O economista Francisco Louçã criticou esta quinta-feira as medidas do BCE, considerando que são ineficazes e “tão disparatadas como um cão a correr atrás da sua cauda” e defendeu que “estava escrito nas estrelas” a crise no Credit Suisse.
Em entrevista à agência Lusa, que será divulgada na íntegra no domingo, o fundador e antigo coordenador do BE foi questionado sobre o anúncio do Banco Central Europeu (BCE) do aumento em 50 pontos base das taxas de juro, considerando que “esta estratégia fracassou porque ela devia responder à inflação”.
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“Estas medidas são tão disparatadas como um cão a correr atrás da sua cauda para a morder. O Banco Central Europeu anda à volta de si próprio, tomando medidas que não têm nenhum efeito. Não se registou até agora nenhum efeito significativo sobre a inflação e por uma razão que toda a gente compreende: a inflação foi provocada por uma guerra e por processos especulativos que a aproveitaram e a multiplicaram”, explicou.
De acordo com o economista, neste momento não se está a pagar só o custo da guerra, uma vez que a razão da inflação “é o facto de haver cadeias especulativas que são muito poderosas”, o que faz com que o aumento das taxas de juro seja “inútil e contraproducente“.
“O champanhe da guerra está a ser aberto nas administrações das empresas de distribuição e dos grandes potentados económicos que controlam o sistema de fornecimento de bens à população. São eles que empurram as dificuldades das famílias, que os governos e o Banco Central Europeu, na verdade, aceitam agravar com o aumento dos juros”, criticou.
Para Louçã, “há um efeito de tenaz, uma tesoura que está a atingir o poder de compra das populações sem qualquer efeito na inflação e com a certeza de um efeito grande sobre o empobrecimento”.
“Quando o governo português anuncia um observatório para observar os preços, só tem uma função de procurar enganar as pessoas que ouviram a notícia naquele momento, porque dificilmente, aliás, acreditarão que ela tem algum significado, alguma função”, criticou ainda.
Sobre a turbulência dos últimos dias no sistema bancário internacional, o economista defendeu que “desde a grande crise financeira de 2008, houve grandes alterações” protegeriam consumidores e depositantes, alertando, no entanto, que “há alguns esqueletos no armário”.
“A banca suíça desenvolveu-se sempre na base do segredo bancário, ou seja, na captação de fundos de branqueamento de capitais ou de manipulação ou de não pagamento de impostos”, referiu, concluindo que “estava escrito nas estrelas” esta crise no Credit Suisse.
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Louçã alertou que “há outros fatores que se têm vindo a agravar e esses são os piores”, dando como exemplo “as dificuldades” do Deutsche Bank ou dos bancos regionais na Alemanha, “um barril de pólvora dentro da Zona Euro e na sua principal economia”.
Para o antigo coordenador do BE, perante o aumento dos juros no crédito à habitação ou das rendas, a estratégia do Governo tem sido “aceitar essa inevitabilidade”, o que considera surpreendente tendo em conta os preços das casas em Portugal.
“As respostas fundamentais a esta pressão dos preços, no caso da habitação, são paliativos ligeiros, de curtíssimo prazo, de muito pouco efeito e sem nenhuma estratégia do ponto de vista do desenvolvimento do país. E quanto aos outros preços, é fechar os olhos e fazer bravatas sobre a grande distribuição que, evidentemente acumula lucros com a facilidade que tem neste contexto”, concluiu.