Marcelo Rebelo de Sousa não “percebeu” as “reticências e dúvidas” dos partidos de direita sobre a participação de Lula da Silva nas comemorações do 25 de Abril. Para o Presidente da República, “fazia sentido” que o homólogo brasileiro estivesse presente e interviesse numa sessão sobre “descolonização, liberdade e democracia”.

[Ouça as declarações do Presidente da República na reportagem da Rádio Observador]

Marcelo: Lula no 25 de Abril “é a coisa mais natural do mundo”

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À saída de uma sessão em memória de Amílcar Cabral, esta quinta-feira, o Presidente da República mostrou estar em desacordo com a decisão do Parlamento. Isto porque, depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, ter anunciado ter convidado Lula para discursar na sessão solene do 25 de Abril e, perante os protestos da direita, Augusto Santos Silva adiantou que afinal o Presidente terá direito a uma sessão de boas vindas própria, e não falará no 25 de Abril.

Lula da Silva vem mesmo ao Parlamento, mas não vai falar nas comemorações do 25 de Abril

Aos jornalistas, Marcelo disse “respeitar o que outro órgão decidiu — está decidido” mas sem “perceber” as reticências, que foram levantadas por Chega (que promete protestar na rua contra a vinda de Lula), Iniciativa Liberal e PSD. “Acho que faz sentido. O 25 de Abril está muito ligado à descolonização. Houve um momento inicial, 200 anos antes, de descolonização [do Brasil]”.

Por isso, para Marcelo, “era a coisa mais natural do mundo que, falando-se em descolonização, liberdade e democracia, os povos e estados que resultaram desses sucessivos momentos possam intervir em celebrações da liberdade e democracia”.

Quanto a protestos que ainda possa haver — o Chega mantém essa intenção — também se mostrou em desacordo: “Quem vem a Portugal é o presidente do Brasil, de todos os brasileiros, não é o político Luíz Inácio Lula da Silva. Diria o mesmo de um outro presidente eleito pelos brasileiros, não é eleito pelos portugueses”. Lula, insistiu Marcelo, deve ser tratado com o mesmo “espírito” com que se tratam “os chefes de Estado dos países de língua oficial portuguesa e democráticos”.

Marcelo foi ainda questionado sobre o pacote de Habitação do Governo, que já aprovou algumas medidas nesta quinta-feira. “Os que forem urgentes terão um tratamento urgente à medida da necessidade“, prometeu. E, questionado sobre se poderá enviar alguns dos diplomas para o Tribunal Constitucional, falou antes na urgência de promulgar os primeiros: “Do que vi da lista de diplomas pareceu-me que eram os mais urgentes, portanto justificava porque é que Governo tinha avançado com eles, para produzirem efeitos na vida de muitos portugueses”.

O Presidente expressou também preocupação com a situação económica internacional e com os seus potenciais efeitos, numa referência à falência de bancos regionais nos Estados Unidos ou a preocupação com a situação do Credit Suisse. “Preocupo-me com a situação económica que se vive, não especificamente em Portugal, mas no mundo e com eco na Europa. Não podemos ser insensíveis ao que aconteceu a entidades bancárias norte-americanas e à sua repercussão em bancos no continente europeu e bolsas europeias, isso preocupa-me”, explicou.

O que também se junta a este cocktail de preocupações económicas é o aumento da inflação dos Estados Unidos e o risco da “continuação da política de subida de juros muito acentuada”, até porque “tudo somado” pode dificultar a saída da crise e a recuperação das economias.

“Esperemos que não”, acrescentou Marcelo, deixando um aviso: “Já vi noutros tempos garantir que as soluções encontradas para a crise eram sólidas e depois não era tão fácil encontrar soluções sólidas. Não escondo que esta evolução, nos EUA a nível regional, mas no continente europeu em bancos com peso internacional, isso não facilita a tarefa dos governos e da recuperação económica e pode significar persistência de fatores de crise. Os sinais de fora, inesperadamente, não são bons sinais”.