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Os maiores sucessos de Máximo num piano que começou agora a tocar

Este artigo tem mais de 1 ano

Aos 19 anos, o pianista português lança um primeiro disco de originais a que chamou "Greatest Hits". Uma seleção pessoal, feita de memórias e paisagens sonoras, que apresenta ao vivo no Lux no dia 9.

"Podia dizer que só devia ter feito este disco quando acabasse os estudos, mas ao mesmo tempo se pensasse assim – e que no futuro seria melhor – nunca iria lançar um álbum", diz-nos
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"Podia dizer que só devia ter feito este disco quando acabasse os estudos, mas ao mesmo tempo se pensasse assim – e que no futuro seria melhor – nunca iria lançar um álbum", diz-nos

André Cepeda

"Podia dizer que só devia ter feito este disco quando acabasse os estudos, mas ao mesmo tempo se pensasse assim – e que no futuro seria melhor – nunca iria lançar um álbum", diz-nos

André Cepeda

Em junho de 2013, Máximo Francisco fazia 10 anos de idade. Foi quando decidiu participar no Chefs Academy Kids, programa da RTP dedicado a (muito) jovens aspirantes no mundo da cozinha. Entre as pequenas ambições que já tinha então estava também a música, que fazia parte do seu dia-a-dia desde os seis. Foi também nesse ano que compôs o tema para piano “Mártires”, inspirado no local onde cresceu, o Campo dos Mártires da Pátria, em Lisboa. Mal sabia nessa altura que, uma década depois, a mesma composição faria parte do seu álbum de estreia, Greatest Hits, uma edição de autor que o músico apresenta ao vivo esta quinta-feira, dia 9 de março, no Lux Frágil, em Lisboa.

Com um lado melancólico e sensível bem patente nas 12 faixas de Greatest Hits, este primeiro registo discográfico reúne uma seleção pessoal e sincera de músicas compostas entre os 9 e os seus atuais 19 anos de idade. Um percurso feito de memórias, transformadas em paisagens sonoras, que tanto transpiram erudição e um lado jazzístico sereno e notívago, como uma face mais emocional e íntima, mapeada pelos silêncios e pelas suspensões expressivas, atentas ao tempo e ao espaço que as rodeiam. Sustentado por um período antológico, o pianista diz tratar-se de um reflexo sobre o que foram os últimos dez anos na sua vida. “Um tempo considerável (…) de alegria, brincadeira, medo, amor, incerteza, contemplação, saudades de casa, desilusão, esperança, confinamento, confusão, autoconsciência, morte, nascimento e renascimento refletidos em músicas para piano”, como escreveu a propósito deste seu primeiro registo discográfico.

[ouça quatro temas do álbum “Greatest Hits”, de Máximo, através do Spotify:]

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De forma desassossegada, explica que decidiu chamar ao disco Greatest Hits, mas não por uma qualquer imagem presunçosa de si mesmo. É, como diz, um disco de partida com título de chegada a um momento de catarse: a primeira expressão formal materializada em álbum, que surge quase “tão natural e instintivamente” como aprendeu “a falar ou nadar”. “Já queria fazer o disco há cerca de três anos, porque sentia que tinha um conjunto de temas que gostava de partilhar. Por outro lado, senti que era importante fazê-lo antes dos vinte quase como forma de fechar um primeiro capítulo.” Entre sopros de luz, memória e sentimento, Máximo compõe narrativas pendulares que ganham forma através de linhas de piano que contam inevitáveis histórias de juventude, à qual regressamos através da melodia.

Um disco de Herbie Hancock e o piano de Bill Evans

Nascido em Coimbra, em 2003, Máximo veio cedo para Lisboa com a família, onde começou a estudar violoncelo na Academia de Amadores de Música. Mas foi um simples “sintetizador comprado na Feira da Ladra” oferecido pelo pai que o despertou para as teclas e para um lugar inusitado de criação sonora mais desprendida. “Assim que acordava, tudo o que queria era criar pequenas melodias no sintetizador e foi nessa altura que os meus pais acharam que era mais acertado eu começar a estudar piano”, conta ao Observador. Iniciou aí o seu percurso na Escola Artística de Música do Conservatório Nacional, onde terminou o ensino secundário nos cursos de Piano e Composição.

