitérios improvisados em campos e na floresta.

As autoridades turcas estimam que 14 milhões de pessoas foram afetadas pelo sismo, ou um sexto da população.

Cerca de 3,3 milhões de pessoas tiveram que deixar as áreas afetadas, segundo o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. Quase dois milhões de pessoas vivem atualmente em tendas ou em contentores.

Mais de 13.000 tremores secundários foram registados num mês, mantendo o pânico no país, localizado numa das zonas sísmicas mais ativas do mundo.

O Presidente Erdogan reconheceu os atrasos, culpou “o efeito devastador dos tremores e do mau tempo” e pediu desculpas aos sobreviventes.

Vários processos judiciais foram iniciados contra 997 pessoas envolvidas na construção dos edifícios que ruíram após o terramoto e 247 destas foram detidas, incluindo várias que tentavam fugir da Turquia.

O terramoto devastador e as suas réplicas causaram danos no valor de mais de 34 mil milhões de dólares (32 mil milhões de euros), ou 4% do Produto Interno Bruto (PIB) turco, estimou o Banco Mundial no final de fevereiro.

Erdogan prometeu construir, “dentro de um ano”, mais de 450.000 casas com padrões antissísmicos e anunciou o pagamento de 100.000 liras turcas (cerca de 5.000 euros) aos familiares dos mortos na tragédia.

Quase um milhão de pessoas afetadas pelo terramoto já receberam ajuda de 10 mil libras, ou 500 mil euros no total, anunciou na quarta-feira o chefe de Estado turco.

De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), mais de 850.000 crianças continuam deslocadas depois de terem sido forçadas a abandonar as suas casas danificadas ou destruídas na Turquia e na Síria.

Para a Turquia, o UNICEF lançou um apelo de 196 milhões de dólares (184,3 milhões de euros) para apoiar três milhões de pessoas, incluindo 1,5 milhões de crianças. Para a Síria o Fundo necessita de 172,7 milhões de dólares (162,6 milhões de euros) para prestar apoio imediato vital a 5,4 milhões de pessoas, incluindo 2,6 milhões de crianças.

Na Síria, os sismos agravaram a situação humanitária no país, onde as famílias afetadas enfrentam a pobreza crescente e a ajuda internacional continua a ser insuficiente um mês após a catástrofe, alertaram esta segunda-feira várias organizações não-governamentais (ONG).

Mesmo antes de 6 de fevereiro, muitos menores corriam o risco de abandonar a escola devido aos efeitos dos quase doze anos de guerra e da grave crise económica que a Síria atravessa, onde cerca de 90% da população vive abaixo do limiar da pobreza, segundo dados da ONU.

“Existe um risco real de, sem apoio adicional, mais crianças abandonem a escola porque as suas famílias terão que tomar a difícil decisão de mandá-las para o trabalho ou optarem pelo casamento infantil”, alertou Kathryin Achilles, da ONG Save the Children.

O Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC) alertou, num comunicado, que o financiamento para ajudar os afetados na Síria “não é suficiente” para cobrir as suas necessidades “imediatas”, já que a ONU recebeu menos da metade dos 400 milhões de dólares necessários e doações para as ONG são “lentas e inadequadas”.

No caso das áreas do noroeste do país, que estão nas mãos da oposição, a entrega de ajuda humanitária foi cercada de polémica desde o início, já que a região só recebeu o seu primeiro comboio das Nações Unidas quatro dias após o terramoto.

Para o responsável para o Médio Oriente da Refugees International, Jesse Marks, a resposta nestas áreas das províncias de Idlib e Aleppo ainda representa um “fracasso inaceitável” um mês depois do sismo.