“Sempre tive curiosidade por criar sons e no piano encontrei essa oportunidade. No conservatório aprendi os clássicos, mas sempre que chegava a casa ia estudar e ouvir outros sons"

André Cepeda

“Ao contrário do violoncelo, no piano senti que havia mais para explorar”, explica. Ainda assim, o ensino mais clássico que aprendeu no conservatório não correspondia exatamente aos temas que ia compondo em casa. Pelo meio foi participando em diferentes projetos, um deles como convidado de Xinobi, num concerto no Centro Cultural de Belém, em que o produtor e músico português reuniu diversos artistas nacionais, mais ou menos emergentes, para apresentar as músicas do seu álbum On the Quiet.

A ligação ao mundo da música, mas de outros universos artísticos, não deixou nunca de estar presente. Participou no filme “Uma Breve História da Princesa X”, de Gabriel Abrantes, e conheceu diversos artistas, como o fotógrafo André Cepeda, que assina a imagem de capa do disco, mas também a dupla de artistas João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira, que irão apresentar um dos videoclipes de Greatest Hits. Entre as muitas influências e recordando um período de crescimento e exploração, Máximo destaca a importância do álbum Maiden Voyage (1965) de Herbie Hancock, bem como dos muitos registos do pianista norte-americano Bill Evans. “Foram duas influências essenciais, que se mantêm muito presentes em mim.”

“Greatest Hits” de uma carreira no início

Mais recentemente, e quando chegou a altura de deixar o conservatório, procurou alternativas ao ensino mais clássico. “Queria um sítio onde compor partisse da minha iniciativa e onde pudesse livremente explorar outros géneros musicais”. Tentou a sorte e entrou na Codarts Rotterdam, nos Países Baixos, onde frequenta atualmente a licenciatura em composição de jazz. “Sempre tive curiosidade por criar sons e no piano encontrei essa oportunidade. No conservatório aprendi os clássicos, mas sempre que chegava a casa ia estudar e ouvir outros sons. Nesta escola tenho tido a oportunidade de ir mais longe”, salienta.

“Não estou preocupado em sobressair, quero fazer a minha música e tirar o melhor de mim. Só espero poder continuar"

André Cepeda

De regresso a este disco, e como fechar de um capítulo, Máximo apresenta os Greatest Hits de uma carreira que, afinal de contas, ainda não começou. Na lógica inversa, sugere que se trata de atrevimento perpendicular a todo o seu percurso que lhe tem aberto portas e contribuído para aprofundar a ligação entre a sua música e outros universos culturais, encontrando palcos que privilegiam o diálogo sobre o monólogo, criativo e performativo. “Podia dizer que só devia ter feito este disco quando acabasse os estudos, mas ao mesmo tempo se pensasse assim – e que no futuro seria melhor – nunca iria lançar um álbum. A vida de um músico ou de um compositor é de crescimento constante, espero eu, por isso era algo que iria surgir fosse qual fosse a altura. Sinto que estes temas estavam aptos para um disco e foi isso que fiz”, sustenta.

Entre os temas de Greatest Hits há títulos sugestivos que não deixam de suscitar uma reflexão para o seu futuro. Se por um lado existe um “big Bang”, como tema de abertura, há também “neblina”, “reflexão”, “supernova” e “home”, mesmo que ainda não tenha a certeza se é a casa e a Portugal que pretende regressar depois deste período em Roterdão. “Quero sim que o piano nunca deixe der um projeto a solo meu para sempre. Quero trabalhar num ensemble como compositor e gostava de compor bandas sonoras de filmes.” Com apenas 19 anos, Máximo não deixa de evidenciar uma destreza e maturidade, que sobressai neste trabalho, “íntimo e introspetivo”, como o descreve, mas também na forma como olha para o futuro e nas suas ambições. A sua linguagem é musical. “Não estou preocupado em sobressair, quero fazer a minha música e tirar o melhor de mim. Só espero poder continuar.”

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